Volta ao Mundo em Filmes: Sudão – You Will Die at Twenty

Quando falam que um país tá tendo uma nova onda de filmes independentes, já sei que é onde vou achar o filme perfeito para o projeto. Foi o caso do Sudão, que teve muitas indicações que pareciam boas. E acabei ficando com um muito interessante, You Will Die at Twenty, de Amjad Abu Alala.

No início do filme, um casal leva seu filho recém-nascido, Muzamil (Moatasem Rashid como criança, Mustafa Shehata como jovem), para ser benzido por um shikh. Enquanto ele fala, um homem entra em transe vendo uma dança típica, e começa a gritar números, entrando em colapso no vinte. Todos eles entendem o que acontece como uma maldição: o menino vai morrer aos vinte anos.

Todo mundo na vila na beira do Nilo acredita na maldição. O pai do menino não consegue lidar, e aceita um trabalho em Addis Abeba, e depois outro em outro lugar, e prefere passar anos sem ver a família. Ele tem uma desculpa conveniente, não há empregos na vila. A mãe do menino, Sakina (Islam Mubarak), por outro lado, tenta protegê-lo de tudo. Ele passa anos sem mal sair de casa, até que ele se rebela, porque ele quer brincar fora com as outras crianças. Durante o filme, a imagem compara ela várias vezes à Maria, na iconografia cristã. Quando ele sai, porém, elas os chamam de “beijado pela morte”, e o tratam como um pária.

Aos 19 anos, e ainda marcado pela profecia, Muzamil passa os dias decorando o Corão de dois jeitos diferentes. Uma menina com quem ele estudou, Naima (Bunna Khalid), é apaixonada por ele e faz os planos típicos de adolescente, de casar, ter filhos. Ela quer que ele proponha casamento, antes que a família dela aceite uma proposta de outro. Mas ele não quer, já que ele acredita na maldição. A outra pessoa com que ele convive é Suleiman (Mahmoud Elsaraj), que voltou de uma temporada na Europa, e vive isolado da maioria da vila. Ele bebe álcool e vê filmes europeus, e é o outro pária da vila. Ele também é claramente inspirado no Mustafá de Temporada de Migrar para o Norte, o clássico da literatura sudanesa que foi minha leitura para representar o país.

Como o filme é dedicado às vítimas da Revolução Sudanesa, eu pensei nesse como uma alegoria. De certa forma, o modo como Muzamil e seus pais se sentem não deve ser tão incomum: hoje em dia, a idade média da população sudanesa é de 19 anos.

Gostei muito do filme, e acho que representou bem o Sudão. Definitivamente vai valer a pena prestar atenção nessa nova onda de filmes. Além desse, tinham me recomendado Talking About Trees, de Suhaib Gasmelbari, e Beasts of Antonovi, de Hajooj Kuka, então pode ser um lugar para começar.

Deixe uma resposta