Visitando o templo de Garni, o Monastério de Geghard e a Sinfonia das Pedras (e como chegar de forma independente)

De todos os passeios que dá para fazer a partir de Yerevan, capital da Armênia, o mais popular é visitar o templo greco-romano de Garni e o Monastério de Geghard. Tem muitos tours que vão para lá, mas geralmente eles incluem outros lugares também e me pareceu muito corrido, então preferi fazer o passeio por conta própria, e vou dar as dicas de como fazer isso no final do post.

O primeiro lugar que visitei foi o Templo de Garni, muito conhecido por ser o único templo greco-romano ainda de pé em um país da antiga União Soviética. Ele foi construído no século I antes da nossa era como um templo para Mitra, o deus persa do sol, pelo rei armênio Tiridates I, porque sim, a antiguidade era muito mais multicultural que a gente imagina. Ele tinha voltado de Roma, onde foi declarado que a Armênia tinha se tornado uma província romana, e Tiridates foi coroado por Nero. Para comemorar isso, ele escolheu esse estilo para o templo. 

Na entrada, a gente vê essa padra com inscrições que falam do templo

No século IV, a Armênia se tornou o primeiro país do mundo a declarar o cristianismo como religião oficial. Todos os templos pagãos do país foram destruídos depois disso, e Garni foi o único que foi poupado. Ninguém sabe o motivo, mas alguns falam que era porque ele era considerado uma obra-prima da arquitetura, e outros de que foi porque ele também servia como túmulo, e que um rei armênio tinha sido enterrado lá. 

Interior do templo

Em 1679, um terremoto devastou grande parte da Armênia, com epicentro na ravina de Garni, e o templo desabou. A maioria dos blocos permaneceu no lugar, o que permitiu que ele fosse reconstruído em 1975 com 80% de peças originais. As pedras novas são mais claras, e dá para ver bem a diferença. Mesmo antes da reconstrução, Garni já tinha sido reconhecido como um lugar único no bloco soviético, e já era uma atração turística.

O templo hoje também se tornou um símbolo polêmico, porque ele virou um centro importante para o neopaganismo armênio. É uma idéia super polêmica na Armênia. Para muita gente, o neopaganismo foi criado como uma reação ao ateísmo forçado da época soviética, e como uma religião nacionalista, que pudesse unir o país e dar unidade ao povo. Logo no início, muita gente da religião se atraiu justamente pelas idéias de nacionalismo e pureza racial, e desde o início está muito associada com a extrema-direita.  A maioria do povo ainda vê Garni como um símbolo da história multicultural do país, mas tem gente que resolveu usá-lo para criar a história oposta.

A ravina vista de Garni

Depois de Garni, eu aproveitei para ver a Sinfonia das Pedras. Ela é uma formação de pedras na ravina de Garni que lembra o formato de um órgão, daí o nome de sinfonia das pedras. É só sair do templo e virar a direita que a gente já vê o caminho. Ele não é sinalizado e eu tive que perguntar algumas vezes para ter certeza, mas é só descer a ravina e andar cerca de 15 minutos. 

Depois de Garni, eu continuei para o Monastério de Geghard. Ele é um mosteiro medieval esculpido na montanha, e hoje ele é declarado um Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. O complexo foi fundado no século IV por Gregório, o Iluminador, que é visto como pai da Igreja Apostólica Armênia – apesar de serem ortodoxos, os Armênios não tem afiliação com a Igreja Ortodoxa Russa. O mosteiro originalmente se chamava Ayrivank, monastério da caverna, mas essa parte foi destruída durante as invasões árabes do século IX. Depois o Monastério foi reconstruído e chamado de Geghardavank, o monastério da lança, porque acredita-se que a lança que perfurou Jesus durante a crucificação foi levada para lá pelo apóstolo Judas Tadeu. Agora, porém, ela está em Echmiadzin, cidade considerada o centro da fé ortodoxa na Armênia. 

Chegando no monastério, vi muita gente vendendo comida, principalmente lavash de frutas, que é típico da região.

Entrando na igreja, ela impressiona muito porque você passa de trechos construídos para trechos dentro das cavernas, um deles inclusive com uma nascente de água, considerada sagrada. A igreja principal que a gente vê hoje só foi construída no século XIII, mas incorpora estruturas mais antigas. E se você passear em torno do monastério, ainda encontra algumas capelas em cavernas.

Existem outras capelas ao redor do monastério, como a Capela de São Gregório, mais antiga e construída acima dela. Quando eu cheguei lá, peguei um grupo ensaiando para uma apresentação de música.



Andando ao redor do Monastério, a gente vê muitos khachkars, as cruzes armênias decoradas que são muito presentes na cultura armênia. Algumas foram esculpidas diretamente nas rochas ao redor de Geghard.

Do lado de fora do Monastério, passando pelo rio, também vi muitas “árvores de desejos”, onde os armênios outros povos da região colocam pedaços de tecidos. Também cruzei com uma noiva chegando, porque não dá para visitar as igrejas famosas da armênia sem entrar de penetra em alguns casamentos.

Como chegar: do centro de Yerevan, eu peguei um ônibus para o norte da cidade, o ponto de referência perto é a concessionária da Mercedes Benz na avenida Gai (100 AMD ou 20 centavos de euro). As Marshrutkas para Garni ficam em uma ruazinha lateral em frente ao mercado Masiv, e geralmente elas tem o destino escrito no nosso alfabeto e uma foto do templo, então não tem como errar (1 hora, 250 AMD ou 50 centavos de euro). Na minha marshrutka, eu era a única turista, e a única pessoa que não estava carregando sacolas e sacolas de manjericão roxo, então a van inteira cheirava a manjericão. Eu tinha colocado a localização do templo no Google Maps, e vi quando a gente estava chegando perto. Quando uma moça pediu para descer perto dele, fui descer junto, mas o motorista falou “not here” comigo. Ele andou mais um quarteirão e meio e me deixou quase na porta do templo, falando “here”. O transporte público na Armênia não é fácil, mas o povo é simpático.

Para Geghard, é mais difícil. A gente pode andar os 3 quilômetros até lá, o que não me parecia a melhor idéia no verão armênio, pegar carona ou pagar um táxi. Eu conheci duas australianas na Sinfonia de Pedras e resolvemos dividir um táxi, pelo qual pagamos 1500 drams (3 euros, ou 1 para cada). Achamos que seria a melhor idéia porque o monastério é meio isolado e não sabíamos se ia ter gente indo para lá. Na verdade, acho que pegar carona seria muito fácil, já que ele estava bem cheio por causa do casamento.

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