Itinerário pelo centro de Yerevan, na Armênia

Quando a gente visita Yerevan, na Armênia, nem sente que está em um dos lugares do mundo habitados há mais tempo. Uma cidade existe aqui desde o século 8 antes da nossa era, muito antes de a cidade virar a capital do país, no século vinte – antes dela, a Armênia teve treze outras capitais, muitas das quais ficam na atual Turquia. Mas muito pouco ficou de séculos de história: a cidade foi repetidamente destruída por invasões, terremotos, e finalmente pelo governo soviético, que testou aqui planos para reconstruir uma cidade de forma mais moderna. Eles destruíram os hammams, a maioria das igrejas, a fortaleza persa, e reconstruíram Yerevan em uma grade de avenidas e bulevares. Passeando pelo Kentron, o centro da cidade, a gente vê quase só esse lado mais moderno da cidade, mas às vezes em um pátio a gente ainda vê varandas de madeira que parecem ter resistido por séculos.

Eu comecei a passear pelo centro pela Praça da República, perto do meu albergue. Ela foi construída pelos Soviéticos, e até o fim da URSS era chamada de Praça Lenin, e era onde manifestações aconteciam. Ela é cercada de cinco prédios rosas e amarelos feitos de tufo vulcânico: o prédio do Governo da Armênia, o Museu de História, o hotel Marriott, e dois prédios usados como Ministérios. De noite, a praça é bem popular porque as fontes tem shows de música e luzes.

Saindo da praça pela rua Nalbandyan, fica uma praça com uma exposição permanente, a “Cultural Genocide: symbol of Khachkars”. Ele lembra que o genocídio armênio foi também a destruição do seu patrimônio cultural, e os khachkars, ou cruzes armênias, um símbolo da arte medieval do país, também foram destruídos pelo Império Otomano. Então treze cruzes destruídas foram reproduzidas lá. Algumas, mais recentes, vem do Nakchivan, um exclave do Azerbaijão que costumava ser mais multicultural, mas onde a Unesco denunciou que símbolos armênios tem sido destruídos.

De lá, eu fui para o sul do centro para ver uma atração polêmica, a Igreja de São Gregório, o Iluminador. São Gregório é considerado o homem que converteu a Armênia, que se tornou o primeiro país oficialmente cristão do mundo. A igreja foi feita para comemorar o aniversário de 1700 anos da conversão do país, no lugar de uma igreja que tinha sido destruída pelos soviéticos. As críticas que vi sobre ela me lembrava muito o que eu ouvi sobre igrejas reconstruídas na Rússia: que o governo estava gastando dinheiro que deveria ser usado com o povo em construir igrejas enormes, em estilo parecidos com os medievais do país, mas em uma versão kitsch em que dinheiro tinha sido desviado.

Depois fui para norte, passando pela Praça da República de novo, até a Mesquita Azul. Ela foi construída no século XVIII, e é um dos poucos monumentos que restam da comunidade islâmica de Yerevan. As cidades do Cáucaso costumavam ser muito multiculturais, mas com o Genocídio Armênio e a guerra com o Azerbaijão, a relação com os vizinhos deteriorou muito. 

De lá para outra igreja, Katoghike, a mais antiga que ainda existe em Yerevan. Realmente é um contraste com a igreja moderna de São Gregório, muito menor, mais elegante. Ela foi construída em 1264, e foi a única igreja da cidade a sobreviver ao terremoto de 1679. Ela é cercada por uma basílica do século 17, a de Santa Ana.

Outra praça que vale a pena visitar no centro é a Praça da Liberdade, que é cercada por ruas para pedestres cheias de cafés e restaurantes. Em um lado dela fica a Ópera, construída nos anos 30.

Depois fui para o Matenadaram, um museu dedicado ao livro armênio. O primeiro depósito de todos os livros em armênio foi construído ainda no século V, por Mesrop Mashtots, inventor do alfabeto. Os armênios tem muito orgulho da sua língua única e do seu alfabeto, que só é usado lá, e por isso também tem  muito orgulho desse prédio, uma coleção enorme de manuscritos iluminados, aberta para todos. Além dos manuscritos armênios, eles também tem coleções de manuscritos persas, árabes, gregos e latinos. Foi um dos meus passeios preferidos em Yerevan.

Depois fui para o Museu Cafesjian, um centro cultural que é uma das atrações mais famosas da cidade. Na frente dele, fica um Parque de Esculturas, com obras de Botero e outros artistas de renome. O museu mesmo fica nas Cascatas, uma escadaria de pedra enorme decorada com fontes e estátuas. De cima, a fama é que você tem vistas espetaculares do monte Ararat, mas infelizmente ele é bem difícil de ver no verão, por causa da poluição.

No centro, também vale a pena passear pela rua Sayan, conhecida como a rua dos bares. Achei que ela era muito agradável e verde, mas a maioria dos bares é bem cara para o Cáucaso. Foi legal ir um dia, mas alternei com restaurantes armênios mais baratos e com comida mais tradicional, com pratos que eu queria provar, como o Anteb, o Caucasus e a Tavern Yerevan.

Nos outros dias, consegui ver também alguns lugares interessantes fora do centro que valem muito a pena. O primeiro lugar que visitei na cidade, e que recomendo para todo mundo, foi o Museu do Genocídio Armênio, que já teve post próprio. Ele foi a introdução perfeita para a Armênia, contando a história da política de extermínio do início do século XX que fez com que ela quase desaparecesse. 

Também fui ao Kond, um bairro logo ao norte do centro que é um dos mais velhos de Yerevan. Ele foi construído quando Yerevan estava sob domínio persa, e ainda tem ruas estreitas com casas de pedra. As pessoas me falaram que era um gosto de Yerevan mais antiga, então fui fazer um passeio só para ver um pouco do bairro.

Lá perto também fica a Casa-Museu do cineasta Serguei Parajanov, com suas coleções de arte. Ele fica em uma casa de pedra como ainda existem poucas em Yerevan, e foi um dos meus passeios preferidos em Yerevan.

Finalmente, um lugar que eu não visitei foi a Fortaleza de Erebuni, conhecida como o lugar onde Yerevan foi fundada. O próprio nome da cidade deriva do nome da fortaleza. 
E termino com uma não-recomendação, o passeio que eu menos curti em toda a Armênia: o Free Walking Tour. Geralmente eu sempre recomendo, acho uma ótima maneira de conhecer um pouco da cidade, mas em Yerevan foi de longe o pior que já fiz. O guia, Vako, andava super rápido, começava a explicação assim que ele chegava em algum lugar, com metade do grupo para trás, e depois, quando o povo chegava, ele reclamava que eles eram lentos e estavam atrasando todo mundo. Ele foi super grosso com mais de metade do tour, principalmente quem tentava fazer perguntas, e eu me senti fazendo um tour com um bully de ensino fundamental. A atmosfera foi tão pesada que saí sem dar um centavo de gorjeta, o que eu nunca tinha feito antes, e o outro cara do meu albergue fez a mesma coisa. Parece que desde então ele saiu da companhia, mas quem for para Yerevan, conta para a gente.

Vou deixar mais algumas fotos do centro.

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