Volta ao Mundo em Livros: Uruguai – Primavera num Espelho Partido

Chegou a vez do Uruguai, e eu me interessei por vários romances, mas acabei ficando com um do Mario Benedetti porque tinha ouvido falar muito bem dele, e porque tinha vontade de ler mais do autor já há algum tempo, desde que li A Trégua. Então fiquei com Primavera num Espelho Partido, a única obra que o autor publicou durante seu exílio.

O romance conta a história de Santiago, prisioneiro político em Montevidéu nos anos 70, na época da ditadura uruguaia. No tédio da cela, ele não pode fazer muito além de tentar permanecer são e escrever cartas para a família, que ele idealiza a um ponto que se tornou insuportável para eles. Ele não tem idéia de quando será libertado, e a gente sente o tempo todo a solidão feroz do personagem.

O livro também acompanha a esposa de Santiago, Graciela, e a filha deles de nove anos, Beatriz, vivendo em Buenos Aires. Graciela, vivendo há cinco anos no exílio, começou a perceber que ela não precisa mais de Santiago. Ela se acostumou a viver sem ele, e começou a se apaixonar por um amigo dele, Rolando. Ela sente a crueldade do fato de que a própria vida se afastou tanto do marido e o deixou para trás enquanto ele está preso, mas ela não consegue mais viver uma vida em suspenso sem saber quando ele será libertado. E ela precisa sair da posição idealizada em que ele a colocou.

Beatriz, a filha dos dois, também vive a confusão do exílio, e ela nem sabe mais qual é o seu país natal. Gostei muito da parte dela, às vezes textos escritos na perspectiva de crianças me irritam muito, mas achei esse muito bem feito. O avô dela, Rafael, pai de Santiago, dá uma perspectiva do que está acontecendo no país, contando sobre o referendo que a ditadura fez sobre a própria legitimidade, em 1980. 

Por ser uma história de ditadura, prisão política e exílio, é uma história essencial da América Latina, que acho que faz sentido para todos nós. E é muito bem escrita, por isso gostei da minha escolha para o Uruguai.

Deixe uma resposta