Volta ao Mundo em Livros: Estados Unidos – Sing, Unburied, Sing

Foi difícil escolher um livro para os Estados Unidos, já que é um dos países que mais publica no mundo. Por causa da situação atual, e do movimento Black Lives Matter, eu me foquei no tema do racismo, o que me levou a ver que também é uma lacuna nas minhas leituras. Eu já tinha lido muitos escritores dos EUA, e quase todos eram homens brancos. Por isso queria ler agora uma mulher preta, e felizmente tinha listas e listas com sugestões feitas para quem tem a mesma lacuna. Várias sugestões me atraíram, mas a que mais me chamou a atenção foi Sing, Unburied, Sing, de Jesmyn Ward.

Sing, Unburied, Sing é o retrato de uma família em um momento impossível. Os narradores são Leonie, uma mulher preta, e seu filho Jojo, que tem treze anos no início do romance. Além deles, a família é composta por Kayla, uma filha pequena, e os avós, que Jojo chama de Pop e Mam. Leonie teve Jojo com apenas dezessete anos, e às vezes desaparece por vários dias para usar drogas. Enquanto isso, Pop e Mam tentam ensinar as crianças a sobreviver e inculcar seus valores neles.

Leonie resolve levar os filhos de carro para buscar o pai eles, um homem branco chamado Michael, que está sendo liberado da prisão, e isso desencadeia uma série de memórias. Pop também tinha passado um tempo nessa cadeia, condenado aos quinze anos por uma briga de bar que seu irmão provocou enquanto ele estava quieto em casa. Lá, ele tinha conhecido Richie, um menino de apenas doze anos preso por roubar um pedaço de carne. A prisão era uma plantação, onde eles eram submetidos a trabalho forçado. E quando eles passam por lá, ela ganha toques de realismo fantástico, já que o fantasma de Richie começa a narrar sua história e acompanhá-los em direção a Pop, na esperança de lembrar como ele morreu. Logo outros fantasmas os acompanham, inclusive Given, o irmão de Leonie morto por um amigo da escola no que a polícia decidiu chamar de acidente de caça. Além disso, tudo na viagem dá errado, com Leonie parando para comprar drogas, Kayla enjoando e um momento em que um policial para o carro, em que a gente só espera não vire uma situação próxima das que a gente vê nos jornais todos os dias.

Em uma das críticas que li sobre o romance, no The Guardian, o romance foi descrito como uma crítica poética da história dos EUA. Os personagens são literalmente assombrados por fantasmas, mas também metaforicamente assombrados pelas histórias que eles representam: da escravidão, do Jim Crow, dos linchamentos, do encarceramento em massa, da segregação econômica, das zonas dos Estados Unidos que mais de dez anos depois ainda não se recuperaram do desastre causado pela resposta ao furacão Katrina.

Algumas das outras opções que eu tinha considerado para os EUA são Amada, da Toni Morrison, Eu Sei Porque o Pássaro Canta na Gaiola, da Maya Angelou, The Vanishing Half, de Brit Bennett, e Such a Fun Age, Kiley Reid. Também fiquei com vontade de ler outros livros da Jesmyn Ward, principalmente Salvage the Bones, um romance que fala mais diretamente do Katrina, e Men We Reaped, sobre cinco homens próximos dela que morreram jovens. Achei que Sing, Unburied, Sing, foi, no entanto, um ótimo representante do país, principalmente por esse aspecto de crítica da história, e o recomendaria para quem quer saber mais sobre o país.

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