Volta ao Mundo em Livros: África do Sul – Coconut

Tinha muitas sugestões que pareciam ótimas da África do Sul. Ouvi falar de vários romances que pareciam interessantes, mas resolvi ler Coconut, de Kopano Matlwa, que fez sucesso nos últimos tempos porque ele fala de como é ser uma pessoa negra na chamada “born free generation”, dos sul africanos que nasceram depois do Apartheid.

O romance conta a vida de duas jovens na África do Sul de hoje, Ofilwe e Fikile. Ofilwe começa a história quase como um diário. Ela é uma adolescente privilegiada, criada em uma casa de três andares, e que vai a uma escola de elite, onde praticamente só tem crianças brancas. Os pais dela querem que ela tenha acesso a todas as oportunidades, e por isso decidem que dentro de casa só vão falar em inglês, língua que a mãe dela não domina. O inglês ótimo dela realmente abre algumas portas, mas ela continua sendo considerada uma “outra” na escola. Quando um oficial do governo, fazendo um censo, pergunta que língua ela fala em casa e ela responde que é inglês, ele não acredita. Depois que ela responde que é inglês pela terceira vez, a professora dela fala que não importa, para o fiscal colocar zulu, que as línguas africanas são todas iguais mesmo.

A gente vê Ofilwe no momento em que ela está tomando consciência disso, principalmente por conversar com seu irmão Tshepo, que é politizado e está estudando as línguas da África. É ele que fala que nos pôsteres que ela pregou no quarto só tem gente branca, que os amigos da escola só chamam ela para sair quando tem um lugar sobrando no carro, todas as pequenas humilhações e exclusões pelas quais eles passam, e que abre os olhos dela para o racismo estrutural da sociedade.

In every classroom children are dying. It is a parasitic disease, seizing the mind for its own usage. Using the mind for its own survival. So that it might grow, divide, multiply and infect others. Burnt Sienna washing out. DNA coding for white greed, blond vanity and blue-eyed malevolence. IsiZulu forgotten. Tshivenda is a distant memory.

You will find, Ofilwe, that the people you strive so hard to be like will one day reject you because as much as you may pretend, you are not one of their own. Then you will turn back, but there too you will find no acceptance, for those you once rejected will no longer recognise the thing you have become. So far, too far to return. So much, too much you have changed. Stuck between two worlds, shunned by both.

Fikile, a segunda personagem, tem uma vida bem diferente. Ela é de uma família pobre, e cresceu só com um tio abusivo. Ela largou a escola para trabalhar em um restaurante de elite, onde ela é chamada de “Fiks”, e para não perder o emprego ela chega a roubar um par de jeans caros, porque a dona do restaurante não contrataria alguém que não parece que pertence lá. Fikile vê o racismo desde cedo – quando a professora na escola pergunta o que ela quer ser quando crescer, ela fala que quer ser branca.

Isso na verdade é o que as duas personagens tem em comum, e de onde vêm o título do livro – Coconut, coco, marrom por fora e branco por dentro, é como eles chamam as pessoas negras vistas como alienadas da própria cultura, como alguém que idolatra a cultura dos brancos e tenta se assimilar. Só pelo título, dá para ver que a autora tem uma posição muito crítica com a sociedade sul africana atual, e com as promessas de igualdade que não se cumpriram com o fim do Apartheid. Por isso, foi uma ótima escolha para aprender sobre a África do Sul de hoje.

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