Sheki – na Rota da Seda do Azerbaijão

Um pouco depois que eu comprei minha passagem para ir para o Azerbaijão, li a notícia de que Sheki (também se escreve Shaki, em Azeri é Şəki), uma cidadezinha do país, tinha entrado para a lista de Patrimônios da Humanidade pela Unesco. O que eles mais citavam na descrição era seu papel na Rota da Seda, que tem um caminho que passou pelo Cáucaso. Eu já tinha lido um pouco sobre ela e queria visitar uma cidade que não fosse Baku, mas foi a informação que descobri lá que me fez decidir por Sheki.

Baku é uma cidade linda, é claro, mas foi na pequena Sheki que realmente vi a hospitalidade do Azerbaijão. Eu explorei a cidade com três caras do meu albergue, um de Bahrain e dois japoneses, e os japoneses viraram praticamente atração turística. A gente passava e as crianças corriam atrás deles tentando puxar papo em inglês. Nós ficamos no Canal Hostel Sheki, e o dono do albergue, Aslam, nos prepara cafés da manhã incríveis – inclusive na manhã em que fomos para Tbilisi, ele acordou cedo e preparou tudo – e pegava para a gente frutas do próprio quintal. Ele também deu várias dicas sobre a cidade e sobre como continuar a viagem para Tbilisi.

Sheki rota seda 3
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Seguindo a fama da cidade pela Rota da Seda, nós começamos o passeio pelo Caravansarai, uma antiga pousada para as caravanas que faziam a rota, e que ainda funciona como hotel. Se você tem um orçamento um pouco maior, pode valer a pena inclusive ficar lá, já que os quartos começam em torno de 30 dólares a noite, e tem toda a história. 

Sheki rota seda caravansarai hotel caravanas 1
Sheki rota seda caravansarai hotel caravanas 4
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Então fomos para a parte mais alta da cidade, passando pelo famoso Mercado de Artesanato. Nele, dá para ver como artesãos fazem vários produtos típicos, que depois nós vimos muito nos palácios. Tinha gente inclusive demonstrando como se faz o Shebeke, em que pedaços de madeira são encaixados em torno de vidro colorido, sem usar cola ou pregos. Eles me contaram que alguns dos painéis maiores, como os que eu veria logo depois no palácio, chegavam a ter 1800 peças.

Sheki rota seda centro artesanato
Sheki rota seda centro artesanato shebeke vidro madeira encaixados

Depois continuamos para o Palácio de verão, construído em 1763, com muita influência da arte persa. O palácio é extremamente colorido, tanto pelas pinturas como pelos vidros coloridos, os Shebeke do qual eu falei. A visita é feita em grupos, e o palácio estava absolutamente lotado. Mas além do meu grupo, só tinha mais duas pessoas que não falavam Azeri. Os funcionários então organizaram um tour em inglês só para a gente, sem cobrar nada a mais por isso. Eles contaram também um pouco da história da cidade, que era o centro da produção de seda do Cáucaso, e dos poderosos Khans, títulos para governante usado entre a Turquia e a Mongólia, que governaram Sheki. Eles também falaram sobre as muitas invasões pelas quais a cidade passou, por exércitos otomanos e russos, e sobre os esforços do governo para restaurar os palácios de Sheki. Infelizmente, não podia fotografar por dentro. A entrada na época custava 5 manat, ou 1 para estudantes.

Sheki rota seda palácio verão khans 1
Sheki rota seda palácio verão khans detalhe shebeke
Sheki rota seda palácio verão khans detalhe pavões

Atrás do Palácio também tem uma pequena parede de artesanato.

Sheki rota seda igreja circular
Sheki rota seda muralhas

Só que uma dica do Aslam tinha sido visitar também o Palácio de inverno. Ele é bem parecido com o Palácio de Verão, mas estava vazio. Ele é um pouco mais escondido, o que inclusive o ajudou a ser protegido durante as invasões. Enquanto o Palácio de Verão passava de governante da cidade para governante, o Palácio de Inverno chegou a ser usado como moradia pelos locais. Também lá tivemos um tour exclusivo, com a diferença de que realmente éramos os únicos no palácio, e lá a fotografia era permitida. A entrada de novo era 5 manat, ou 1 para estudantes.

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O próximo passeio foi pegando uma marshrutka para uma cidadezinha lá perto, Kiş, onde fomos ver a Igreja Albanesa. A primeira vez em que ouvi falar dela, fiquei pensando quando é que tinha albaneses morando no Azerbaijão. Mas, na verdade, o que aconteceu foi que uma nação cristã que já ocupou grande parte do norte do Azerbaijão coincidentemente tinha o nome de Albânia, sem nenhum relação ao país moderno. Inclusive nas explicações dentro da própria igreja eles chamavam o lugar de “Albânia caucasiana”. A igreja é muito bonita, e tem uma área arqueológica dedicada aos esqueletos da Idade de Bronze encontrados lá. 

Para o almoço, decidimos ir a uma das recomendações do Aslam, um restaurante chamado Cavcaz (Cáucaso). Ele tinha descrito o lugar como muito simples e barato, onde ninguém falaria inglês, mas a comida seria ótima, e foi exatamente o que aconteceu. Eu já sabia que queria um piti, um prato típico de Sheki, mas um dos meninos perguntou para o garçom se tinha um menu. O garçom, entendendo essa palavra, levantou um dedo e disse “piti”, e depois levantou um segundo e disse ”kebab”. Então as opções não eram muitas e definitivamente não era para vegetarianos, mas foi realmente delicioso. O piti vem um vasinho, e a princípio você olha de cima e só consegue ver gordura de carneiro boiando, então não parece tão interessante. Mas nós seguimos as instruções do Lonely Planet, partimos pão e colocamos sumac, um tempero local típico, no prato, e depois viramos só o conteúdo líquido do vasinho no prato, fazendo um primeiro prato.

Depois pegamos os conteúdos sólidos, que são carneiro (o Lonely planet falou especificamente para não desprezar a gordura do carneiro, senão muda o gosto do prato), grão de bico e um damasco, amassar tudo com um garfo e colocar mais sumac em cima. Acho que a foto não faz jus, porque é coisa marrom amassada, mas juro que é um prato incrível. Foi um dos melhores pratos que comi em todo o Cáucaso, e sinceramente sinto falta.

De noite, também provamos outro prato típico da cidade, a Halva. Ela é um doce feito com farinha de arroz, açúcar e amêndoas. Eles vendiam por quilo, então nós compramos meio quilo (por 3 manat) e levamos de volta para o albergue, onde todo mundo comeu até. Era doce demais para mim, pessoalmente, mas adoro doces com amêndoas e foi bom provar um pouco, melhor ainda acompanhado de chá local. Os azeris fazem um chá super concentrado, e cada um mistura com água como prefere.

Além disso, claro, andamos muito pelo centro histórico, que é muito bonito. Olha as casas de pedra com varadas de madeira, que são típicas da cidade.

Como chegar: Eu cheguei em Sheki vindo de Baku. A minha primeira opção, o trem noturno, encheu, graças a um feriado, então fui de ônibus. Foi um dos poucos ônibus mesmo que vi no Cáucaso, onde geralmente marshrutkas são mais comuns. Ele era bastante confortável, apesar do pop Azeri altíssimo que eles tocaram o tempo todo.

De lá, continuei viagem para Tbilisi. Tive que pegar um marshrutka para Qakh, e depois de lá outra para Tbilisi. Essa estava absolutamente lotada e foi uma das minhas viagens mais desconfortáveis no Cáucaso – eu e uma menina australiana tivemos que dividir um assento, o que significava que a gente tinha que alternar quem sentava em cima do cinto.

Fique de olho que daqui a pouco tem mais posts sobre o Azerbaijão.

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