Volta ao Mundo em Livros: Samoa – Where We Once Belonged

As ilhas do Pacífico geralmente são os países para os quais tenho mais dificuldade de encontrar romances. Quando eu estava procurando um livro para Samoa, no entanto, tinha uma autora que era sempre citada e parecia interessante, Sia Figiel. Ela tem romances e livros infanto-juvenis que pareciam ótimos para o projeto, e acabei ficando com Where we once belonged.

O romance segue Alofa Filiga, uma adolescente crescendo em Samoa. O livro é inspirado na prática de contar histórias típica do país, o su’ifefiloi, e por isso mistura vários estilos, indo da narração do romance a poesias e mitos da criação do país. No início, sem saber disso, o livro parecia um pouco sem coesão, saltando de um estilo para outro. Outra influência dos costumes locais, como a autora nos explica, é que no início Alofa quase nunca fala “eu”. Todas as histórias dela, mesmo para falar de algo que ela presenciou sozinha, começam com “nós”.

O romance foca muito na sexualidade de Alofa e suas amigas, já que é um romance de formação. Samoa no romance parece uma sociedade muito reprimida, em que sexo não é algo que se discute. Alofa é punida uma vez porque um homem pisca para ela, sobre a lógica de que ela deve ter feito algo para provocar. Ela coloca uma revista pornográfica na mochila de uma menina da escola como uma brincadeira, pensando que a menina vai ficar chocada, mas ao invés disso, são os pais dela que a encontram, e eles a espancam brutalmente e raspam a sua cabeça. No entanto, uma das amigas de Alofa, Lili, tem uma vida diferente. Ela fica grávida fora do casamento e isso é motivo para muita fofoca e para ela ser apontada como o mau exemplo, a menina de quem ninguém quer que as próprias filhas se aproximem, mas mais nada. Alofa nos mostra de onde vem essas duas medidas, já qu Lili não era filha de alguém importante na comunidade.

O romance também fala muito do consumismo, e do imperialismo cultural que fazia com que tudo dos Estados Unidos se tornasse muito popular entre os jovens. Alofa e as amigas se chamam de As Panteras, por causa a série de TV dos EUA, e Alofa fica encantada da primeira vez que ela vê corn flakes na vida real, depois de tê-los visto tanto na tv. Uma prima de Alofa chega da Nova Zelândia depois de ter feito um mestrado e se recusa a comer qualquer alimento que não seja local, ao mesmo tempo em que tenta convencer as pessoas a abandonarem o cristianismo em nome das religiões locais da ilha, apenas para ser ostracizada pela comunidade por isso. Quando turistas passam, ela grita com eles “Gauguin está morto, não existe paraíso”.

Algo que me surpreendeu muito no romance é que, como estudante de humanas, era só pensar em alguém crescendo em Samoa para a imagem na minha cabeça ser dominada por Margaret Mead. O seu Coming of Age in Samoa é um clássico da antropologia, e ela fala muito de Samoa como sendo uma sociedade muito sexualmente liberada, onde as pessoas praticam o amor livre. Como eu já falei, essa imagem não tem nada a ver com a que Figiel nos passa. Em uma aula na escola de Alofa, a professora conta para elas da controvérsia entre Mead e Derek Freedman, que Alofa entende como a briga entre uma mulher que está dizendo que as adolescentes Samoanas “fazem ‘aquilo’ muito” e um homem que diz que eles são um povo “ciumento, odioso e assassino, que não sabem como fazer ‘aquilo’”. Uma professora de história de Samoa, Lisa Uperesa, definiu a polêmica como uma que na verdade tinha três lados: o da Mead, o do Freedman, e o dos samoanos. Ambas as perspectivas eram para eles discursos orientalistas, que escreviam sobre os samoanos como se eles fossem todos iguais e exagerando a diferença em relação aos próprios países. O Mead continua uma das autoras mais lidas em faculdades de humanas, mas Figiel traz um contraponto local fundamental.

Eu li o romance Where we Once Belonged no Internet Archive. Eles tem muitos livros disponíveis que podem ser emprestados, tanto no site quanto baixados em formatos pdf ou epub.

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