Volta ao Mundo em Livros: Azerbaijão – Sonhos de Pedra

Finalmente, li um livro para o Azerbaijão. Há anos eu tinha lido Ali e Nino, de Kurban Said, que é o livro mais popular para representar o país nos blogs que leio que fazem esse desafio, mas agora queria ler um livro que me contasse um pouco sobre o Azerbaijão moderno. Foi mais difícil de achar, mas acabei encontrando Sogni di Pietra, ou Sonhos de Pedra, do Akram Aylisli, na biblioteca da universidade. Com ele, também finalmente terminei o Desafio Viaggiando, porque fiquei meses com uma só categoria faltando, a de um livro que falasse de um conflito ainda vigente.

O romance fala do conflito entre armênios e azeris nos anos 90, e foi alvo de muita polêmica quando foi publicado por mostrar armênios com simpatia. Os livros de Akram Aylisli foram queimados em praças e depois censurados, o seu filho perdeu o emprego, ele foi declarado herege e prêmios em dinheiro foram oferecidos pelo líder do partido pro-governo para quem cortasse as orelhas dele. No entanto, pela reconciliação, ele chegou a ser indicado para o Prêmio Nobel da Paz.

O romance segue Saday Sadykhly, um ator que tenta defender seus vizinhos armênios durante um massacre nos anos 90. Por ele entrar no meio, os agressores acham que ele também deve ser armênio, e ele é espancado. O que aconteceu na época foi classificado como um pogrom, uma multidão que lança um ataque violento contra uma minoria étnica ou religiosa, e também está relacionado ao conflito do Nagorno Karabagh, uma região de maioria armênia que na época decidiu se separar do Azerbaijão e se unir à Armênia (e o filme que vi para o Azerbaijão, Nabat, fala justamente dessa guerra). Muitas das acusações contra Aylisli é de não ter falado dos crimes de guerra contra azeris que aconteceram lá, o que não entendo. Será que se ele falasse, as pessoas sentiriam que os crimes cometidos contra os azeris justificavam os crimes cometidos contra os armênios? No final, como em toda guerra, são sempre os civis que sofrem mais. Além disso, Aylisli já deixou bem claro que a intenção dele não é de esquecer ou ignorar os crimes cometidos pelos armênios. Em uma entrevista, ele disse que o romance era uma mensagem para os armênios, dizendo: “The message is this: Don’t think that we’ve forgotten all the bad things we’ve done to you. We accept that. You have also done bad things to us. It’s the job of Armenian writers to write about those bad things.”

As outras partes do romance se passam em Aylis (Aşağı Əylis), a cidade onde o escritor nasceu e que deu origem ao seu pseudônimo. Ela fica no Nakchivão, um exclave separado da maioria do Azerbaijão pela fronteira fechada com a Armênia. Ele descreve como o lugar é cheio de igrejas armênias, de uma época em que o lugar era mais diverso, especialmente antes do genocídio armênio cometido pelos otomanos em 1815. Parte do romance foca em Sadyghly, que caminha pela cidade e fala com os habitantes mais velhos, a maioria dos quais vive em casas que eram de armênios, e todos se lembram com horror do genocídio. Hoje, a maioria das igrejas foi destruída, e oficiais locais falaram a Aylisli que ele provavelmente será morto se tentar voltar. 

Por tudo que contei, acho que o livro foi uma ótima escolha. Ele ainda não foi traduzido em português, mas está disponível em inglês, italiano, francês e algumas outras línguas.

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