Volta ao Mundo em Livros: País Basco – Pátria

Eu sei que essa Volta ao mundo nunca vai terminar se eu continuar adicionando países, mas não consigo resistir. Especialmente quando um lugar tem uma cultura e uma língua tão únicas quanto o País Basco. Faz um tempo que tenho ouvido do romance Pátria, de Fernando Aramburu, e ele parecia tudo que eu busco nesse projeto, além de ser um romance que começou uma conversa no seu país de origem, então ele logo entrou na lista como representante do País Basco.

A história é contada de forma não-linear, começa quando o ETA anuncia que não vai mais cometer atentados. Bittori, uma das personagens principais do livro, decide então voltar para a cidadezinha onde ela passou a maior parte da vida, e de onde saiu depois que o marido, Txato, foi assassinado. Txato não tinha pagado tudo que o ETA tentou extorquir dele, e logo as palavras “Txato traidor” e “Txato espião” tinham começado a aparecer nos muros da cidade inteira. Quando Bittori foi no açougue depois disso, eles se recusaram a vender para ela. A família toda começa a ser excluída quando Txato é ameaçado, e eles tem que deixar a cidade depois que ele é morto. Como vítimas, eles são muito inconvenientes. O filho deles, Xabier, médico em San Sebastián, nunca consegue superar a perda, e a filha, Nerea, não conta para os amigos da Universidade de Salamanca, não querendo ser estereotipada como a “vítima do ETA”,

Quando Bittori volta, a vizinha dela, Miren, comenta “agora nós vamos ser as vítimas das vítimas”. As duas famílias costumavam ser melhores amigas, fizeram tudo juntas por décadas, mas, quando Txato se torna alvo, o filho dos amigos, Joxe Mari, já tinha entrado para o ETA. E a mãe, para apoiá-lo, fica a cada dia mais radical, principalmente depois que ele é preso. Os outros membros da família reagem cada um de forma diferente. Arantxa, a filha do casal, é a única que apoia a família dos ex-amigos, falando em público com eles. Joxen, seu pai e marido de Bittori, lamenta a perda do melhor amigo, mas não tem a mesma coragem. E o filho mais novo, Gorka, vê a cidade inteira admirando o irmão dele como um mártir da causa, colocando fotos dele no comércio, e deixa a cidade para não ser pressionado a seguir o mesmo caminho.

Eu me lembro de estudar o conflito do ETA na escola, ler notícias na imprensa, e sempre parecia um conflito de espanhóis contra bascos. Os que queriam a assimilação, ficar na Espanha, contra os que queriam a independência. E o interessante desse romance é que os personagens principais são todos bascos, e têm orgulho disso. Todos eles falam a língua, amam a cultura, querem ter mais autonomia ou mesmo independência. Independentemente disso, alguns apoiam o ETA, alguns o odeiam, outros tentam ficar neutros. Txato, assassinado por não pagar o “imposto” do grupo, já tinha pagado outras vezes, não foi uma decisão política, mas uma reação contra tentarem cobrá-lo tão logo depois do último pagamento. Por isso curti muito como ele é representado no livro, como um conflito que acaba colocando vizinhos um contra o outro, mesmo os que não são fanáticos ou mesmo politizados.

Pátria foi lido na Espanha por mais de um milhão de leitores. O romance virou parte de uma conversa nacional sobre o tema, e a Associação das Vítimas do ETA quer que ele se torna leitura obrigatória no Ensino Médio. Ele também foi adaptado e virou uma série da HBO. Gostei muito desse romance e das questões que ele traz, e embora seja um calhamaço de mais de 600 páginas, é um romance fácil de devorar.

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