Volta ao Mundo em Livros: República Dominicana – How the Garcia Girls Lost Their Accent

Quando fui procurar um livro para a República Dominicana, fiquei um pouco em dúvida, porque achei alguns livros muito recomendados e premiados, mas que tinham sido escritos em inglês por pessoas que tinham emigrado para os Estados Unidos. Em alguns países, a maioria dos livros que eu acho seguem esse padrão. Fiquei um pouco na dúvida, mas também acho que em muitos países, essa experiência de migração é parte fundamental da sua história recente. E foi assim que acabei lendo How the Garcia Girls Lost Their Accents, de Julia Alvarez.

O livro conta três momentos na vida de uma família que emigrou para os Estados Unidos. A família é composta pelos pais, Carlo e Laura, e quatro filhas, Carla, Sandra, Yolanda e Sofia. A perspectiva do romance varia a cada capítulo, em alguns momentos focando nas quatro de uma vez, e em outras dando voz a cada uma delas. O livro é dividido em três partes, com capítulos que mostram a família durante a vida adulta das filhas, quando elas eram adolescentes, chegando nos EUA, e na infância.

A primeira parte foca um pouco na falta de senso de pertencimento das filhas, principalmente a terceira, Yolanda, que narra a maior parte do capítulo. Na República Dominicana, a família ri de como ela esqueceu o espanhol, mas quando ela namora um menino estadunidense, ele fala que ela não é tão cabeça quente quanto eles esperavam de uma latina. Ela se sente muito deslocada com isso: “I would never find someone who would understand my particular mix of Catholicism and agnosticism, Hispanic and American styles.”

A segunda parte foca muito no choque cultural de chegar nos Estados Unidos. Carla, a mais velha, conta um episódio de racismo na escola e de assédio andando na rua, e é muito interessante como ela fala que a escola de freiras para onde os pais a mandaram não lhe deu o vocabulário para explicar para um policial exatamente o que aconteceu. E muitos dos temas do romance passam pela dupla exigência dos pais, que querem que elas sejam as perfeitas estadunidenses – eles se orgulham muito de como elas falam inglês “sem sotaque” e mencionam várias vezes como a Sandra tem olhos azuis e nem parece que não é de lá, e ao mesmo tempo as perfeitas meninas católicas dominicanas – por isso o tipo de experimentação que era normal para meninas da idade delas nos Estados Unidos, como a Sandra usar um creme de remoção de pelo, é um escândalo.

Na terceira parte, vemos o motivo do exílio, que já tinha sido aludido antes no romance, por Carlos ser um opositor da ditadura de Trujillo. Lá a família é parte da elite da ilha, repetindo com orgulho que eles são descendentes diretos dos conquistadores, e vivendo em uma grande casa com vários funcionários. E isso contrasta com o início da vida da família nos Estados Unidos, que parece uma aventura para as meninas no início, mas onde elas logo sentem a falta do espaço e da convivência com os primos. Todas as partes falaram um pouco sobre o país e a cultura, mas essa é a que mais dá um contexto sobre a República Dominicana, ao colocar a família como opositores do regime.  

Depois, vi que a autora escreveu outros livros que tem as Garcia como protagonistas, focando na Yolanda. Foi um livro interessante para a República Dominicana, e deu vontade de conhecer mais sobre o país. 

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