Desventuras de viagem: a greve dos trens em Roma

Foi a primeira viagem que fiz sozinha, então eu preparei tudo nos mínimos detalhes. Eu estava indo para Florença para fazer um curso de italiano. A passagem de avião para lá estava muito cara, então comprei uma passagem para Roma. Passei um bom tempo online tentando entender o sistema de trens italiano (e depois escrevi esse post aqui contando tudo que aprendi) e comprei com antecedência uma passagem de trem rápido para Florença. O meu trem deveria sair quatro horas depois que eu chegasse em Roma, tempo que me parecia suficiente caso o avião atrasasse um pouco.

Eu cheguei no aeroporto em Roma, a imigração foi super fácil, minha mala veio sem problemas e logo achei a estação de trem dentro do aeroporto. Fui na maquininha e em segundos consegui pegar os dois bilhetes, o para o trem até a Estação Termini de Roma e o que seguia para Florença. Lembrando de tudo o que li, validei o bilhete para a Termini na maquininha, para não correr risco de pagar multas. Até aqui tudo estava dando certo, e eu estava orgulhosa de como tava fazendo tudo sozinha.

Foi quando cheguei na Termini que tudo deu errado. Todo mundo que já foi lá pode dizer que aquela estação é uma bagunça, e nesse dia estava mil vezes pior. A estação estava lotada, com muita gente dormindo no chão. Tudo o que eu conseguia ouvir era “treno xxx cancellato”.

Até então, eu não tinha tido nenhuma experiência falando italiano fora de uma sala de aulas. Eu conseguia conversar o básico, mas lentamente, sem muita confiança. E nesse momento, tive que perder a vergonha e falar. Na fila para informações na Trenitalia, puxei papo com algumas pessoas, que me contaram que a outra estação de trens de Roma, a Tiburtina, tinha sido quase destruída em um incêndio na noite anterior, quando eu estava no avião, e que todos os trens regionais estavam em greve.

Quando finalmente consegui falar com meu funcionário, já era quase o horário do meu trem, mas ele ainda não aparecia no quadro de horários. O funcionário confirmou que meu trem tinha sido cancelado. Eu perguntei então o que a Trenitalia ia fazer, se eles iam me colocar em outro trem, devolver meu dinheiro, pagar minha acomodação em Roma. Ele disse que não tinha nem idéia.

Um cara que estava na fila, ouvindo minhas perguntas, apontou para um trem e disse “aquele trem vai para Florença, entra nele”. Estava escrito Milão, mas ele disse que Florença era sempre uma parada nos trens rápidos, e que era talvez o único jeito de chegar lá naquele dia.

Eu confirmei com o condutor, e mostrei para ele minha passagem comprada no Brasil, porque eu sabia que podia aparecer um fiscal no caminho. Eu perguntei se, com todos os problemas, essa passagem era válida, se eu podia carimbá-la ou algo assim com um funcionário da Trenitalia. Ele olhou para mim e disse que eu podia entrar no trem, mas que ele não tinha nenhuma idéia do que ia acontecer se alguém pedisse para ver a passagem. Eles poderiam me dar uma multa ou não.

Eu entrei no trem, e dei sorte, porque não teve um fiscal – provavelmente por causa dos problemas mesmo, porque geralmente nos trens rápidos tem um. Quando eu finalmente cheguei na minha host family, eles nem esperavam mais por mim, porque ficaram sabendo de tudo que tava acontecendo em Roma e eles tinham certeza que eu ficaria presa lá. 

Esse incidente me deixou bem nervosa por algumas horas, mas depois me deu muita confiança. Antes de viajar, eu ficava pensando “espero que nada dê errado”, e depois passei a pensar “algo dar errado é normal, acontece. E se acontecer, eu resolvo”. Claro que foi mais difícil por ser a minha primeira viagem para o exterior sozinha e por não ter muita confiança no meu italiano, mas por isso mesmo me deu ainda mais confiança.

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