Volta ao Mundo em Livros: Noruega – A Morte do Pai

Quando chegou a vez de ler um livro da Noruega, aproveitei para escolher um livro que eu já queria ler: A Morte do Pai, primeiro volume de Minha Luta, de Karl Ove Knausgaard. Eu já tinha ouvido muito bem do livro, muito sobre as controvérsias, e também comparação com a Elena Ferrante, que eu li para a Itália e amo, dizendo que Knausgaard x Ferrante é a comparação literária que nos define atualmente, o Tolstói x Dostoiévski da nossa era.

Começando a falar sobre as polêmicas, a primeira é sobre o título da série de livros, Minha Luta, tirado do livro de mesmo nome escrito por Hitler. Outra polêmica é sobre como o autor fala de detalhes de sua vida. O livro vendeu meio milhão de cópias na Noruega, um país que tem cinco milhões de pessoas, então as pessoas que ele retrata ficaram conhecidas, muitas vezes pela perspetiva narcisista do Knausgaard. Alguns o processaram, outros foram a tabloides para contar seu lado da história, muitos ficaram irritados de terem sido incluídos no projeto com seus nomes verdadeiros. O autor já falou em entrevistas que ele queria fama, que ele acredita no potencial artístico de contar tudo da sua vida com toda a honestidade que ele podia, mas as outras pessoas que estão lá não fizeram essa escolha, e ele conta depois como a publicação o alienou de amigos e da família.

O primeiro volume se concentra na adolescência do autor, ou da versão autoficcionalizada do autor, e em um momento que acontece quando ele tem trinta anos, a morte de seu pai. O pai dele em um momento se muda para a casa da própria mãe e bebe até morrer. Knausgaard chegando lá acha a casa em um estado deplorável, com cheiro de urina, com fezes em cima dos móveis. Esse inclusive foi um dos episódios que geraram processos, do próprio tio de Knausgaard, que não gostou de como o escritor descreveu a avó senil e incontinente, que não pode fazer nada enquanto o filho destruía a casa. No final, o processo só foi mais propaganda para o livro.

O modo como o autor fala da infância e da adolescência tem alguns momentos que curti muito, mas a técnica dele é de incluir tudo, de ser brutalmente honesto, e isso pode fazer às vezes com que o livro seja muito repetitivo, ou que se foque por muito tempo em algo irrelevante. A linguagem, como ele diz, quer refletir a banalidade da vida cotidiana, e isso faz com que ela pareça banal. Ele lista objetos, descreve longamente tarefas do dia a dia, e usa expressões e gírias clichês, e o livro é repleto de momentos que a maioria dos autores cortaria do livro. O motivo dessas escolhas era bem claro, mas fazia com que o livro parecesse para mim um experimento, mais preocupado em ser diferente do que com tudo. Como eu disse, teve momentos que eu curti muito, e por isso talvez ainda leia os outros volumes. Mas tenho que confessar que se Ferrante x Knausgaard realmente nos define, eu já tenho lado.

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