Volta ao Mundo em Livros: Paquistão – The Reluctant Fundamentalist

Chegou a hora de escolher um livro para representar o Paquistão na Volta ao Mundo, e recebi várias indicações que pareciam promissoras. Um dos autores que mais apareceu foi Mohsin Hamid, e acabei lendo seu segundo livro, The Reluctant Fundamentalist.

O romance começa quando Changez, o narrador, encontra um turista dos EUA em Lahore, a capital do Paquistão, e o convida para tomar um chá. Ele começa a conversar com o turista, cujas respostas nunca aparecem no livro, e começa a contar a própria vida. Changez vem de uma família de classe alta do Paquistão, que está em derrocada, mas que ainda via como uma questão de status poder mandá-lo para estudar nos Estados Unidos. Ele se muda então para lá aos 18 anos, para estudar em Princeton, onde ele tenta se comportar como o estereótipo do ricaço do Oriente Médio, embora na verdade ele divida seu tempo em três trabalhos no campus, em lugares pouco freqüentados.

Assim que ele se forma, ele é contratado por uma firma importante de Nova York, para onde ele se muda. Lá ele se sente incluído – ele comenta que em tantos anos nunca se sentiu estadunidense, mas imediatamente se sentiu novaiorquino. Para comemorar a formatura, ele vai com a turma em viagem para a Grécia, e se apaixona por Erica, uma menina de classe alta.

No entanto, ele entra em crise depois do 11 de setembro. Em um jantar, alguém fala para ele dos janízaros, cristãos capturados e criados pelos otomanos que se tornavam seus guerreiros mais sanguinários, e ele começa a se comparar com eles. Ele deixa crescer a barba, começa a se preocupar com seu emprego, vendo-se como um servo do Império estadunidense, e vê a sua relação com o país mudar muito.

Nesse ponto, o narrador também começa a ficar a cada momento mais crítico dos Estados Unidos e sua eterna interferência em outros países. A gente não sabe se o fundamentalista do título é Changez, que revelará que ele se tornou um fundamentalista religioso, ou os próprios Estados Unidos. E parte disso parece estar contida na sua relação com o hóspede estadunidense, pois a cada minuto mais parece que esse não foi um encontro fortuito. Eles estão menos e menos confortáveis um com o outro, e Changez comenta que o outro tem um volume com um brilho metálico que pode ou não ser uma arma.

O romance fala muito sobre identidade, e sobre a promessa de uma identidade universal, de ser cidadão do mundo, formado em uma Ivy-League, morador de Nova York. E da descoberta dolorosa de que ser cidadão do mundo na verdade tem uma origem, cor de pele e religião – Changez começa a perceber que ele sempre vai ser visto como um estrangeiro, muçulmano, religião que ele não pratica, e árabe, porque a maioria dos seus interlocutores o associa com um tanto de preconceitos sem nem ter noção de que paquistaneses não são árabes. É uma história sobre ser jogado na posição de outro, e de tentar conciliar suas identidades e talvez por isso só o outro fale – o estadunidense, como eu mencionei, não tem voz. Gostei muito do romance, que gerou questões bem interessantes, e quero ler mais do autor.

Deixe uma resposta