Volta ao Mundo em Filmes: Moçambique – Desobediência

Quando eu estava procurando um filme para ver para representar Moçambique, o nome de Licínio Azevedo, um gaúcho que vive no país desde os anos 70, aparecia sempre. Muita gente me recomendou seus filmes Desobediência, Comboio de Sal e de Açúcar, e Virgem Margarida. Eu acabei ficando com Desobediência, embora todos eles parecessem promissores.

O filme conta a história de um mulher, Rosa, cujo marido comete suicídio, deixando um bilhete acusando-a de ser desobediente. No início do filme, a gente a vê preparando um banho para ele, e ele reclamando, mandando colocar a água em outro lugar, e depois passando horas com amigos para então reclamar que a água tá fria. Acusando-a de ser uma esposa ruim, ele corre atrás dela com uma faca. No entanto, depois que ele morre, essas alegações que ele tinha feito são usadas pela família dele para acusá-la de matá-lo. Eu comecei a temer o que ia acontecer pensando no livro que li para Moçambique, Niketche, que mostra que quando um homem morre, a família dele frequentemente acusa a sua esposa de feitiçaria para ficar com todos os seus bens e jogá-la com os filhos na rua. E no filme, por mais que os outros membros da família digam que não estão fazendo isso por interesse, foi exatamente a  impressão que tive quando eles a arrastam para um julgamento depois do outro. 

Mas em um ponto, o filme começa a falar da equipe de filmagem, e mostra o próprio diretor, Licínio de Azevedo, indo conversar com a família. Então ficamos sabendo que essa história realmente aconteceu, e com essas pessoas mesmo, e o diretor os convenceu a reviver o que aconteceu e interpretarem a si mesmos. O homem que faleceu é interpretado pelo seu irmão gêmeo.

O diretor conta que as pessoas da família nunca tinham visto um filme, e que elas entraram no projeto principalmente para reviver o que tinha acontecido. Assim que as cenas acabavam, as discussões recomeçavam, ainda mais acaloradas, então ele começou a filmá-las também. Então o filme corta das cenas que mostram a história de forma linear para essas cenas da família discutindo. E por isso o filme tem um aspecto meio meta, um filme sobre fazer um filme, com atores que interpretam o que eles realmente viveram.

Fiquei muito feliz com a escolha e querendo ver outros filhos do Licínio Azevedo, porque achei um filme muito tocante e  inteligente.

Deixe uma resposta