Essaouira – tranqüilidade e multiculturalismo na costa Atlântica do Marrocos

Essaouira foi a cidade perfeita para ir por um dia relaxar do caos de Marrakech. Aliás, meu único arrependimento foi não ter ficado mais tempo por lá. Essaouira não é famosa, como outras cidades que visitei, por ter uma Kasbah histórica, palácios monumentais nem lugares sagrados, é uma cidade de praia, mas que muita gente evita no verão porque o vento do Atlântico a torna muito menos acolhente do que as praias do Mediterrâneo. Mas o motivo pelo qual tanta gente ama Essaouira é porque é um lugar perfeito para relaxar, aproveitar ruazinhas pintadas de azul e enormes mercados, com uma atmosfera tranqüila de trilha hippie do Marrocos.

Marrocos Essaouira ruas brancas minarete

Eu fechei o transporte para Essaouira no meu albergue em Marrakech, e foi uma péssima decisão. O albergue prometia um transporte apenas um pouco mais caro que um ônibus da Supratour ou da CTV, as companhias mais famosas do Marrocos, mas que sairia direto da porta do albergue e não precisaria parar em outras cidades do caminho, então seria mais prático e rápido. Só que depois de sair do albergue eles nos deixaram mofando na van por uma hora enquanto chegavam pessoas de outros albergues, e no caminho para lá pararam duas vezes. A primeira foi para ver as cabras comendo argan em cima de uma árvore, para quem quisesse tirar foto – aparentemente as cabras gostam muito do fruto, mas tive minhas dúvidas da ética de deixá-las plantadas lá o dia todo. A segunda foi em uma cooperativa de mulheres produtoras de Argan, o que me deu sentimentos mistos. Eu queria comprar argan e foi legal, mas dizem que a maioria dos lugares que se vendem como cooperativas de mulheres não são. Resultado, se eu fosse de novo: eu pegaria um ônibus normal e passaria pelo menos uma noite em Essaouira.

Marrocos Essaouira cabras comendo argan árvore

Mas eu finalmente cheguei a Essaouira, e a van me deixou entre a cidade murada e o mar. O lugar onde fica Essaouira é ocupado desde a antiguidade, mas a cidade que a gente vê hoje vem principalmente do século XVIII. O Sultão Mohammed III planejou reorientar seu reino em direção ao Atlântico, para aumentar as ligações com os países da Europa, e construir um porto próximo a Marrakech. Essaouira foi escolhida como um ponto chave nessa época. 

Marrocos Essaouira rua com arvores

Marrocos Essaouira porta 5

O rei contratou um arquiteto francês, Théodore Cornut, para planejar a cidade, e vários outros para construir fortes e prédios modernos, que seguissem a moda e os costumes da Europa. Originalmente, a cidade deveria se chamar Souira (“pequena fortaleza”), mas o sucesso das obras inspirou um nome novo: Essaouira (“bem desenhada”).

Marrocos Essaouira muros com roupas

Marrocos Essaouira porta 1

E a cidade realmente reflete essa história de cidade de porto, multicultural, absorvendo influências que chegam por todos os lados. Quando eu andava pelas muralhas, ela me lembrava de Saint-Malo, uma cidadezinha murada no norte da França.

Marrocos Essaouira muralhas 4

Marrocos Essaouira muralhas 3

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Quando eu caminhava pela cidade, as ruas brancas e azuis me lembravam da Andalusia ou do sul da Itália, na Puglia

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Marrocos Essaouira ruas brancas cidade

Marrocos Essaouira muralhas 1

As portas cercadas de azulejos me lembravam de Portugal, ou das cidades coloniais do Brasil.

Marrocos Essaouira porta azulejos

Marrocos Essaouira porta 3

Marrocos Essaouira porta 2

Marrocos Essaouira porta 4

E os mercados, os cheiros, as mesquitas vislumbradas pela porta (não muçulmanos não podem entrar), tudo o mais não me deixava esquecer que eu estava no Marrocos.

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Marrocos Essaouira espiando portas

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Durante o meu mestrado em história, discutimos muito a antropologia de cidades de porto. Elas são vistas nessa área como culturas marginais, que às vezes chegam a ter mais semelhanças entre si do que com o interior do país, que compartilham uma cultura de comida, onde se fala línguas francas, onde há mais tolerância religiosa. Andando por Essaouira, eu não conseguia parar de pensar nesse conceito e como ele fazia sentido para pensar nela. Até o fim do século XIX, ela foi o principal porto do Marrocos, vendendo para o mundo inteiro o que vinha de Marrakech ou, por lá, o que vinha das redes de caravanas desde Timbuktu.

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A multiculturalidade foi o que fez de Essaouira um Patrimônio da Humanidade segundo a UNESCO, popular com os hippies europeus nos anos 60, e ainda hoje, é o melhor motivo para visitá-la.

Clique na imagem para ler mais sobre minha viagem pelo Marrocos.

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