Destaques da arte russa na Galeria Tretiakov em Moscou

O Hermitage pode ser o museu mais conhecido da Rússia, mas quando o assunto é arte russa os melhores museus são a Galeria Tretiakov (ou Tretiakova, no genitivo, em russo) e o Museu Russo de Petersburgo. Amei a Tretiakov porque conheci tanto da história da Rússia e aspectos da cultura do século XIX, cuja literatura eu amo. Esses são alguns dos destaques que me encantaram lá.

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Eu comecei a Galeria pelos quadros mais famosos, a maioria ícones do século XV. O único pintor que eu conheço dessa época é Andrei Rublev, por causa do filme de Tarkovski. A Galeria Tretiakov tem várias de suas obras, inclusive a Trinidade, tida como a mais famosa – e o ícone mais famoso da pintura russa.

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Crédito: wiki commons

Durante a moda do século XIX de pintar cenas da história russa, Viktor Vasnetsov pintou Bogatirs, sobre nobres famosos do século XII. Ele pintou Ilya Muromets, um cavaleiro russo, e os dois homens que eram seus companheiros nos épicos russos: Dobrinya  e Aliosha. 

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Um dos quadros famosos do museu é o Ivan, o Terrível, de Iliá Repin. O quadro mostra o momento em que o tsar assassina seu único filho. Depois de Ivan, com seu único herdeiro sendo uma pessoa com deficiência séria, a Rússia entraria no Tempo das Dificuldades, antes da ascensão dos Romanov.

A pintura, que mostra o tsar desesperado segurando o corpo do filho, sempre foi alvo de controvérsias. O tsar Alexandre III ordenou que ela fosse retirada do museu por um tempo por retratar a monarquia em uma luz ruim. Depois ela foi alvo de vandalismo duas vezes por parte de fanáticos da monarquia, em 1913, quando foi reparada pelo próprio Repin, e em 2018, um pouco depois de quando eu visitei a Galeria. Felizmente o babaca não atingiu as mãos nem o rosto de Ivan!

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No século XVII, o patriarca Nikon tentou reformar a igreja ortodoxa. Um grupo de pessoas se revoltou contra isso, e continuavam a rezar com as maneiras antigas, e se chamavam de Velhos Crentes. A repressão contra eles foi enorme, e durou séculos (na casa do escritor Gorki há uma capela art nouveau secreta dos Velhos Crentes). Uma das pessoas mais influentes da religião foi Teodosia Morozova, que morreu na prisão e é tida como mártir dos Velhos Crentes. O quadro Boyaryna Morozova de Sorokin a mostra em Moscou.

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Quando o tsar Alexei morreu, ele deixou dois filhos: Ivan, uma pessoa com deficiência, e Pedro, uma criança pequena. Quando a população ouviu que o trono passaria a Pedro, eles se rebelaram, e os dois irmãos acabaram dividindo o trono. Durante a minoridade de Pedro, a irmã deles, Sofia Alexeevna, serviu como regente, algo extraordinário durante uma época em que mulheres moscovitas ainda eram reclusas em casa. Ela conseguiu o poder em grande parte por causa do apoio dos Strelsi, guardas de infantaria que a apoiaram. Depois, quando Pedro assumiu a maioridade, ele trancou a irmã no Convento de Novodevichi em Moscou, onde ela foi forçada ao isolamento, só podendo ver outras freiras durante a Páscoa. Na pintura Tsarina Sofia Alexeevna, de Iliá Repin, ela é mostrada no convento, enquanto um streltsi, seus antigos guardas, pode ser visto morto do lado de fora na janela. Isso foi feito às ordens de Pedro para mandar uma mensagem de que ela não deveria tentar voltar ao poder. 

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Crédito: wiki commons

Outra pintura com temática da época é a Manhã da Execução dos Streltsi, de Vladimir Sorokin, que mostra a execução pública dos Streltsi depois que alguns deles tentaram assumir o poder.

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Durante o século XVIII, quando a tsarina Catarina, a Grande, tinha usurpado o trono do marido e do filho, surgiu uma pretendente ao trono que dizia ser uma filha secreta da Tsarina Elizabeth. Catarina mandou o conde Orlov para seduzi-la e colocá-la em um navio para a Rússia, onde ela ficou presa na Fortaleza de Pedro e Paulo. O quadro de Konstantin Flavitsky a mostra na prisão durante uma inundação, e foi chamado de A Princesa Tarakanova na Prisão. Tarakanova em russo significa barata, e foi um apelido frequentemente dado a ela depois de sua morte.

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Em 1871, quando o pintor Vereshchagin testemunhava a colonização russa do que depois virou o Turcomenistão, ele fez uma série de pinturas, a mais famosa das quais é a Apoteose da Guerra. Ele dedicou a pintura a “todos os conquistadores do passado, presente e futuro”.

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Sobre a história e a sociedade russa do século XIX, a galeria tem uma coleção importante de retratos de grandes escritores. Um dos mais célebres é o Retrato de Pushkin feito por Kiprenski. Contemporâneos e críticos achavam que esse era o melhor retrato do pai da literatura russa. 

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Mas a minha maior inspiração para ver a Rússia foi Dostoiévski, por isso uma das pinturas que eu mais queria ver era o Retrato de Dostoiévski de Vassili Perov. Existem várias outras pinturas e fotos do autor, mas essa é a mais frequentemente reproduzida. O escritor escolheu Perov, um de seus artistas preferidos, e o pintor se dedicou tanto ao trabalho porque eles se reconheciam como almas semelhantes. Talvez por isso ela seja preferida às fotos: mais de um comentador já disse que ela parece querer mostrar a vida interior do autor. Se ele te interessa, não perca o post com o itinerário de Crime e Castigo em Petersburgo.

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Uma das pinturas mais famosas da Galeria é o Retrato de Uma Mulher Desconhecida, de Ivan Kramskoi, porque ela foi vista como um tipo de mulher moderna, e frequentemente associada com mulheres da literatura do século XIX, como Anna Karenina e a Nastassia Filipovna do Idiota de Dostoiévski.

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Outra pintura famosa do final do século XIX é o Casamento Desigual, de Vassili Pukirev. Ela causou frisson na época, por mostrar uma noiva jovem com um homem rico mais velho, um tema da época. O autor se retratou como um dos convidados, e isso deu origem a uma história de que a história foi baseada em sua vida.

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Outra pintura importante para a época foi O Retorno Inesperado, de Iliá Repin. Ela mostra a simpatia que o artista tinha pelos revolucionários russos, e mostra um deles, com a barba por fazer e um casaco de camponês, que volta para casa do exílio.

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Savrasov, um dos pintores de paisagens mais famosos da época, tem várias pinturas na galeria, mas a mais reconhecida é O Retorno dos Corvos, que mostra o fim do inverno e a chegada da primavera.

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Serov, outro pintor do fim do século XIX, é conhecido por ter um estilo parecido com o dos Impressionistas, embora ele não tenha tido contato com eles até tarde na sua vida. Quando ele fez Menina com Pêssegos, ele ainda não sabia nada deles. Ele era o retratista mais famoso da época, procurado por aristocratas e pela família real, mas foi esse retrato feito na casa dele que foi considerado a sua obra-prima. 

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Uma das pinturas mais famosas do museu tem uma história um pouco complicada. O pintor Ivan Shishkin pintou uma paisagem conhecida como Manhã em uma floresta de pinheiros. Depois outro pintor, Konstantin Savitski, acrescentou uma família de ursos. O dono da galeria, Pavel Tretiakov, apagou a assinatura do segundo pintor e deixou somente a do mais famoso, dizendo que a pintura mostrava o talento dele. Ela é uma das pinturas russas mais reproduzidas até hoje. 

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Uma das partes imperdíveis do museu é a ala dedicada ao Art Nouveau. As pinturas mais famosas são de Mikhail Vrubel, como A Princesa Cisne. Na época ele estava fazendo o cenário para a ópera O Conto do Tsar Sultan, de Rimsky-Korsakov, baseada em um conto de Pushkin, e fez também essa pintura, que remete aos contos de fadas russos.

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Ele também pintou o Demônio Sentado, geralmente visto como uma referência a Lermontov. O museu tem várias obras dele, não só pinturas, mas também esculturas e maiolica. Ele também foi responsável pela decoração do hotel Metropol em Moscou.

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No início do século XX, a pintura O Banho do Cavalo Vermelho fez a fama de Kuzma Petrov-Vodkin. Ela causou sensação, e muitos tentaram adivinhar o sentido alegórico: o cavalo era a Rússia? Depois muitos disseram que foi uma premonição, já que o destino do país pelas décadas seguintes realmente seria “vermelho”.

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