Volta ao Mundo em Livros: Equador – The Revolutionaries Try Again

Para representar o Equador, escolhi o livro The Revolutionaries Try Again, de Mauro Javier Cardenas. O livro se passa nas décadas seguintes à morte suspeita de Jaime Roldós Aguilera, primeiro presidente eleito democraticamente no Equador, conhecido pela postura firme em defesa dos direitos humanos, e que menos de dois anos depois de eleito, morreu em um acidente de avião. The Revolutionaries Try Again fala de um grupo de amigos da cidade de Guayaquil, a mesma de Aguilera, que freqüentavam um colégio jesuíta de elite na cidade, onde tinham que catequizar os pobres como parte de um grupo apostólico. Anos depois, já adultos, eles tentam influenciar a política do país, em tumulto desde a morte de Aguilera.

Um dos amigos, Leopoldo, trabalha como assessor para o prefeito de Guayaquil, Cordero, que está tentando a presidência depois de um golpe contra o último presidente, conhecido como El Loco. Mas Leopoldo planeja manobrar secretamente para colocar outro na presidência, Julio, um colega do colégio jesuíta que sempre causava problemas, mas que era inteligente e rico. A grande “qualificação” que Leopoldo quer usar como trunfo é que Julio tem uma empresa que faz produtos de sardinha – ou seja, ele é um empreendedor que cria empregos, e como o Equador me lembra o Brasil nesse momento. Para a campanha, ele chama outro colega, Antonio, que estava vivendo em San Francisco desde que se formou em economia em Stanford. Ele sempre quis voltar para o Equador para contribuir com o seu país, mas só conseguiu um trabalho no Bank of America, e tenta escrever um romance. Ele está sem direção, preso entre o idealismo da juventude e o materialismo atual, e por isso aceita voltar para casa e ouvir o que Leopoldo tem a dizer.

Antonio tem muitas semelhanças com o autor, que também é de Guayaquil, também estudou economia em Stanford e também planejava voltar ao país natal para ser um político. E Antonio também tenta escrever um romance. É ele que o romance segue na maior parte do tempo, de forma cada vez mais experimental. Quando ele volta ao país, isso é descrito em um capítulo de mais de vinte páginas, mas apenas duas frases. Os capítulos alternam mais e mais entre o espanhol e o inglês, com dois capítulos inteiros em espanhol, de conselhos das avós de Antonio e Leopoldo.

Assim que Antonio volta ao Equador, ele e Leopoldo revertem aos seus eus da adolescência, e as conversas dos dois ficam sempre cheias de insultos homofóbicos ou misóginos. Antonio, que nos últimos anos em San Francisco só tinha amigas, começa a pensar nisso, que se Leopoldo fosse mulher, ele se sentiria confortável para dizer que sentiu a sua falta, mas como eram dois homens, ele preferia esse tipo de conversa, o que é basicamente uma confissão escrita da masculinidade frágil.

O romance também segue alguns dos ex colegas do colégio jesuíta, como Rolando, que tenta montar uma rádio comunitária. Para mim, uma das partes mais interessantes foi quando o livro entra na pele de duas mulheres próximas a ele, sua namorada Eva, e sua irmã Alma, e mostra como é ser uma mulher naquela comunidade. 

Leopoldo e Antonio se vêem como revolucionários, e, para manter essa ilusão, eles ignoram ao mundo ao redor. Eles vêem o padre da escola como uma espécie de mentor, e por isso ignoram quando ele diz que eles são parte do problema. Por isso eles não vêem a relação entre a misoginia e a homofobia da suas “piadas” e o que sofrem as personagens do romance. Eu senti o livro como uma acusação contra os políticos idealistas, que dizem que querem o posto para melhorar o país, mas que não conseguem sair da sua posição de privilégio de homem branco da elite, que acham que sabem o que é melhor para “os pobres” porque estudaram nos Estados Unidos, e esse não é um retrato da América Latina?

Eu tive momentos de dúvidas se esse foi mesmo o melhor livro para representar o Equador quando percebi que ele tinha sido escrito em inglês. Não sei como não descobri isso antes, achei que estava lendo uma tradução. Mas gostei bastante do livro, e cheguei a conclusão que valeu.

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