Piazza della Signoria – estátuas e prédios para apreciar o renascimento em Florença sem pagar nada

Há séculos, a Piazza della Signoria é o centro da vida política de Florença. É o ponto de origem da República Florentina, e onde Girolamo Savonarola acendeu a Fogueira das Vaidades para queimar objetos que induzissem os florentinos a pecar. Hoje também é onde turistas convergem para ver o Palazzo Vecchio, a entrada para a Galleria degli Uffizi e suas obras primas do Renascimento, e para fazer uma pausa nos cafés históricos da praça.

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A execução de Girolamo Savonarola na mesma praça, pintura de Francesco di Lorenzo Rosselli

Um prédio famoso da praça é o Palazzo Vecchio, também conhecido como Palazzo della Signoria. Ele foi construído em uma época que Florença se reestruturava, depois de passar o século doze inteiro submersa nas disputas entre as facções dos guelfos (apoiadores do papa no conflito por quem herdaria o Sacro Império Romano Germânico) e gibelinos (apoiadores do Império). Quando os guelfos finalmente venceram e destruíram as casas dos Gibelinos, resolveram construir um palácio no lugar da casa dos Uberti, a principal família Gibelina, para garantir que ela não pudesse ser reconstruída. O palácio foi construído entre 1298 e 1302 por Arnolfo di Cambio, e depois passou por várias reformas.

Depois, quando a República caiu e começou o governo dos Medici, eles se declaram duques da Toscana e fizeram do palácio a sua sede. Por duas vezes os florentinos expulsaram os Medici, na primeira com Savonarola e na segunda em uma tentativa de reestabelecer a República, mas eles retornaram nas duas vezes e continuaram seu governo da cidade. Eventualmente eles mudaram sua sede para o Palazzo Pitti, que foi quando o Palazzo central ficou conhecido como Vecchio – velho. Mas eles ainda tinham negócios por lá, e, com medo da população, construíram um enorme corredor para passar de um para outro em isolamento. Ele passa pelo Palazzo Vecchio, para os Uffizi, atravessa o rio em cima da Ponte Vecchio e chega no Palazzo Pitti.

O palácio é cercado de estátuas, todas as quais têm um significado político. A mais óbvia é a estátua equestre de duque Cosimo I, de Giambologna, mas todas elas foram colocadas lá por um motivo.

Na frente do palácio, ficava a estátua original do David de Michelangelo. Depois ela foi colocada na Accademia, para ser protegida dos elementos, e colocaram uma cópia no lugar. Ela é vista como símbolo do República florentina, representada por David, vitoriosa contra seus inimigos.

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Outra estátua na frente do palácio é a de Baccio Bandinelli, Hércules e Caco, que mostra um incidente durante o décimo dos doze trabalhos de Hércules. Ela foi encomendada pelos Medici como representação de sua força física e para mostrar que o governo da República tinha acabado. Por isso eles colocaram Caco derrotado olhando na direção do David.

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Judith e Holofernes, de Donatello, originalmente ficava dentro do palácio, e significava a virtude que derrota o vício, mas ele foi saqueado pela população quando os Medici foram expulsos da cidade pela segunda vez, e colocado triunfantemente na praça como símbolo do poder do povo de matar tiranos. Hoje ela está de novo dentro do palácio, mas uma cópia fica ao lado do David.

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A estátua dentro do palácio. Crédito: wiki commons

Outra escultura famosa na fachada do palácio é a Fonte do Netuno, construída por Bartolomeo Ammannati como a primeira fonte pública da cidade. A idéia do Netuno tinha a idéia de representar a conquista de Siena, que tinha o território marino de Livorno. 

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Um dos símbolos mais importantes de Florença é o Marzocco, a estátua de um leão carregando a flor de lis, outro símbolo da cidade. Foram várias estátuas de leão que se revezaram nesse lugar, e a que está lá hoje é a cópia de uma estátua de Donatello que hoje está preservada no Bargello.

O pátio de entrada do palácio, conhecido como Cortile di Michelozzo, foi construído por Giorgio Vasari, e é aberto para visitação gratuita. Os afrescos nas paredes mostram vistas de cidades da Áustria, comemoração do casamento de Francesco Medici com a arquiduquesa Johanna. 

palazzo della signoria interior

Para ver o resto do palácio, é necessário comprar um bilhete, mas vale a pena, especialmente pelo Salone dei Cinquecento, que foi feita às ordens de Savonarola, que pretendia criar um conselho de quinhentos cidadãos para governar a cidade. Ele foi feito em 1494 por Simone del Pollaiolo. Depois, com o retorno dos Medici, Cosimo I mandou que ele fosse aumentado, destruindo um afresco que existia de Da Vinci. Hoje nas paredes ficam afrescos de Vasari que mostram principalmente as vitórias de Florença sobre as cidades da região, como Pisa e Siena.  O palácio todo vale a pena visitar.

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crédito: wikicommons

Do lado do palácio, mais uma curiosidade. Diz a lenda que toda vez que Michelangelo passava pela Piazza della Signoria, era parado por um homem que não parava de falar. Um dia em que o escultor carregava seu cinzel, ele desenhou o perfil do homem na pedra do palácio. Há séculos que os florentinos chamam a imagem de “o importuno”. Ninguém sabe se a história é verdade, mas o rosto realmente está lá.

Outro dos lugares imperdíveis para visitar na praça é a Loggia dei Lanzi, um prédio construído no século XIV para abrigar cerimônias públicas, depois para abrigar os guarda-costas suíços do duque Cosimo I (chamados de Lanzichenecchi, e que por isso deram nome à Loggia) e que hoje serve como um museu de esculturas a céu aberto. Essas estátuas surgiram com a intenção de inspirar os governantes no Palácio. 

As estátuas dos Leões estão entre as mais famosas da Loggia. Um dos leões é uma escultura romana do século II, e o outro foi feito no século XVI. 

Uma das esculturas mais famosas é o Perseu com a cabeça de Medusa, de Benvenuto Cellini. Ela tem um significado oposto ao David, porque foi encomendada pelo duque Cosimo I, que tinha dito que tinha “cortado” a experiência republicana em Florença e instituído o grão-ducado da Toscana. A cabeça de Medusa seria a República, vista como muito propensa a conflitos, que seriam as cobras que saem de sua cabeça.

Para mim a estátua mais impressionante é O Rapto das Sabinas, de Giambologna. Ela conta uma história do início de Roma, de quando ela teria sido fundada pela figura mítica de Rômulo. Como seus seguidores eram principalmente homens, eles convidaram populações vizinhas para um festival de Netuno que inventaram e, quando os homens estavam embriagados, eles os mataram e seqüestraram as mulheres para se casarem com os homens romanos. Vários escritores romanos contam a história, falando de como os romanos explicaram para as mulheres cujos parentes eles tinham acabado de matar que a culpa do incidente era dos próprios parentes, que não tinham permitido que nenhuma mulher do seu povo se casasse com um romano. A palavra raptio, em latim, daria origem tanto à palavra rapto, em português, quanto a rape, estupro, em inglês. A estátua mostra o momento em que eles convenceram as mulheres, se você acreditar nessas fontes. 

O interessante para mim da estátua é que ela me lembra um comentário de Michelangelo, que uma estátua bem feita é aquela que te dá vontade de dar a volta nela e ver cada ângulo, e ela realmente dá. 

estátua rapto das sabinas florença

palazzo della signoria estátua

Outra estátua na Loggia é a de Hércules contra o centauro Nesso, de Giambologna. Assim como o rapto das sabinas, ela foi feita em um bloco só de mármore.

Mais um conjunto que dá vontade de ver por todos os ângulos é o que mostra o Rapto de Polixena, uma princesa troiana. Aquiles se apaixonou por ela, então a rainha de Tróia, Hécuba, propôs que eles se casassem em troca de o herói grego abandonar a guerra. Mas era uma armadilha, em que ele foi morto por Páris, irmão de Polixena. Depois o filho de Aquiles a exigiu como “butim de guerra” e a matou em cima do túmulo do pai. 

Ela também é a estátua mais moderna da praça, e foi feita no século XIX. Atrás dela, dá para ver o primeiro trecho do corredor feito pelos Medici para ligar o Palazzo Vecchio ao Palazzo Pitti, o Corredor Vasariano.


Outra estátua tem o tema da guerra de Tróia, a de Pátroclo com Menelau, que é uma cópia de autor desconhecido de uma estátua grega redescoberta quando foi escavada do Fórum de Trajano.

Ao redor da praça, ficam alguns prédios menos famosos entre turistas, como o Palazzo Uguccioni. Ele é muito conhecido pela fachada, que já foi atribuída a Rafael, Michelangelo e outros gênios do renascimento.

Entre os outros prédios, acho que vale a pena falar sobre o Palazzo delle Assicurazioni Generali, porque ele foi construído em 1871, mas em estilo renascentista toscano, para combinar com o resto da praça.

Pelo número de atrações só nessa praça, dá para ver quanto tem para ver em Florença, e porque a cidade é chamada de Berço do Renascimento.

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