Tétouan, centro de artesanato em uma medina branca

Tétouan foi uma daquelas cidades ideais pelas quais procuro quando estou viajando. Ela tem uma história interessante e multicultural, uma medina branca muito preservada e reconhecida como patrimônio da Unesco, é conhecida como um centro de artes, e é surpreendentemente pouco visitada.

Marrocos Tetouan medina 1

O meu passeio por Tétouan foi quase uma escalada. Eu cheguei em uma estação de ônibus na parte baixa da cidade e fui subindo, passando pela parte moderna com grande influência espanhola, continuei subindo passando por mercados até chegar a medina branca, e subi ainda mais para ver ruínas e a vista. A cada camada, encontrava lugares mais antigos.

A primeira parte que visitei é a mais nova da cidade, o Ensanche, construída quando os espanhóis colonizaram parte do Marrocos no século XIX. Tétouan foi feita a capital do Protetorado Espanhol. Nessa época foram construídos alguns prédios em estilo Art Nouveau, escolas, igrejas católicas e teatros que ainda operam em língua espanhola.

Marrocos Tetouan ensanche predios espanhois

A atração principal dessa parte da cidade é a praça Hassan II, conhecida por ser linda, mas geralmente inacessível para turistas por questões de segurança. Ela tem quatro torres Art Nouveau desenhados por Enrique Nieto, um aluno do arquiteto catalão Gaudì. Eu pensei que fossem minaretes à primeira vista, mas não é o caso. Do outro lado da praça, fica um muro com uma decoração enorme no formato de uma Mão de Fátima, e, entre eles, o palácio real. Como ele ainda é usado pelo rei, não está aberto para visitação.

Marrocos Tetouan palacio real com torres art nouveau

Marrocos Tetouan praça Hassan II

Saindo da praça, atravessei um portão e já estava dentro da medina, que é muito marcada pela diversidade de seus habitantes. Em Tétouan já existia uma comunidade berber que estava lá há séculos quando a população aumentou com refugiados que vinham da Espanha com a queda do Califado de Granada, no final do século XV, quando muçulmanos e judeus foram expulsos da península ibérica. Muitos deles foram para o Marrocos, como eu falei no post sobre os palácios de Marrakech construídos em arquitetura andalusa. Tétouan também sofreu essa influência, e por isso recebeu o apelido de “Filha de Granada”. Dizem que muitas pessoas da cidade, descendentes desses refugiados, ainda guardam as chaves das casas de seus ancestrais em Granada. Por causa do número de judeus que foram para lá, também era chamada de “pequena Jerusalém”. Desde os anos 60, no entanto, a maioria deles deixou o Marrocos.

Marrocos Tetouan medina branca andalusa

Marrocos Tetouan medina 2

A medina tem um setor judeu, a Mellah, um setor berber e um setor andaluso. Existem diferenças entre eles, mas de longe o que se vê é uma medina toda pintada de branco, e de perto ela tem fontes de mármore e jardins de laranjeiras, e me lembrou muito os famosos pueblos blancos da Andalusia. E essa aparência é a razão de ainda outro apelido da cidade: a Pomba Branca.

Marrocos Tetouan medina arcos

Marrocos Tetouan medina branca fonte

Pela medina ser menor, é mais tranquila de andar sem rumo sem se perder completamente. Também é bem sinalizada, com indicações de mesquitas (lembrando que as mesquitas do Marrocos são fechadas para não-muçulmanos), fontes de água, casas históricas. Muitos prédios tinham uma plaquinha verde clara com informações em árabe, espanhol e inglês.

Marrocos Tetouan medina ruas coloridas 2

Marrocos Tetouan medina ruas coloridas

Marrocos Tetouan medina ruas brancas

As ruas eram todas íngremes, e continuei então minha escalada até chegar nas ruínas da Kasbah de Tétouan. Como eu disse, quanto mais eu subia, via camadas mais antigas da cidade. A Kasbah vem do século XIII, construída como fortificação contra os ataques de Ceuta. Durante a Idade Média, Tétouan se tornou um centro importante de pirataria, planejados nessa Kasbah, e por isso ela foi destruída pelos Portugueses no século XV. Hoje ela continua em ruínas, mas tem uma vista maravilhosa da cidade.

Marrocos Tetouan Kasbah

Nesse ponto tive que começar a descer de novo, e procurei o caminho mais conveniente no Google Maps. Ele me indicou um lugar que parecia um parque, até passei por um campo de futebol no início, mas que na verdade era um cemitério. Os túmulos e mausoléus ficam espalhados pelas encostas dos morros, e vi pessoas levando cabras para pastar na grama em volta, relaxando no sol, e passeando de boa por meio dos túmulos. Infelizmente também vi muito lixo para todo lado, que era bem mais desagradável do que o cemitério.

Marrocos Tetouan cemitério kasbah vista 2

Desci atravessando a medina de novo e passando pelos Souqs. Eles são bem divididos, com setores dedicados a comida (não se espante em ver açougues a céu aberto e lugares que vendem comida que tem galinhas vivas). Como Tétouan tem uma fama de centro de arte e artesanato, dizem que é um bom lugar para fazer compras. Não tem a quantidade de lojas de medinas enormes como em Fez ou Marrakech, mas também não tem armadilhas para turistas e produtos feitos na China. É bem local. Eu acabei não comprando nada, porque queria ver mais da cidade antes de parar para olhar, mas pode ser um bom lugar para ver no fim do dia.

Marrocos Tetouan medina souqs mercados

Depois visitei a Escola de Artesanato. Como eu disse, Tétouan é conhecida pelo artesanato, e isso é em grande parte por essa escola, uma das duas do Marrocos que oferecem cursos formais na área e por isso muito prestigiosa. Os alunos estudam pintura em madeira, como fazer mosaicos decorativos, formas tradicionais de costurar com seda.

Marrocos Tetouan cidade criativa escola artesanato 2

Marrocos Tetouan cidade criativa escola artesanato 1

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Marrocos Tetouan cidade criativa escola artesanato 5

Marrocos Tetouan cidade criativa escola artesanato 6

Tétouan também tem outros museus que parecem interessantes, mas que não tive tempo de visitar. Tem o Museu Arqueológico, que mostra ainda outra camada da história da cidade, a de quando ela era parte do Império Romano, e também tem ruínas tiradas de outra cidade antiga lá perto, Lixus, onde Hércules teria visitado o Jardim das Hespérides durante seus doze trabalhos. Tem o Museu de Arte Moderna, em um castelo espanhol. E tem o museu etnográfico, conhecido pelos tecidos de seja e pelos jardins com vista para as montanhas do Rif.

Eu visitei Tétouan como day-trip a partir de Tangier, então depois da Escola de Artesanato peguei o ônibus de volta. foi uma boa escolha para passar o dia, mas muita gente também fica por lá, especialmente quem quer viajar pela costa lá perto.

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