Medinas, Souqs e Kasbahs – vocabulário essencial para viajar pelo Marrocos

Algumas palavras continuavam aparecendo enquanto eu viajava pelo Marrocos. Algumas delas eu já conhecia, mas muitas eram novas e entendê-las me ajudava a entender mais da cultura do país.

 

  • Baraka

Baraka é uma saudação usada muito pelos Marrocos. Eu aprendi que era uma forma educada de dizer tudo de “de nada”, “com licença” a “bem vindo”, uma versão ainda maior do “you’re welcome” do inglês. Ela é usada para receber bem alguém, para oferecer uma refeição ou insistir que o hóspede coma mais, por um vendedor para o comprador que o escolheu e lhe ofereceu um bom preço.

Mas ela tem um significado bem mais profundo, sobre a presença espiritual que vai de deus até aqueles que estão mais próximos dele. É um conceito muito importante no sufismo.

 

  • Bérber

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Crédito: divulgação

Os Bérberes vivem no norte da África há milhares de anos, antes dos romanos, árabes, franceses, espanhóis e outros grupos que passaram por lá. Obviamente, eles têm uma importância enorme na cultura do país, e muito do que você vê em museus e lojas é chamado de bérber (para a gente é difícil saber se realmente é ou não, mas o Museu Bérber que visitei em Marrakech tem uma ótima reputação). Uma das influências onipresentes da cultura bérber é a Jalapa, o casaco listrado com capuz pontiagudo que a gente vê para todo lado. Hoje o termo se refere principalmente aos falantes de centenas de línguas e dialetos conhecidos como bérberes.

 

  • Fondouk

Foundouks são prédios construídos ao redor de um pátio para funcionar como cooperativas de artesãos. A idéia era facilitar o acesso aos meios de produção mais caros, como fornalhas, que tinham que ser compartilhados (insira aqui piada de “comunista, vai para o Marrocos!”). Eles eram geralmente construídos em cidades por onde passavam caravanas, e por isso também costumavam ter quartos para hospedar os mercadores que passavam. Só em Marrakech, existem cerca de 140, e alguns são famosos para quem quer comprar produtos tradicionais.

 

  • Hammams

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Hammam Mouassine, que eu visitei em Marrakech

Os Hammams são banhos públicos, lugares não só de limpeza, mas para relaxar e conversar. Eles são muito comuns por todo o Marrocos, geralmente aglomerados perto das mesquitas (as mesquitas eram os primeiros lugares a receber água quente, então construir os hammams próximos a elas era questão de estratégia.)

Eles são comuns no mundo árabe, por influência do Império Romano, que dominou grande parte do Oriente Médio e do Norte da África. Eu já tinha ido a um na Turquia, mas a experiência no Marrocos foi bem diferente e também tem post próprio, contando sobre como foi ir ao Mouassine, o hammam público mais antigo de Marrakech.

 

  • Medersa (também escrito como Madrassa)

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Medersa Bou Inania, em Fez

Medersa significa escola, e é usado principalmente para escolas religiosas corânicas. Algumas delas estão entre os pontos mais visitados do Marrocos, como a Ben Youssef em Marrakech, que estava em reformas quando eu estava lá, e a Bou Inania em Fez. Ambas são conhecidas pela arquitetura andalusa.

 

  • Mesquita e palavras relacionadas

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Minarete em Ouarzazate com ninho de cegonha no topo

Uma mesquita é o templo religioso muçulmano. Em muitos países, elas estão abertas para turistas, geralmente com a exigência de que quem entre cubra os joelhos, ombros, e, no caso das mulheres, os cabelos. No Marrocos, porém, não-muçulmanos não podem entrar em mesquitas ativas. A única exceção é a Mesquita Hassan II em Casablanca. Como não visitei a cidade, não fui em nenhuma, mas não resistia a me curvar e dar uma espiada do lado de dentro quando passava por uma mesquita linda. Muitos turistas tem essa curiosidade, e a maioria dos locais achava normal ou mesmo engraçado.

Outras palavras úteis relacionadas às mesquitas são

  • Minaretes, para as torres das mesquitas, de onde eles chamam os fiéis para a oração cinco vezes por dia,
  • Adhan, o chamado para as orações,
  • Ramadan, o  mês dedicado a jejum e auto-reflexão quando os calendários se alteram,
  • Zaouia, para escolas religiosas ou monastérios.

 

  • Medina

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Vista do alto da Medina de Marrakech do Museu da Fotografia

Medina era o termo para uma cidade cercada por muros, o que na Europa eles chamariam de cidade velha. A de Marrakech é a maior do Marrocos, com centenas de mesquitas, casas, riads, souqs, praças e foundouks.

Em quase todas as cidades que visitei no Marrocos, fiquei em albergues dentro das medinas. Elas são lindas, antigas, conhecidas pelas ruazinhas labirínticas, geralmente fechadas para carros e onde grande parte das atrações de cada cidade são localizadas – perfeitas para turistas. Por elas serem labirínticas, muita gente contrata guias, e sempre tem crianças te perguntando se você quer que elas te levem em algum lugar.

Por elas serem assim, às vezes também fica fácil ficar na medina colocar o Marrocos na caixinha de país exótico e deixar por isso. Por isso também tentei visitar a parte nova de cada cidade. Quando fiz um curso de culinária em Fez, a chef, Soued, me falou que morava perto do meu albergue, e eu perguntei como era morar na medina. Ela me disse que gostava muito de como a medina podia parecer uma cidade pequena e ter um senso de comunidade, mas que tinha gente que odiava morar em um lugar onde não se chega de carro, é cheio de turistas e as casas são antigas e pequenas. Elas também sofrem de gentrificação por causa do número de casas sendo transformadas em AIrBnB. Os filhos adolescentes da Soued diziam que adorariam morar na cidade nova, onde eles saem com os amigos para cinemas e para comer pizza ou hambúrgueres. Para ela, morar na medina ou na cidade velha era questão de gosto e de comodidade, de onde é perto do seu trabalho.

 

  • Riad

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Riad Verus, onde eu fiquei em Fez

Os Riads são prédios construídos em torno de um pátio central, que geralmente tem uma fonte ou árvores. Eles foram construídos para dissipar o calor do verão e mantê-lo no inverno, e para manter a privacidade dos habitantes mas dar-lhes um espaço comunitário. Pelo mesmo motivo, eles são ótimos albergues, e fiquei em vários durante a viagem.

 

  • Souq

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Souq em Tétouan, a cidade branca conhecida peloa artesanato

Souqs ou Souks são praças com um mercado. Quando eu cheguei no Marrocos, achava que “mercado” era um lugar para visitar um dia, mas os souqs basicamente se tornaram a rua e eu passava por eles várias vezes por dia. Muitos deles são especializados, e por isso você vê uma rua onde todo mundo vende antiguidades, uma em que todo mundo vende couro, uma de objetos de casa, uma de comida, etc.

Quando eu estava andando pelos souqs, sempre aparecia alguém querendo me guiar para “a loja do meu tio” ou para farmácias bérberes. As farmácias na verdade foram bem interessantes, em que eles faziam pequenas demonstrações de remédios tradicionais, mostravam chás, temperos, perfumes. Eu comprei dos bloquinhos de perfume sólido que prometem durar por anos. De resto, não comprei muitos souvenirs, mas recomendo que quem se interessa olhe muito antes para saber reconhecer os produtos que são idênticos em todas as lojas e obviamente feitos na China e os mais locais. Eu comprei um lenço em uma lojinha de Fez onde algumas pessoas estavam trabalhando em um tear e fiquei muito satisfeita. Também recomendo muito Chefchaouen, porque parecia uma impressão geral entre viajantes de que os produtos lá são baratos e os vendedores não são muito insistentes. Não importa o que for comprar, lembre que barganhar é esperado.

 

  • Zelliges

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Azulejos no Palácio El Bahia em Marrakech

Zelliges são os mosaicos coloridos construídos com pequenas pedras polidas em formatos diferentes. Eles são comuns na arquitetura islâmica. A palavra árabe zellige também é a origem da palavra azulejo, já que eles se tornaram comuns na península ibérica justamente nos séculos de presença muçulmana.

 

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