Volta ao Mundo em Filmes: Holanda – Soldado de Laranja

Recebi muitas indicações sobre a Holanda. Os filmes Borgman e Layla M sempre eram mencionados, mas a maioria dizia que se era para ver um filme holandês, tinha que ser Soldado de Laranja, que para muitos holandeses reflete as escolhas que eles tiveram que fazer durante a Segunda Guerra. Ele foi dirigido por Paul Verhoeven, polêmico por já ter ganhado até um Framboesa de Ouro com Showgirls, mas também conhecido pelos filmes sobre a Segunda Guerra na Holanda – além desse tem Black Book, que é hoje em dia o filme mais caro já feito na Holanda.

O filme começa com imagens preto e brancas da rainha Wilhelmina retornando à Holanda do exílio, com o fim da Segunda Guerra e em meio às comemorações, um misto de arquivo histórico e cenas filmadas por Verhoeven. Ao seu lado está um de seus ajudantes, Erik Lanshof (Rutger Hauer). Depois, o filme se vira para uma cena anos antes, um trote de iniciação de uma fraternidade em Leiden onde Erik conhece Guus LeJeune (Jeroen Krabbé), Jan Weinberg (Huib Rooymans), Alex (Derek de Lint), Robby Froost (Eddy Habbema), Nico (Lex van Delden), Jacques ten Brink (Dolf de Vries) e Esther (Belinda Meuldijk). Eles ficam amigos, e a vida deles muda pouco quando a Segunda Guerra, começa, já que eles presumem que a Holanda vai ficar neutra como na Primeira. Os únicos que levam a notícia a sério são Jan, que é judeu e vê o que está acontecendo na Alemanha, e Alex, que é filho de uma alemã. Os outros continuam a ir  festas e jogar tênis.

Quando a Alemanha invade a Holanda, a maioria do grupo é pega de surpresa. Erik e Guus saem de uma festa e vão de motocicleta, ainda usando fraques, tentar se alistar ao exército. Eu me lembrei do Museu da Resistência de Amsterdam, onde aprendi que os nazistas bombardearam Rotterdam até o chão e ameaçaram fazer o mesmo com outras cidades holandesas se o país não se rendesse. Eles se renderam quatro dias depois da invasão. Por isso a missão de Erik e Guus é mal sucedida: é tarde demais. Para os amigos agora existem duas escolhas: a resistência e a colaboração.

Não é difícil adivinhar que o filme vai tratar principalmente sobre as diferentes escolhas que esse grupo de amigos fez durante a guerra. Mas acho que é nas motivações de cada um que eles são interessantes. Nenhum dos personagens é um herói perfeitinho, e aliás vários dos membros da Resistência repetem os mesmos preconceitos anti-semitas que a gente esperaria dos nazistas. Uma das melhores cenas do filme é uma em que Erik e Alex dançam tango, enquanto os convidados riem divertidos em uma festa cheia de suásticas e imagens de águias. Alex, em uniforme nazista, pergunta a Erik se ele estava mesmo na Inglaterra, lamenta que eles não estão lutando no mesmo lado, e diz cinicamente que não importa porque os dois provavelmente vão morrer antes do fim da guerra. Para mim, o filme já valeria por essa cena.

Outra das partes mais interessantes aconteceu no final do filme, e não a considero um spoiler, mas quem não gosta de saber muito da trama pode querer pular esse parágrafo. É que Robbie, um dos amigos de Erik, faz parte da resistência mas é chantageado a trai-la para proteger a noiva, a judia Esther, que os nazistas ameaçam mandar para um campo de concentração. Depois ele é morto por um dos amigos, e Esther, na época da libertação, é atacada por homens que raspam a sua cabeça para puni-la pelo relacionamento com um colaborador. Isso enquanto comemoram o fim da guerra. Harry Mulisch, o autor de O Atentado, que li para representar a Holanda, tem uma história parecida: seu pai se tornou um colaborador para proteger a esposa, que era judia, e os filhos do casal.

Soldado de Laranja me lembrou dos lugares da Segunda Guerra que visitei em Amsterdam, e foi uma boa escolha para representar o país. Se você quer saber mais sobre outros filmes, não perca a nossa lista de sugestões de filmes e livros para entrar no clima de visitar o país.

Deixe uma resposta