Volta ao Mundo em Filmes – Alemanha: Adeus, Lênin!

Quando eu estava procurando um filme para representar a Alemanha na volta ao mundo, duas indicações foram de longe as mais comuns: Adeus, Lênin!, de Wolfgang Becker, e A Vida dos Outros, de Florian von Donnesmarck. E embora sejam filmes com tons muito diferentes – um é uma comédia, o outro é um drama – eles falam sobre os últimos anos da Alemanha dividida em duas, e tem bastante em comum. Eu acabei vendo ambos e vi muitas ligações, e recomendo ambos para quem quer aprender um pouco mais sobre a Alemanha (cada dia que passa tô roubando mais nessa volta ao mundo e vendo dois, três filmes antes de escolher um). Mas escolhi falar aqui sobre Adeus, Lênin!

O filme começa quando Christiane (Katrin Sass), uma comunista leal, tem um ataque cardíaco ao ver o filho Alex (Daniel Bruhl) ser preso pela polícia em uma manifestação anti-governo que acontece durante as comemorações pelos 40 anos da Alemanha oriental. Ela vai parar no hospital, em coma, e enquanto isso o muro de Berlim cai e a Alemanha oriental deixa de existir.

Depois de oito meses, Christiane acorda do coma mas continua em um estado de saúde delicado. Os médicos avisam que qualquer choque pode causar outro ataque, dessa vez fatal. E os filhos entram em pânico pensando em como eles vão explicar que o socialismo e a Alemanha oriental, pelos quais ela lutou a vida toda, ruíram, que a filha Ariane (Maria Simon) largou a faculdade de ciências políticas para trabalhar no drive through de um Burger King, e que o que eles economizaram a vida inteira virou pó. Então eles resolvem continuar fingindo que tudo está igual, e catam do lixo os móveis e roupas antigos para encenar a vida a que a mãe está acostumada. Isso fica a cada vez mais difícil: a mãe tem desejo de comer as coisas que ela sempre comeu, mas as marcas foram todas à falência e eles tem que comprar produtos da Alemanha ocidental e colocar em jarras antigas, ela olha para janela e tem um pôster da Coca-Cola, ela quer ver tv, então um amigo de Alex (Florian Lukas) encena um jornal falso sobre as maravilhas da Alemanha oriental.

O filme tem uma camada a mais para quem viveu essa época, conversei com gente que lembra da marca de picles que o Alex procura, que morre de rir da raiva deles do papel de parede floral, que era meio onipresente nesses apartamentos, e que para eles tem meio cara de casa e vó. O filme tem tem sentimentos mistos em relação ao passado, porque Alex e Ariane parecem bem felizes com a reunificação, mas quem assiste e tinha a idade deles pode lembrar desses símbolos do passado com afeto, com Ostalgie, “nostalgia pelo leste”. É o mesmo sentimento que fez o Trabant, um carro conhecido por ser ruim, e o bonequinho de sinal de trânsito da Alemanha oriental, Ampelmännchen, virarem símbolos da Alemanha de hoje e o Museu da DDR, a Alemanha oriental, ser um dos mais amados de Berlim. O filme só funciona se ele te convencer de que os personagens estão felizes com muito do que vem com a Alemanha ocidental, mas que não queriam ter perdido todo um mundo com que cresceram. Essa ambiguidade é para mim porque o filme logo virou um clássico e porque é sempre lembrado quando falamos da Alemanha.

 

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