Volta ao Mundo em Livros – Serra Leoa: The Memory of Love

Quando eu procurei um livro para Serra Leoa, achei alguns interessantes, mas escolhi The Memory of Love, da Aminatta Forna, pela forma como ele trata o trauma coletivo, um tema que acho muito interessante.

Aminatta Forna nasceu em Londres, de pai de Serra Leoa e mãe escocesa. Eles se mudaram de volta para Serra Leoa quando ela tinha seis meses, e ela cresceu lá durante o conflito. O seu pai foi condenado a morte quando ela tinha dez anos, algo que ela retratou em outro romance, The Devil that Danced on the Water.

Já o livro que eu escolhi, The Memory of Love, começa dez anos depois do início da guerra, em um momento de cessar-fogo, e as relações entre três homens em um hospital em Freetown. O romance começa com a narração de Elias Cole, um professor de história aposentado que está morrendo, e que conta a sua vida para um psicólogo inglês recém-chegado, Adrian Lockheart. Ele fala principalmente dos anos 60, quando ele era um jovem acadêmico, e sua paixão por Saffia, a esposa de um colega. Ele é preso por sua conexão com o marido de Saffia e outros amigos tidos pelo governo como subversivos, e consegue escapar da prisão ao entregar seus diários, com narrações das conversas que eles tiveram. A cada momento, fica mais claro para Adrian que Cole não vê as conversas como terapêuticas, mas que ele as usa para escrever a sua própria versão da história, e apagar o seu passado vergonhoso.

Além de Cole, Adrian tem poucos pacientes. Ele percebe que a idéia de conversar sobre os traumas não é muito atraente para a maioria dos africanos com quem ele conversa, que só querem a medicação. Quando o diretor do hospital lhe diz que 99% da população do país sofre de transtorno de estresse pós-traumático, ele começa a ver a própria inocência em achar que ele conseguiria fazer com que eles voltassem a um estado de mente que ele chamaria de normal. O que é normal em uma situação dessa? E será que as soluções individuais são as melhores para um problema coletivo?

“A few years back a medical team came here. . . . They were here for six weeks.

They sent me a copy of the paper. The conclusion they reached was that ninety nine percent of the population was suffering from post-traumatic stress disorder.” He laughs cheerlessly. “Post-traumatic stress disorder! . . . You call it a disorder, my friend. We call it life.”

Adrian também fica amigo de Kai Mansaray, um cirurgião ortopédico que se especializou em reparar feridas causadas por machetes. Ele sofre com pesadelos e insônia, por causa de suas lembranças da guerra, e mergulha a cada vez mais no trabalho. Ele pensa, como no caso de Agnes, uma paciente que ficou no hospital por um breve período e sobre a qual Adrian já imaginava escrever artigos, que o silêncio pode ser uma estratégia de sobrevivência. Pela história de Agnes, que os locais vêem como possessão de espíritos e Adrian chama de fuga dissociativa, vemos as complexidades da tradução cultural de trauma.

O livro também coloca em dúvida os esforços de ajuda estrangeiros. O método importado pode funcionar para alguns dos personagens, mas não é o que é melhor para todos eles. Em um site dedicado a iniciativas da sua cidade local, Rogbonko, Forna escreveu “We think Africa has all the experts it needs – they’re the people who live there.” Ela acha que a ajuda que crê demais no universalismo do próprio conhecimento é ingênua, e que vai realmente ajudar algumas pessoas, mas vai falhar com o problema maior. E realmente, tem algo de individualização em diagnosticar pessoas, como se agora a solução fosse terapia indivualizada. Ela pode ser necessária, mas também é necessária uma solução coletiva para o que está deixando todo mundo doente. Sem isso, a medicina está tratando o sintoma, não a doença.

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