Volta ao Mundo em Filmes: Vietnã – O Cheiro de Mamão Verde

Tem alguns países em que as recomendações são unânimes, e quando eu estava escolhendo um filme para o Vietnã, todo mundo parecia recomendar O Cheiro de Mamão Verde, de Tran Anh Hung.

O filme começa quando a jovem Mui chega na casa de uma família rica onde ela deverá trabalhar como empregada. A família consiste de um pai quase sempre ausente, a mãe que cuida dos negócios, três filhos, e uma avó doente, sempre na cama.

Assim que ela chega, Mui aprende que o casal perdeu uma filha há sete anos, e que a menina teria a sua idade se estivesse viva. Depois ela aprende que o pai da família se culpa pelo que aconteceu. É que às vezes ele desaparece com todo o dinheiro da família, e foi em uma situação assim, quando ele passou mais de um mês fora, que a menina morreu. Ele pensa que ela expiou os seus pecados.

Os primeiros dois terços do filme, que se passam nessa casa, tem pouco diálogo e pouca trama. O que me interessou mais foi como seguimos o olhar de Mui, curiosa sobre tudo que acontece na casa. A câmera passa lentamente pela comida sendo preparada, pelo orvalho caindo nas folhas, pelas formigas, pelos vasos e fotografias da casa, pelos homens tocando instrumentos. A fotografia é linda, e dá muita vontade de visitar o Vietnã.

A última parte do filme tem mais trama, e se passa em outra casa onde Mui vai trabalhar, de um amigo de um dos seus jovens patrões. E nessa parte, ele fica cheio de clichês. Será que o homem vai conseguir olhar a mulher que estava perto dele o tempo todo com uma perspectiva nova, e perceber que ela é maravilhosa, dócil e que ela o ama? Sinceramente, acho que também pesa muito no clichê da moça asiática dócil e subserviente, ou na história da Cinderela que merece tudo porque ela é humilde.

Aparentemente, apesar da reputação internacional, o filme é bem polêmico no Vietnã por supostamente romantizar a época do colonialismo. Sinceramente, acho que ele romantiza muitas relações no filme que não o merecem. No início, por exemplo, tem uma cena com um homem que segue a avó desde que ela recusou a sua proposta de casamento, há décadas, e que chega a entrar na casa só para vê-la sem que ela saiba, e isso é visto como doce e adorável. Não é.

Mas o que realmente é encantador é a fotografia, e o modo como ele mostra Mui achando beleza no cotidiano. Essas cenas são maravilhosas.

Meu resultado final é de sentimentos mistos. Não é um grande elogio falar que eu preferia o filme quando ele meio que não tinha trama,  né?

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