Volta ao Mundo em Livros: Bangladesh – The Good Muslim

O livro escolhido para Bangladesh foi The Good Muslim, de Tahmima Anam. Ele também foi meu livro escolhido para o desafio Viaggiando, na categoria de um livro que retrate uma religião não-cristã. O livro foi bom para desafiar alguns dos mitos que temos em relação ao islam, e também seria apropriado nas categorias de retratar a situação das mulheres ou de contar sobre uma guerra fora da Europa.

A trama principal do livro se passa dez anos depois da guerra de independência de Bangladesh, mas com flashbacks para essa época e como ela afetou as vidas dos personagens. A personagem principal é Maya, que se tornou uma médica durante a guerra para ajudar o país. Ela fazia trabalho voluntário em um centro de mulheres e encontrou com centenas de mulheres que foram estupradas durante o conflito, e que o ditador do país dizia que deviam ser recebidas como heroínas da guerra. O que ela viu, porém, foi essas mulheres serem ostracizadas pelas suas próprias famílias, e por isso ela começou a tentar ajudá-las fazendo abortos para as mulheres que os desejassem. Depois da guerra, ela se sente frustrada e incapaz de lidar com o fato de que um ditador tomou conta do país e que os crimes de guerra acabaram impunes, de um país “that allows the men who betrayed it, the men who committed murder, to run free, to live as the neighbours of the women they have widowed, the young girls they have raped”.

Maya passa anos longe de casa após a guerra, indo de cidade para cidade trabalhando como obstetra. Ela tem que lidar com as conseqüências da ignorância e do fanatismo em cada cidadezinha, e em uma cidade ela tem que lidar com sua pior forma quando ela tenta lutar contra as superstições e permitir que uma mulher grávida nade um pouco para se refrescar do calor de 38 graus.

É depois dessa experiência que ela volta para casa, para encontrar a mãe doente, e o irmão transformado em uma figura religiosa local. Maya era muito próxima do irmão, Sohail, e ela reage à sua transformação com o mesmo horror que tomaria qualquer pessoa apegada a valores seculares. Ela não o reconhece, ela sente falta da relação que eles tinham, e, acima de tudo, ela se revolta pelo fato de que Zaid, o filho dele, não tem permissão para ir para uma escola ou ter uma vida normal.

Uma das lembranças de Maya da época da guerra conta a história de uma mulher, Piya, que foi seqüestrada por um grupo de soldados e estuprada por eles durante meses, até ser abandonada para morrer e resgatada por Sohail. É exatamente com isso que Maya tá tentando lidar, com o fato de que ele viu as mesmas barbaridades que ela, que ele matou gente, como ela sente que matou com os abortos, mas que ele reagiu de uma forma que criou distância entre os dois, e com um fundamentalismo que ela conecta com os motivos que levaram o país à guerra.

O livro funciona muito bem ao nos mostrar Sohail sob uma luz simpática, principalmente nos flashbacks, sua radicalização como compreensível, mas nos mostrar os efeitos sinistros que isso tem no seu filho e no país. Aprendi bastante sobre Bangladesh, e gostei muito da leitura. Depois fiquei sabendo que o livro é parte de uma trilogia, em que o primeiro livro foca na vida da mãe de Maya, e o terceiro foca na sua filha, contando épocas diferentes na história do país. Dá para ler o livro sem os outros sem problemas, mas fiquei com vontade de continuar acompanhando os personagens.

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