Volta ao Mundo em Livros – Senegal: Une si Longue Lettre

O livro escolhido para o Senegal foi um daqueles com recomendação unânime: Une si Longue Lettre, da Mariama Ba. Sempre que eu procurava algo online, ele aparecia, e foi o escolhido tanto pela Ann Morgan quanto pela Camila Navarro. Além disso, ele é um dos livros mais estudados vindos da região, e a primeira obra vinda do Oeste da África considerada feminista.

O título do livro significa literalmente Uma carta tão longa, e é exatamente isso, uma carta que Ramatoulaye Fall escreve à sua amiga de infância, Aissatou Bâ, contando sobre sua viuvez recente e lembrando as vidas das duas. Ela está participando de um iddah, a cerimônia dos muçulmanos do Senegal em que uma mulher passa cem dias de luto pelo marido.

Modou, o marido de Ramatoulaye, acabou de morrer de um ataque cardíaco, mas ela não o via já há algum tempo. É que ele tinha tomado uma segunda esposa, uma adolescente amiga de uma das filhas do casal. Desde o casamento, ele parou de depositar dinheiro na conta da primeira esposa, com quem tinha doze filhos, e de ver a família. Como se não bastasse isso, ele nem teve coragem de avisar a família e mandou amigos para avisarem a esposa no dia do segundo casamento.

A segunda esposa é Binetou, amiga de uma das filhas do casal, que se horroriza com a idéia de casar com um velho e quer  permanecer na escola. Mas os pais a forçam a se casar porque eles são pobres e é uma ascensão social, e o marido a força a parar de estudar para isolá-la do convívio com os jovens.

Desde o início, Ramatoulaye compara a vida com a da amiga, já que o marido de Aissatou também tomou uma segunda esposa, por influência da mãe que não achava que ela era boa o bastante para o filhinho dela. Aissatou pediu o divórcio, já que ela não acreditava em poligamia, e reconstruiu a vida, eventualmente se mudando com os EUA com os filhos.

Desde que comecei minha Volta ao Mundo, já li alguns livros que falam da poligamia, como o Niketche – Uma História de Poligamia, da Paulina Chiziane, meu livro de Moçambique, e o As Alegrias da Maternidade, de Buchi Emecheta, que chegou pela TAG como escolha da Chimamanda, que eu li para a Nigéria. Esse é semelhante em alguns aspectos, como o fato de que ela vê a segunda esposa como rival a princípio, mas também tem dó da sua situação, mas também é diferente em vários outros, como o fato de que a Ramatoulaye foi para a universidade e trabalha como professora. Ela vê sua geração como uma de ponte entre os costumes antigos e a modernidade dos filhos, e, apesar dos seus filhos e filhas serem afetados por racismo e machismo, ela tem esperança na próxima geração.

Depois de ler o livro, é fácil entender porque ele é tão popular em escolas e universidades fora, já que ele toca em tantos temas interessante. A pena é que, como a Camila me disse, ele não foi traduzido em português. Realmente tá fazendo falta aqui, e esperemos que apareça logo.

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