Inhotim: o que ver no Eixo Amarelo

Resolvi dividir as obras do Inhotim segundo os três eixos que eles sugerem para visitação, o Amarelo, o Rosa e o Laranja. E comecei pelo amarelo porque quase sempre começo minhas visitas pela galeria Praça, que é a primeira nesse trajeto.

Galeria Praça (G3)

Essa costuma ser a primeira galeria em que vou, principalmente pela obra Seção Diagonal da artista canadense Janet Cardiff. Ela gravou um coro que cantava a obra Spem in Alium nunquam habui, composta para a Rainha Elizabeth I da Inglaterra, dando microfones individuais para cada membro do coral de Salisbury. Quando você está perto de cada alto-falante, ouve mais alto a voz de cada pessoa, e quando está no centro ouve todos eles ao mesmo tempo.

Na segunda parte da galeria fica as pinturas do artista Luiz Zerbini. Gosto especialmente das que mostram uma natureza estranha, com troncos lilás e amarelos, em meio a elementos urbanos.

Do lado de fora da Galeria fica a obra Abre a Porta, de John Aheam e Rigoberto Torres, que faz uma homenagem às pessoas da rodoviária de Brumadinho.

Inhotim abre a porta rodoviaria de Brumadinho

Rivane Neuenschwander (G13)

Essa galeria a princípio parece uma casa sem nada demais. Mas quando você olha para o teto, vê a obra “Continente/Nuvem, 2008”. São milhares de bolinhas de isopor que se movem aleatoriamente por causa de um ventilador. A idéia é lembrar as formas criadas pelos movimentos das nuvens. E realmente, se você gostava de achar imagens nas nuvens, vai gostar de ficar aqui e tentar encontrar imagens.

Inhotim Galeria Rivane Neuenschwander

Galeria Cildo Meireles (G5)

A Galeria Cildo Meireles é uma das minhas preferidas no Inhotim. A obra apresentada se chama ”Desvio para o Vermelho: Impregnação, Entorno, Desvio’. A primeira parte, Impregnação, é uma sala interativa em que tudo é vermelho. Cada enfeite, cada peça de roupa dentro do armário, cada comida dentro da geladeira. Tudo é vermelho. Parece bem lúdico, até que você chega na segunda parte.

Inhotim Cildo Meireles desvio vermelho

Continuando para uma sala escura, fica uma trilhazinha de vermelho para uma sala escura, a parte Entorno. No fundo, fica o Desvio, uma pia gotejando água, também vermelha. É impossível não pensar em sangue, especialmente quando a gente sabe que a obra foi feita nos anos 60, em plena Ditadura Militar. Eu sempre interpretei como uma crítica à ditadura, como se o sangue que jorra da torneira infectasse cada parte das nossas vidas pessoais. Desvio para vermelho, na física, é o efeito em que o receptor de uma imagem observa um desvio para a gama de cores de mais baixa frequência – vermelho – quando ele se afasta do emissor, se eu entendi o conceito corretamente. Então penso no nome como se dissesse que só quando nos afastamos um pouco é que conseguimos ver o vermelho – o sangue, a influência da violência, a corrupção da ditadura em cada um de nós. O que vocês acham?

Inhotim Cildo Meireles desvio vermelho 4

Finalmente, tem a obra Através na outra parte da galeria. Para a primeira, é necessário tirar os sapatos, mas nessa só quem tem sapato fechado consegue entrar. O chão é coberto de vidro quebrado, e a gente anda em meio a arames farpados. Ela me fez pensar em prisões, mas também na nossa prisão mais cotidiana de viver em um prédio com arame farpado, caco de vidro no muro, cerca elétrica, câmeras de vídeo e etc.

Inhotim Cildo Meireles Através

Galeria Fonte (G4)

Essa é uma das galerias que tem exposições temporárias. Cada vez que vou, tem obras diferentes, geralmente do acervo do museu. Da última vez que entrei, vi a mostra “Do objeto para o mundo”, que tinha rodado várias cidades do Brasil até voltar para o Inhotim. Adorei ver o Projeto Coca-Cola, de Cildo Meireles, em que mensagens políticas eram escritas em garrafas de coca-cola que depois eram postas em circulação. Isso em plena ditadura militar.

Na frente da galeria fica montada a obra Red, de Tsuruko Yamazaki. É permitido entrar dentro do cubo.

Inhotim red Tsuruko Yamazaki

Do lado de fora fica a escultura de Zhang Huan, Gui Tuo Bei, é uma representação de símbolos tradicionais chineses. Textos tradicionais são escritos no monolito, que se torna mais diferente ainda quando a gente nota que a tartaruga que sustenta tudo tem o rosto do artista.

Eu não entendo nada de natureza. Vejo alguns dos destaques botânicos do Inhotim, tiro fotos, acho legal, mas vou lá muito mais pela arte. Uma exceção é a árvore Tamboril, que realmente chama a atenção. Com o banco do Hugo França na frente, é um lugar irresistível para sentar e descansar um pouco, ou só aproveitar o lugar mesmo.

Tamboril Inhotim

Perto do restaurante Tamboril, ficam várias outras pequenas estátuas, começando com duas pequenas, Escultura para todos os materiais não transparentes de Waltercio Caldas, e outra escultura sem título de Edgard de Souza.

Depois, fica Boxhead, de Paul McCarthy, vemos uma pessoa que se senta em três livros. No lugar da cabeça (ou em volta dela) ficam mais três livros, e sentados nela, um outro personagem. O artista também já teve obras em exibição temporária no Inhotim.

Finalmente, tem Deleite, de Tunga, foi uma das primeiras obras a ser montada no Inhotim. É uma obra interessante, com bengalas, ímãs, correntes e bancos de couro. Segundo a plaquinha, “o artista cria uma situação em que a fantasia é o fio condutor de uma narrativa prolífica em simbolismos e com significação diversa, num campo onde fato e ficção são confundidos.”

Galeria Mata (G1)

A primeira galeria do Inhotim é a Galeria Mata, que tem exposições temporárias. A parte que mais me interessou nela é a obra Método para arranque e deslocamento, 1992 – 1993 de José Damasceno.

Inhotim galeria mata damasceno metodo arranque deslocamento

A obra Gigante dobrada, de Amílcar de Castro, considerado um dos melhores exemplares das obras finais do artista.

Galeria True Rouge (G2)

Essa galeria é uma das mais visitadas, e um dos cartões postais do Inhotim. Ela é obra de Tunga, e foi inaugurada em uma performance em que atores nus interagiam com objetos cheios de um líquido vermelho viscoso. Como os objetos foram deixados, eles ficaram, inspirados, segundo o artista, por um grande teatro de marionetes. O nome vem do poema True Rouge, de Simon Lane.

Inhotim Galeria Trou Rouge

Outra escultura de Olafur Eliasson é By Means of a Sudden Intuitive Realization, uma estrutura geodésica inspirada nos iglus da Islândia (se você não sabia que tinha iglu na Islândia, eu também não). Como diz a plaquinha, as suas instalações “recriam artificialmente fenômenos naturais para investigar a percepção da luz, do tempo, da gravidade, do movimento e do som.“

Há um aviso na entrada de que a peça deve ser evitada por pessoas epiléticas ou claustrofóbicas.

Outra obra de Cildo Meireles no Inhotim é a escultura Inmensa. Ela é uma versão em aço de uma obra anterior do artista, que brinca com objetos cotidianos. O nome vem do latim in mensa, sobre a mesa.

A obra de Simon Starling, The Mahogany Pavilion, mostra um pequeno barco de cabeça para baixo, suspenso por uma estrutura de metal. Ele é uma forma de subverter o barco, que fica virado e suspenso pelo próprio mastro, “evocando questões históricas, coloniais e ecológicas”, como diz a placa.

A inspiração, segundo o artista, vem dos vikings, que usavam seus barcos, virados de ponta-cabeça, como moradia durante o inverno.

Duas das esculturas mais novas no Inhotim são as obras de Elisa Bracher, Embrionário e Equilíbrio Amarrado. Ambos dão uma aparência de instabilidade, eles brincam com idéias de peso e equilíbrio.

Inhotim equilibrio amarrado elisa bracher

Clique aqui para ler nossos posts com dicas gerais para visitar, sobre o eixo rosa ou o eixo laranja.

Clique aqui para ler todos os posts que já saíram sobre o Brasil.

5 comentários

Deixe uma resposta