Casa Nabokov em Petersburgo – um museu dedicado a obsessões

Na lista dos museus literários que eu queria visitar em Petersburgo estava a Casa do Nabokov. Ele criou todo um mito ao redor daquela casa, da sua infância e da sua Petersburgo, então parecia um lugar imperdível.

Nabokov descreveu sua infância como idílica e cosmopolita. Ele cresceu em uma casa enorme em Petersburgo, com um pai jornalista e político e uma mãe herdeira. A família conversava dentro de casa em russo, inglês e francês, e ele cresceu trilíngue. Nas paredes da casa, tinha uma coleção de quadros sem preço, inclusive um Caravaggio, que se perdeu com a Revolução.

Casa museu Nabokov Petersburgo exterior

A sense of security, of well-being, of summer warmth pervades my memory. That robust reality makes a ghost of the present. The mirror brims with brightness; a bumblebee has entered the room and bumps against the ceiling. Everything is as it should be, nothing will ever change, nobody will ever die.

De Speak, Memory

Esse é um museu bem diferente da norma. Na maioria dos museus de escritores que visitei, o apartamento foi reconstruído ou redecorado para combinar com descrições sobre como o lugar era. Mas esse se tornou uma exposição sobre as obsessões do Nabokov.

Casa museu Nabokov Petersburgo xadrez scrabble

Vemos tabuleiros de xadrez, borboletas, jogos de palavras, primeiras edições de seus livros. Além de um escritor, Nabokov também era conhecido por compor problemas de xadrez e como lepidopterista. Entre as várias borboletas que ele colecionou no apartamento está uma da genus Nabokovia, que ganhou esse nome em sua homenagem. A cor azul dela às vezes também é chamada de azul nabokov. Ele também gostava de desenhar borboletas, e o museu tem vários exemplos de contracapas de livros em que ele desenhou ao redor da dedicatória, como um presente para a família e amigos, mas todos com extrema precisão científica. Afinal, ele dizia que para escrever você deve ter a precisão de um poeta e a imaginação de um cientista – e depois sempre acrescentava que ele não confundiu os dois.

Casa museu Nabokov Petersburgo desenhos borboletas

Dark pictures, thrones, the stones that pilgrims kiss

Poems that take a thousand years to die

But ape the immortality of this

Red label on a little butterfly.

Poema escrito pelo autor ao descobrir uma nova borboleta.

Casa museu Nabokov Petersburgo borboletas

Em um dos quartos, uma exposição mostrava fotos de todas as casas em que o autor já morou. Aos 16 anos, Naboov herdou uma mansão no campo de um tio, mas nem chegou a vê-la antes de perdê-la durante a Revolução. Também perdeu a casa de infância em Petersburgo, que ele chamava de “a única casa no mundo”, e, por isso, mesmo tendo se tornado milionário com o sucesso de Lolita, ele nunca mais quis comprar uma casa. Ele alugou uma série de casas nos países por onde viveu, e depois passou seus anos finais em um hotel de luxo na Suiça.

No entanto, ele sempre gostou de deixar claro que não queria ser confundindo com os que odiavam a revoluçao por terem perdido coisas. Ele dizia que a sua infância opulenta lhe ensinou a ver com diversão quem se apegava demais a riquezas materiais, e que ele não sentia amargura ou arrependimento de como os comunistas aboliram aquela riqueza.

Casa museu Nabokov Petersburgo interior da casa

Em outro quarto, um documentário foi feito de entrevistas com Vladimir Nabokov e sua família. Eles falam de sua infância, da carreira do pai, um dos políticos mais influentes da Rússia pre-tsarista, das coleções de arte da família, que incluíam pintores como Caravaggio e estão sumidas da época da Revolução. Uma parte que achei interessante é quando eles perguntam suas irmãs e seu filho se o melhor livro do escritor é Lolita, e todos eles dizem que não, respondendo com Fogo Pálido ou Ada ou o Ardor.

Some people – and I am one of them – hate happy ends. We feel cheated. Harm is the norm. Doom should not jam. The avalanche stopping in its tracks a few feet above the cowering village behaves not only unnaturally but unethically.

Pnin

Além das visitas, o Museu organiza palestras, cursos e leituras.

Se você está procurando livros para entrar no clima de uma viagem para a Rússia, vários dos do Nabokov estão entre meus russos preferidos (e os preferidos da vida). Amo Lolita, Fogo Pálido, Pnin, Ada, A Verdadeira Vida de Sebastian Knight. Ele também é o autor que me fez ver o quanto a língua inglesa é bonita, então se você tiver como, recomendo ler no original. Se preferir em português mesmo, recomendo muito as traduções feitas pelo Jorio Dauster para a Companhia das Letras, que hoje praticamente só dá para encontrar em sebos.

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