Volta ao Mundo em Filmes: Lituânia – A Casa

Quando eu filme que escolhi para a Lituânia começou com algumas frases em francês, pensei por um momento que era o filme errado. Não tive chance de ouvir áudio em lituano, o filme é praticamente silencioso. O filme escolhido foi A Casa, do celebrado diretor lituano Sharunas Bartas, e foi minha primeira experiência com ele, por isso o estranhamento. Depois eu li que a quase ausência de diálogo é um ponto comum em vários de seus filmes.

A Casa se passa em uma mansão isolada onde vários personagens convivem. Um deles é o narrador, que escreve em alguns momentos para a mãe, reclamando de sua incomunicabilidade com ela. Os outros personagens parecem alheios a ele, cada um envolto em seus próprios rituais domésticos. Um deles joga xadrez sozinho, um come em uma sala devastada, com pombos em cima da mesa, outro encena espetáculos de marionetes.

Nenhum deles dirige a palavra aos outros, nenhum deles tem um nome. Eles apenas se movem em frente à câmera com rigidez hipnótica, mas daí podemos extrapolar vários significados. Como o autor é dos bálticos, a maior tentação é a de ver o filme como uma alegoria da Lituânia sob a URSS. O autor sempre rejeitou a idéia, talvez pelo seu poder reducionista, mas ela é inescapável. Como ver esse filme e não ver nele a idéia do silenciamento da cultura do país, especialmente tendo em vista o final?

É difícil falar muito desse filme. Ele é interessante, mas acho que se eu tivesse visto sem ter em mente o livro da Lituânia que acabei de ler e o que vi na minha visita, nem relacionaria ao país. Talvez ele seja excessivamente hermético, e com certeza não é um filme que vai ensinar sobre a cultura do país, mas é um que talvez traga questionamentos interessantes para quem conhece mais do que eu sobre o cinema de Bartas e a cultura lituana.

Deixe uma resposta