Trakai, um castelo em uma ilha na Lituânia

Uma região de lagos e de castelos com uma história rica e multicultural. Só pelo resumo dá para entender porque Trakai é considerada parada obrigatória para os turistas na Lituânia, não é mesmo?

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Assim que eu cheguei na estação de ônibus da cidade, fazendo um bate-volta de Vilnius, eu resolvi começar a visita pelo Castelo da Ilha, o ponto turístico mais famoso. No mapa, tinha a opção de seguir reto pela estrada ou dar uma pequena volta e ir pela margem de um lago, que foi o que eu fiz. A região do parque de Trakai tem mais de 200 lagos. A cidadezinha mesma é cercada por cinco: Luka, Totoriškės, Galvė, Akmena, Gilušis, e por isso parecia que para cada lado que eu olhava tinha um cartaz oferecendo um passeio de barco.

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Foi ótima idéia começar pelo Castelo da Ilha, porque por dentro ele é um museu que conta a história da região. O museu começava falando de Gediminas, o grão-duque famoso por unificar a Lituânia, fundar a cidade de Vilnius e por conseguir a paz com os cruzados, que tentavam cristianizar os bálticos, a última região pagã da Europa (se você vir uns objetos que parecem suásticas em lojas de souvenir são símbolos pagãos, aliás. Não entre em pânico). Ele também estabeleceu Trakai como capital do Ducado, e é por isso que esse lugar que hoje parece uma cidadezinha sonolenta tem uma história tão multicultural.

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Entrando no Castelo da Ilha

Quando ele estabeleceu Trakai como a capital, ele fundou um castelo, cujas ruínas hoje ficam a alguns quilômetros da cidade. O segundo castelo a ser construído foi o que hoje chamam de Castelo da Península, em oposição ao irmão mais novo na ilha. Muito dele foi destruído no século XVII, mas ainda restam algumas torres. Eu o visitei depois do Castelo da Ilha, e estavam preparando um festival de justas medievais na grama em frente às torres.

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O Castelo da Península, torre sul

Finalmente, o Castelo da Ilha foi construído no século XIV. No mesmo século ele foi sitiado e quase destruído, e reconstruído em uma versão bem maior. Ele logo perdeu a importância militar, mas ainda foi usado como residência de duques por alguns séculos, sendo redecorado em estilo renascentista. Ele foi destruído no século XVII, e permaneceu em ruínas por séculos.

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Interior renascentista
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Foto do castelo em ruínas, créditos: wikicommons
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Pintura das ruínas, artista Marszewski, crédito: wikicommons

Desde o século XIX, planos foram pensados para a reconstrução do castelo, dada sua importância na história da Lituânia. Mesmo durante a Segunda Guerra e a ocupação alemã, a reforma continuava. Também é uma história contada dentro do castelo, das diferentes fases da reconstrução e o que era pretendido em cada uma, até chegar nas  mais recentes, que buscavam fidelidade ao original, e fizeram uma pesquisa histórica mais séria.

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No final da exposição, eles falavam um pouco sobre os diferentes povos que formavam a história de Trakai. Por lá viveram lituanos, russos, poloneses, bielorrussos, tártaros e caraítas. No castelo eles falam um pouco mais sobre os tártatos, de religião muçulmana, e os caraítas, de uma ramificação do judaísmo, e como eles contribuíram para tornar a região multicultural.

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Fiz uma pequena pausa para o almoço e para provar o Kibinai, um prato típico dos caraítas. Ele parece um salgadinho recheado, e, no lugar onde parei, tinha várias opções de sabores. Comi um de cordeiro e um de ricota com espinafre. O restaurante tinha vários quadros explicando um pouco mais sobre os Caraítas, e como já tinha ficado curiosa sobre a sua história no Castelo, resolvi continuar para o Museu Etnográfico Caraíta.

O museu é pequeno, com apenas três salas e um preço justíssimo: 2 euros, ou 1 para estudantes. Então recomendo muito para quem está curioso, mas não quer investir muito tempo e dinheiro nisso. A recepcionista falava apenas russo e lituano, mas todas as salas tinham informação em inglês. O museu conta mais sobre os caraítas, que chegaram da Criméia no século XIII. Eles falam uma língua aparentada com o turco, mas há enormes controvérsias sobre de onde eles são originalmente. Quando eles chegaram na Lituânia, eles conseguiram que as rigorosas leis anti-semitas não se aplicassem a eles, já que eles não seguem o Talmud. Os tsares russos os consideravam “inocentes do crime de ter matado Cristo”, o que só lembra quão poucos direitos os judeus tiveram no Império Russo. Os nazistas também não os consideraram judeus, e por isso eles não sofreram o destino da maioria dos judeus lituanos, embora outras comunidades caraítas tenham sido massacradas no início do Holocausto. Hoje eles também não gostam que a religião seja chamada de judaico, dizendo que é uma “Religião Mosaico”, separada e distinta do judaísmo.

Museu etnologico dos caraitas trakai lituania

O museu tem diversos artefatos, como roupas e armas, que mostram não só a cultura mas as trocas culturais que continuavam acontecendo entre os caraítas da Lituânia e os da Criméia. Quando eu cheguei ao museu, disse oi em lituano, e depois pedi por um bilhete em inglês. A moça me entendeu e conseguiu falar o preço, mas depois disse chateada que só falava lituano e russo. Eu disse que eu falava russo e ela me explicou tudo do museu, e disse que achava ótimo quando um visitante falava russo, já que só os jovens falam inglês. Eu estava com medo de falar russo lá, entendo que pode ser algo sensível depois de décadas de ocupação, mas nos três países dos bálticos aconteceu de falarem comigo em russo.

Também foi muito interessante o modo como eles explicaram a influência na arquitetura da cidade, especialmente como dá para identificar as casas dos caraítas: são as de madeira com três janelas na frente.

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Foi depois do Museu que fui às ruínas do Castelo da Península, do qual já falei. Também visitei duas pequenas igrejas, que estavam ambas em reconstrução. Mas a maior parte do da tarde foi gasta em andar pela cidadezinha sem destino, em ver as casinhas de madeira, em sentar e ler um pouquinho na beira do lago. Foi bom, porque mesmo sendo um dia com tantas atrações, também foi um dia de relaxar.

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Muralhas do Castelo da Península, com o Castelo da Ilha ao fundo
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Trakai lituania museu historia
Igreja transformada em prisão transformada em museu
Trakai simbolos pagãos
Trakai lagos Lituania

Tem tantos ônibus saindo para Trakai o dia inteiro que eu nem me preocupei muito com o horário. Fui para a rodoviária de Vilnius e peguei o primeiro que apareceu. Em Trakai, olhei o horário do último ônibus, para ter certeza que ia chegar a tempo, mas foi bem tranquilo.

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