Volta ao Mundo em Filmes: Chade – Um Homem que Grita

O filme escolhido para o Chade foi Um Homem que Grita, de Mahamat Saleh Haroun. Quando estava procurando por filmes do país, vi esse que ganhou o prêmio do júri no festival de Cannes e me pareceu interessante, então a escolha foi bem rápida.

O protagonista do filme é Adam, um homem de meia-idade que é um campeão de natação aposentado que agora trabalha na piscina de um resort. Lá todos o conhecem como ex-campeão e até o chamam de Champ. Quando o hotel é vendido para um grupo chinês, decidem diminuir o número de funcionários e ele é despedido desse emprego do qual tinha tanto orgulho. Agora ele tem que trabalhar na portaria, o que para ele não carrega o mesmo prestígio. Para substitui-lo, contratam o seu filho, Abdel, um jovem de 19 anos que é mais popular com os hóspedes.

A idéia até aí é bem comum em filmes: como um homem que ama seu filho fica ao sentir que entre eles agora há uma competição, que o filho está bem literalmente tomando seu lugar. E o ressentimento de perder o emprego se une à inveja. Adam tinha uma vida tranquila com sua esposa, mal percebendo as notícias da guerra que se aproximava, mas agora não consegue mais ter paz.

Adam é pressionado a contribuir para os esforços da guerra do governo contra os rebeldes, em um conflito que parece eterno. Como ele não tem nenhum dinheiro, eles levam seu filho para se juntar ao exército. Adam não tenta protegê-lo vendo a oportunidade de recuperar o emprego e o prestígio, mas logo se arrepende. Ele ouve no rádio notícias sobre a guerrilha que se aproxima da cidade e vê pessoas fugindo em busca de refúgio nos países vizinhos.

Adam tenta sobreviver na cidade, e cuida da namorada do filho, que aparece grávida no resort.

Eu li que o título foi baseado em uma frase de Aimé Césaire: “um homem que grita não é um urso que dança. A vida não é um espetáculo”. Ele não grita. Na verdade, ele mal fala, e o filme tenta explorar esse silêncio. Mas é interessante que o diretor tenha escolhido uma frase que fala que a vida não é um espetáculo para um filme. Ou seja, um espetáculo.

Para mim, foi daqueles filmes que são interessantes, mas não isso tudo, até que chegam a um final tão bem feito que sobem a nota do filme inteiro. Foi uma boa escolha para o Chade.

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