Um passeio pela National Gallery em Londres

Muitos turistas passam na Trafalgar Square, uma praça que sempre aparece na lista de lugares para ver em Londres. Mas a cada dia menos pessoas entram e curtem a National Gallery, um museu de arte incrível com entrada gratuita na praça.

Logo na entrada ficam os audioguides. Eu sou suspeita porque acho que eles geralmente valem a pena, e gosto de saber mais sobre os quadros. Ele também propõe alguns itinerários, mas não curto muito esse negócio de ficar atrás das obras primas por 45 minutos. Gosto de passear e ver o que me interessa, especialmente em um museu gratuito onde posso entrar e sair o tanto que quiser. Muitas vezes acabam sendo as mais famosas – elas  se tornaram isso por um motivo – mas ainda gosto de entrar em cada sala e ver o que me chama a atenção, e queria falar um pouco sobre elas.

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Créditos: wikicommons

Vou começar por uma das pinturas mais famosas do mundo, O Casal Arnofini, de Jan Van Eyck. Ela representa dois burgueses em o que é, provavelmente, um pedido de noivado. É, eu sei, ela parece grávida, mas era a moda na época, o que é pior que a moda dos anos 90.

O Espelho Côncavo no fundo mostra o espectador, e foi a inspiração por trás de As Meninas de Velásquez. O quadro tem um milhão de detalhes interessantes, como as impressões digitais do pintor no vestido verde onde ele moldou a tinta com os dedos, o que é outro motivo pelo qual eu achei legal ter o audioguide.

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Uma pintura que eu tinha estudado nas aulas de história da arte na faculdade foi Batalha de San Romano, do Paolo Ucello. Ela representa uma batalha ocorrida entre os florentinos e os sieneses, e nós estudamos principalmente o efeito de multidão causado pelas lanças. Acontece que a pintura é decorada com prata e ouro, então um livro não consegue reproduzir o modo como ela brilha, e foi muito legal ver ao vivo.

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Também vi São Jerônimo em seu Gabinete,  de Antonello da Messina. Esse é um quadro que usa a perspectiva de forma super interessante, para trazer elementos simbólicos ao quadro. Também é interessante porque mostra as técnicas que ele aprendeu em Bruges e trouxe para Veneza.

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Vênus e Marte, de Botticelli, é inspirado em um episódio da mitologia romana. Vênus, a deusa do amor, seduz Marte, o deus da guerra. Enquanto ele dorme, sátiros e cupidos se apossam de suas armas. A idéia é clara: o amor vence a guerra.

Doge Loredan Bellini
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O Doge Leonardo Loredan, de Bellini, cuja família era de pintores muito conhecidos em Veneza. Essa é outra pintura que me pareceu muito diferente ao vivo, que tem uma textura na pintura que não aparece nos livros. Adoro a pose dele, adoro como a luz parece cair no rosto e nas roupas.

Carlo crivelli anunciação
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A Anunciação, de Carlo Crivelli é interessante porque esse tema clássico (Gabriel anunciando a Maria que ela teria um filho) é usado para comemorar a conquista do direito de auto-governo em algumas questões pelos cidadãos de Ascoli Piceno, uma cidade sob controle do papa nas Marche. Por isso ao lado do anjo está São Ermídio, patrono da cidade, carregando seu modelo. Alguns críticos notaram que anunciações geralmente são cenas privadas, só com Maria e Gabriel, mas nesse caso eles estão em uma cidade cheia, inclusive com um menininho que espia o encontro. Por isso ela seria uma boa representação da inseparabilidade do político e do religioso na época.

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Um dos quadros mais famosos da National Gallery é A Virgem dos Rochedos, de Da Vinci. Ele é uma versão diferente de um quadro que está no Louvre, e pelo qual muita gente passa correndo para chegar na Mona Lisa. Atrás dele também fica um dos rascunhos que deu origens a ambas.

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Santa Catarina de Alexandria, de Rafael, mostra a santa com os olhos para o alto, apoiando-se na roda em que ela será torturada e feita em pedaços. Pintores tinham o costume de colocar algo relacionado ao martírio de cada santo para que eles pudessem ser identificados, mas não deixa de ser tétrico, não é mesmo?

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Baco e Ariadne, de Ticiano, é outro quadro inspirado por uma história clássica. Ele conta a história de Ariadne, que tinha dado a Teseu um novelo de lã para permitir que ele vencesse o Minotauro. Ela partiu com ele, e ele a abandonou em uma ilha do caminho. Logo depois ela encontra Baco, o deus do vinho, que se oferece como seu novo marido. Ele chega com seu cortejo de bêbados, pintados com cores fortes, e é exatamente esse momento retratado na pintura.

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Vênus e Cupido, de Lucas Cranach, o Velho, é um quadro adorável, com um Cupido menino que reclama com Vênus, sua mãe, de ter sido picado com abelhas enquanto roubava um pouco de mel. Do lado, alguns versos advertem o espectador sobre a vã procura pelos prazeres terrenos. Algumas pessoas vêem como uma alegoria a doenças sexualmente transmissíveis, o que é bem menos adorável.

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Os Embaixadores, de Hans Holbein é outro quadro em que me fez muito bem ter um audioguide, porque nenhum dos objetos representados está lá por acaso, todos querem dizer algo sobre os dois embaixadores. Também é muito legal ver o crânio embaixo, que fica em 3d se você achar o lugar certo para vê-lo.

frans hals jovem segurando caveira
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Jovem segurando um crânio, de Frans Hals tem um motivo bem comum na época, o memento moris, que lembrava aos cristãos que eles morreriam e por isso tinham que viver uma vida virtuosa. De novo, bem tétrico.

Van Gogh era um grande fã desse quadro, especialmente das pinceladas rápidas nas mãos do jovem, que faziam o quadro parecer não-terminado para seus contemporâneos. Para ele, deixava o quadro expressivo, vivo.

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Outro do estilo “quadro que você sabe que já viu em algum lugar mas é tão mais legal ao vivo” é Vênus ao Espelho, de Velásquez.

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Pátio de uma casa em Delft, de Pieter de Hooch, é uma das pinturas mais amadas do artista.

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Dama Sentada ao Virginal, de Jan Vermeer foi um dos quadros que precipitou a redescoberta do artista do Moça com Brinco de Pérola, que estava esquecido.

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Dona Isabel de Porcel, de Goya é o retrato de uma nobre espanhola em trajes da moda.

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Já falei bastante de Turner no post sobre a Tate Britain, porque o acho um artista fascinante. A National Gallery também tem alguns quadros dele, incluindo Dido Construindo Cartago. Turner a considerava sua obra prima, e queria ser enterrado com ela. Sorte nossa que no final ele resolveu deixá-la como herança para a National Gallery.

Turner chuva vento velocidade
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Outra dele é Chuva, Vapor e Velocidade, que o pintor fez depois de andar de trem e ficar fascinado pela visão da mistura justamente desses três elementos: Chuva, vapor e velocidade. É uma visão romântica do progresso, e outra pintura que fez bem mais sentido com o audioguide.

banhistas asnieres seurat
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Banhistas em Asnières, de Seurat é um dos quadros que inaugurou o movimento do pontilhismo. Na época também era escandaloso usar uma pintura tão grande para um tema cotidiano. Geralmente elas eram reservadas para temas históricos.

guarda chuvas renoir
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Os Guarda Chuvas, de Renoir é um dos quadros dele dos quais mais gosto. Adoro como ele arranja os guarda chuvas formando figuras geométricas, adoro como algumas pessoas são cortadas da imagem como se fosse uma foto.

banhistas cezanne
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As Grandes Banhistas, de Cézanne, é um pintura que vai contra o estereótipo do artista, das naturezas-mortas. A pintura foi inspirada pelos nus clássicos, e por sua vez inspirou muitos outros artistas, como Picasso.

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