Volta ao Mundo em Livros: China – Balzac e a Costureirinha Chinesa

O livro escolhidos para a China foi Balzac e a Costureirinha Chinesa, de Daj Sijie. O pano de fundo do romance é a Revolução Cultural promovida por Mao na China nos anos 60 e 70. Nela, centenas de milhares de intelectuais foram mandados para o campo para serem reeducados. A idéia era que eles esquecessem “os quatro velhos”: as velhas idéias, os velhos costumes, a velha cultura e os velhos hábitos.
No romance, o protagonista de 17 anos e seu melhor amigo Luo são filhos de médicos burgueses, e por isso são banidos para o campo por 4 anos. Lá, eles fazem um trabalho braçal brutal, e todos os livros que não sejam técnicos ou de Mao são proibidos. Música ocidental é proibida. Eles tentam contar histórias para passar o tempo, e o líder da comunidade percebe que eles têm uma boa capacidade para narrar. Por isso, ele os convida para fazer pequenas apresentações para toda a vila, contando as tramas de filmes. Por dois dias, eles saem do trabalho pesado para ir a uma vila próxima e ver filmes chineses e norte-coreanos.
O protagonista também tem um violino, e por isso toca peças como “Mozart pensa no camarada Mao” – sua saída para escapar ao banimento de música ocidental.
Finalmente, eles conhecem outro reeducando, um poeta que esconde uma maleta. Depois de chantagem e ameaças, eles conseguem colocar as mãos no primeiro dos itens da mala: uma cópia de Ursule Mirouët, de Balzac.
Eles dividem o tesouro com a filha do costureiro da cidade, e ela e Luo se apaixonam lendo os romances de Balzac. Romance, atração sexual, sexualidade, são todos assuntos ignorados pelos textos oficiais, mas que eles aprendem lendo os clássicos da literatura européia.
Quando o outro reeducando parte, eles roubam a maleta, sabendo que ele não pode procurar as autoridades. Dentro, eles encontram romances de Balzac, Stendhal, Dostoévski, Tolstói, Dumas, Flaubert, Dickens, Melville, Bronte, Romain Rolland. E agora, as histórias que eles para as pessoas da vila contam são a do Conde de Monte Cristo disfarçado como um filme norte-coreano.
A leitura faz com que eles aprendam a poder da imaginação, e são o bastante para que qualquer um entenda porque ditaduras se preocupam tanto em censurar obras de ficção. Dá para entender o hype que o livro causou pelo amor que o autor tem pela literatura ocidental, que aparece como universal, mas também dá para entender sobre censura e sobre a China da época.

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