Volta ao Mundo em Livros – Arábia Saudita: Girls of Riyadh

A história de Girls of Riyadh, de Rajaa Alsanea, livro escolhido para a Arábia Saudita, é contada por uma narradora anônima, que coloca batom vermelho antes de enviar emails contando a vida de quatro amigas de classe alta, a chamada “Classe de Veludo”. Toda semana ela envia uma parte da história para todos os endereços de email sauditas que consegue encontrar. A narradora sempre fala sobre os comentários que ela recebe discutindo a narrativa do último email, criticando ou elogiando, e ela cita autores árabes clássicos e músicas pop ao mesmo tempo, e parece tirada de um episódio de uma série de tv. Aliás, o livro é frequentemente referido como o Sex and the City saudita.

Meu estereótipo sobre a Arábia Saudita era, como adivinhou a narradora em um trecho, um país com poços de petróleo, fundamentalistas e mulheres vestidas de preto da cabeça aos pés. Quando eu era adolescente, eu li o livro Princesa, da Jean Sasson, em que uma escritora americana conta a vida de uma princesa da família real Saudita, disfarçada com um pseudônimo, e a vida feminina no país parecia simplesmente uma sucessão de horrores.

Em Girls of Riyadh, vi de novo várias restrições a quais mulheres estão sujeitas na Arábia Saudita: elas não podem dirigir, não podem sair em público sem estarem quase completamente cobertas, precisam da permissão de um homem para estudar, trabalhar ou viajar, um divórcio faz com que percam a reputação, o que não acontece com um homem. Mas elas também bebem álcool ilegalmente, vestem-se como homens para poder dirigir um carro, conhecem homens, encontram-se com eles escondidas.

As quatro amigas são bem diferentes. Gamrah é mais conservadora e ligada às tradições, Michelle é mais liberal e critica abertamente o sistema, Sadeem é romântica e Lamees é determinada a não cometer os erros das amigas. Mas elas todas tem agência. Não o tanto que gostaríamos, mas estão determinadas a tentar aumentar o próprio poder sobre suas vidas. Como diz a autora no prefácio, sim, é um sistema repressor. Sim, elas vivem sob dominação masculina. Mas também se apaixonam, tem esperanças, sonhos, e querem encontrar o seu caminho, que não é o ocidental, mas um diferente.

Grande parte da crítica parece determinada a decidir se o livro é ou não uma obra de chick-lit. Elas certamente passam grande parte do livro pensando e falando sobre homens e comprando roupas em marcas de luxo. Mas se falar sobre namorar pode parecer superficial, também é subversivo nesse contexto, e é o motivo pelo qual o livro foi proibido por alguns anos na Arábia Saudita. E também é inescapável em um país em que a mulher precisa de um guardião legal, e o casamento é a única forma de não depender do pai, de um irmão ou tio.

A escrita do livro também foi muito elogiada, pelo modo como a autora mistura diferentes dialetos do árabe quando se concentra em cada personagem. A tradução em inglês não deu essa impressão, mas, infelizmente, isso é algo que não posso julgar.

 

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