Procurando o espírito do Flamenco em Sevilla

Chegando em Sevilla, claro que eu queria encontrar um lugar para ver um flamenco. Perguntando para locais, eles me respondiam que era impossível saber que lugar de flamenco seria bom naquela noite, porque o flamenco se improvisa, tem que ter o “duende”. Talvez eles só não quisessem contar os segredos locais para uma estrangeira, mas uma coisa que me garantiam é que os lugares muito certinhos, que não fecham de vez em quando porque o dono não tá no clima, são lugares turísticos.

Tener duende é o estado de emoção, expressão e autenticidade que permite que alguém toque ou dance flamenco. O duende é tão importante que o poeta García Lorca, originalmente de Granada, deu uma palestra em Buenos Aires sobre isso, chamada Juego y Teoría del Duende. Por isso, ao contrário de muitas danças em que as pessoas se profissionalizam cedo, é comum que dançarinos de flamenco comecem as carreiras lá pelos trinta anos, quando se considera que eles têm maturidade emocional para a dança, e que dancem por décadas depois disso. O flamenco é passional, improvisado, e não deve ser coreografado.

Então, claro que a primeira idéia era encontrar um lugar que fugisse do esquema jantar + show. Quase sempre, acho que isso leva a uma refeição ruim e um espetáculo que de tradicional não tem nada. Falando do Flamenco especificamente, nesses lugares ele costuma ser coreografado, com um número enorme de dançarinos no palco. Sem falar que são sempre caros e em lugares onde não tem nenhum local. Não era o que eu procurava.

Também existem vários tipos de lugares para ver Flamenco. Os Tablaos são casas de show, com um tablado, daí o nome, onde um ou dois dançarinos ficam. Muitos dos mais famosos ficam no Bairro Judeu, como o Casa de la Memoria e a Casa de la Guitarra.

Também há as peñas, lugares onde não profissionais podem dançar flamenco. Torres Macarena é a mais antiga e famosa delas, mas a associação oficial das peñas lista dezenas de opções. Eles geralmente cobram entrada entre 5 e 10 euros, e são lugares muito ecléticos, em que vão desde gente do bairro a estrangeiros. O tipo de Flamenco mais ouvido nas peñas é o Flamenco Puro, mais conectado com as origens ciganas da música.

Também há os bares de flamenco, lugares mais informais onde você não paga entrada, mas onde espera-se que você peça um drink. Os mais famosos e renomados estão no bairro de Triana. Recomendaram para mim a Sala Flamenco, Baraka, El Tunel de Triana e a Sala Tronio. O legal desses lugares é que se você não curtir, sempre pode sair e procurar outro espetáculo. O tipo que predomina em ambas é o Flamenco Classico, influenciado pela Seguidilla, outra dança da Andalusia, e pelo ballet clássico.

Eu me decidi pelos bares, e fui para Triana tentar encontrar um lugar interessante. Então perto da meia noite entrei na Sala Tronio, e tive uma noite incrível lá. Realmente era um lugar informal, e a platéia participa bastante, gritando e batendo palmas. O clima é indescritível.

Ir em uma peña ou em um bar é uma aposta. Se os cantores e os dançarinos estiverem no clima, vai durar até as quatro da manhã, como quando eu fui. Se eles não estiverem no clima, fecham o lugar em uma hora. Ou nem abrem. Mas não acho que seja um problema: tem tantos lugares lado a lado em Triana, que se um não estiver legal, é só passar para o próximo. Dá mais trabalho, mas quando você acha um lugar realmente legal, vale a pena.

A falta de fotos do post vem da empolgação do dia. A foto de header é um cartaz da Sala Tronío, que vem do site oficial.

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