Volta ao Mundo em Filmes: Bélgica – A Criança

Como a maioria dos filmes dos irmãos Dardenne, A Criança se passa em uma cidadezinha industrial belga. Os irmãos começaram suas carreiras fazendo documentários em fábricas no sul da Bélgica, o lugar onde o capitalismo moderno nasceu, mas que em muitos aspectos foge do nosso estereótipo de “país de primeiro mundo”. 

Eles geralmente fazem seus filmes com um orçamento pequeno, com câmeras nas mãos e atores não profissionais.

Em A Criança, Bruno (Jérémie Renier) sobrevive de receptar furtos feitos por um grupo de adolescentes, e sua namorada Sonia (Déborah François) acaba de dar a luz a um filho.

Sonia sai do hospital para descobrir que Bruno sublocou ilegalmente seu apartamento, e finalmente o encontra com um dos adolescentes, planejando novos furtos. Depois que ela o encontra, eles passam a tarde passeando pela cidade sem nenhuma preocupação. Sonia vê uma jaqueta bonita e ele a compra, ele quer um conversível e aluga um, sem pensar que algumas horas depois eles terão que passar a primeira noite com o bebê em um abrigo, onde mulheres e homens ficam separados.

No dia seguinte, quando Sonia está ocupada pegando seu seguro-desemprego, Bruno resolve encontrar uma mulher com quem tinha falado sobre o mercado negro de adoções e vender o bebê. É uma cena assustadora, tanto porque vemos o planejamento de Bruno, e pela cena em que ele deixa a criança em sua jaqueta em um prédio abandonado e sai para pegar o dinheiro. Nós nunca vemos os compradores. Ao voltar e ver o choque de sua namorada, ele responde simplesmente “nós podemos fazer outro”.

Se já não estava óbvia antes, nesse ponto a ambiguidade do título é inescapável. Quem é a criança, o recém-nascido, ou Bruno e Sonia, incapazes de pensar no futuro, de agir com a responsabilidade que a sociedade espera de quem acaba de ter um filho?

Talvez por seu passado fazendo documentários, ou talvez porque seus personagens são pobres, os Dardenne são frequentemente referidos como produtores de “filmes de temática social”. O que para a gente pode, de novo, parecer estranho em um país de primeiro mundo. Essa é frequentemente a ação de seus filmes, a mulher que luta para convencer seus colegas a manter o seu cargo ao invés de aceitar um bônus de mil euros em Dois Dias, Uma Noite, as imigrantes em O Silêncio de Lorna e A Garota Desconhecida. Mas os filmes não são poverty porn, mas explorações de como a a vida às margens da sociedade afeta como as pessoas vivem.

Isso torna esse filme um excelente estudo humano e uma forma de aprender sobre uma Bélgica que não é a dos pontos turísticos.

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