Volta ao Mundo em Livros – Angola: Teoria Geral do Esquecimento

Angola foi uma escolha difícil. Tinha três autores que nunca li e sempre quis ler: Pepetela, Agualusa e Ondjaki. No final, fiquei com Teoria Geral do Esquecimento, do Agualusa, mas sabendo que vou voltar para ler os outros dois em breve.

Em uma nota prévia, o autor nos conta que o livro foi baseado em dez cadernos manuscritos deixados pela personagem principal, e que vão te fazer procurar no google ao final se isso é mesmo verdade ou é o início do romance, no melhor estilo Fargo.

O romance conta a história de Ludo, uma mulher portuguesa que mora com a irmã e o cunhado em Angola, em um prédio de luxo conhecido como o Prédio dos Invejados. Com a aproximação da independência, muitos portugueses fogem do país com medo, e um dia sua irmã e cunhado desaparecem. Ludo decide então se barricar no apartamento, tampando a entrada com tijolos. Sozinha com seu cachorro, ela sobrevive plantando milho e feijão no jardim e atraindo pombas com diamantes. Por trinta anos, ela vê do alto as mudanças que ocorrem no país.

Ludo queima a mobília e os livros para cozinhar, mas também escreve. A princípio ela escreve entradas de diários nos cadernos, e depois passa a escrever poemas nas paredes, com carvão.Ela recorda suas preocupações, seu medo de enlouquecer, seus sonhos, sua solidão.

“Uma noite, Ludo sonhou que por baixo das ruas da cidade, sob os respeitáveis casarões da baixa, se alongava uma interminável rede de túneis. As raízes das árvores desciam, soltas, através das abóbadas. Milhares de pessoas viviam nos subterrâneos, mergulhadas na lama e na escuridão, alimentando-se daquilo que a burguesia colonial lançava para os esgotos…Os homens agitavam catanas… Um deles aproximou-se, colou o rosto junto ao da portuguesa e sorriu. Soprou-lhe ao ouvido, numa voz grave e doce: O nosso céu é vosso chão”

 

“Exorcismo

lavro versos

curtos

como orações

 

palavras são legiões

de demônios

expulsos

 

corto advérbios

pronomes

 

poupo os pulsos”

 

O autor entrelaça suas histórias com as de outros personagens, como um mercenário português que escapa a execução e vive uma segunda vida, um prisioneiro político, um especialista em desaparecimentos, um agente da inteligência que virou detetive.

Enquanto Ludo envelhece no seu isolamento, sua visão se deteriora e seu rádio para de funcionar, ela observa as transformações da cidade, a cada hora tendo que adivinhar mais do que se passa. Desde criança, ela não conseguia sair de casa sem um guarda-chuva, e agora ela está sozinha em um continente com vastos céus. E nós esperamos pelo que vai acontecer – se Ludo permanecerá no esquecimento, ou se sairá do apartamento em direção àqueles que vê como “minha gente”.

Deixe uma resposta