Volta ao Mundo em Filmes: Polônia – Ida

O filme escolhido para representar a Polônia foi Ida, de Pawel Pawlikowski. Eu vi ele logo que foi lançado, em 2014, ou seja, um pouco antes da minha viagem para a Polônia em 2015, e definitivamente influenciou a forma como vi lugares como o gueto judeu de Cracóvia e Auschwitz. Por isso eu o incluí no post sobre livros e filmes para se preparar para visitar um campo de concentração.

O filme começa em 1961, quando Anna (Agata Trzebuchowska), uma jovem órfã, prepara-se para dizer os seus votos em um convento. Antes que ela possa fazê-lo, a madre superiora insiste que ela tem que conversar com sua única parente viva, uma tia que vive em Lodz. Anna nunca caiu do convento antes, tendo sido abandonada lá com um ano de idade, e não conhece a tia.

Ela chega em Lodz para visitar a tia, Wanda Gruz (Agata Kulesza), que abre a porta do apartamento fumando, enquanto o seu caso da noite anterior se arruma para deixar o apartamento. Ela é a Wanda Vermelha, uma famosa juíza que teve um papel importante nos julgamentos políticos do pós-guerra. A tia lhe conta abruptamente que o seu nome verdadeiro é Ida Lebenstein, e que ela é judia. E Wanda propõe que elas visitem a vila em que os pais de Ida foram escondidos por cristãos, para descobrir o que aconteceu com eles durante o holocausto.

Entre 1939 e 1945, a Polônia perdeu um quinto de sua população. Três milhões de judeus foram assassinados. Depois da guerra, os comunistas tomaram o governo, e promoveram julgamentos dos colaboradores – mas que também atingiram muitos que eram inocentes. Pouco disso é falado explicitamente no filme, mas é essa a atmosfera na qual os personagens agem.

O filme se torna parte road movie e parte suspense, porque queremos saber o que foi que aconteceu com os pais de Ida, e que segredos Wanda esconde. Pawlikowski reclamou sobre os críticos que vêem o filme somente como uma meditação sobre o Holocausto, ou sobre a história da Polônia, embora esses sejam aspectos importantes do filme. Mas ele também faz perguntas que são universais, sobre identidade e sobre nossa relação com o passado. Depois que você descobre o que aconteceu, a aí? O passado te destrói, eleva, justifica, dá uma razão para viver, tira as razões para viver?

Os anos 60 não são apenas um fundo, e vemos isso na figura do saxofonista de jazz para quem elas dão carona e que se encanta por Ida, e principalmente na influência clara do cinema da época – vemos ecos de Os Incompreendidos de François Truffaut, de Robert Bresson, de Wajda, de Ingmar Bergman. A fotografia é uma das mais bonitas que eu já vi, e recomendo esse filme para qualquer pessoa.

 

Outros preferidos:

Homem de Mármore – Andrzej Wajda

Katyn – Andrzej Wajda

Na Escuridão – Agnieszka Holland

O Pianista – Roman Polanski

Tchau, até amanhã – Janusz Morgenstern

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