Volta ao Mundo em Livros: Holanda – O Atentado

Não faltam bons livros holandeses, mas na hora de escolher um para esse projeto, resolvi ficar com O Atentado, de Harry Mulisch. Ele é um escritor muito amado na Holanda, e seu livro A Descoberta do Céu foi eleito pelos leitores do jornal NRC Handelsband como o melhor romance holandês já escrito. Mas escolhi O Atentado porque nele o personagem principal atravessa grande parte do século e vive eventos importantes que nos permitem conhecer mais sobre a Holanda.

A mãe de Mulisch era judia, e seu pai era um austríaco que se tornou um colaborador quando a Alemanha invadiu a Holanda, pensando que assim ele teria uma oportunidade melhor de proteger a esposa e o filho. Durante toda a guerra, ele trabalhou em um banco lidando com a propriedade confiscada de judeus, pelo que ele passou três anos na prisão depois da guerra. Ele realmente conseguiu impedir a deportação da sua família próxima, mas apenas eles. A avó materna de Harry Mulisch morreu em um campo de concentração. Por causa disso, ele dizia que não só ele escrevia sobre a Segunda Guerra Mundial, mas que ele era a Segunda Guerra Mundial.

O livro começa durante o Inverno da Fome, quando alimentos se tornaram tão escassos e difíceis de conseguir que 22 mil holandeses morreram de fome. Em Amsterdam, no Museu da Resistência, eu li relatos assombrosos sobre os extremos aos quais as pessoas chegaram para conseguir um saco de batatas ou um litro de leite. Nessa situação, em um subúrbio perto de Haarlem, a família Steenwijck  ouve tiros. Eles descobrem que um célebre colaborador foi morto na rua, e vêem um vizinho movendo o corpo para a frente da casa deles. Eles sabem o que isso significa: se a polícia encontrá-lo lá, eles vão assassinar todo mundo dentro da casa em represália, mesmo sabendo que eles não tem nada a ver com o crime. E nas caóticas horas seguintes, é exatamente o que acontece: a família é massacrada, com a exceção de Anton, que tinha apenas 12 anos, e a casa é incendiada.

Ele então é levado para uma prisão local, onde passa a noite sendo confortado por uma resistente que não consegue ver bem, e depois é levado para Amsterdam para viver com seus tios. No caminho para lá, um soldado alemão morre tentando protegê-lo durante um ataque aéreo.

O romance acompanha a vida de Anton pelas décadas seguintes, em que ele tenta dar sentido à essa tragédia. Ele não busca ninguém para ter esclarecimentos, mas, por uma série de encontros casuais, ele consegue descobrir mais sobre as motivações que levaram pessoas diferentes a agirem como agiram naquela noite. Eles includem o filho do famoso colaborador, que era um colega de escola de Anton, membros da resistência responsáveis pelo assassinato e o vizinho que moveu o corpo para a frente da casa deles. Os encontros são aleatórios, mas sempre em ocasiões significativas, como o desenvolvimentos dos alinhamentos políticos da guerra fria, o movimento de contra-cultura Provo e uma manifestação contra a proliferação de armas nucleares.

O Atentado tem algo de romance policial, com um mistério que queremos elucidar: o que exatamente aconteceu naquela noite? Quem podemos culpar pelas mortes sem sentido dos pais e do irmão adolescente de Anton? Mas também é uma reflexão sobre a guerra, sobre culpas e neuroses que persistem em uma sociedade por décadas.

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5 comentários

  1. Camila Navarro

    Não faltam bons livros holandeses bons e eu li um tão ruim… E de um autor que agora vejo todo mundo elogiando, confesso que fico sem entender. Acho que o país vai entrar numa repescagem ao final do meu projeto.

    1. Julia Boechat

      Eu só li um do Grunberg, mas gostei bastante também. Mas ele se passa na Suiça e no Oriente Médio, então também não é o que você está procurando.
      Adorei a idéia da repescagem, e recomendo muito esse porque ele passa pela história da Holanda no século XX, refletindo sobre temas importantes. Acho que você vai gostar muito!

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