Londres durante a Segunda Guerra: o bunker do Churchill

Como eu me interesso muito pela história da Segunda Guerra Mundial, um dos lugares que eu não podia deixar de visitar é o bunker do Churchill. Na verdade, bunker é uma palavra forte, embora seja como ele geralmente é chamado. Ele não tinha proteção anti-bombas, e por isso Churchill muitas vezes passava os bombardeios no seu escritório. Mas o Gabinete de Guerra era importante porque tinha muita da melhor tecnologia de espionagem da época, e foi onde o conselho de guerra inglês planejou sua estratégia durante a guerra, e onde ele podia conversar por telefone com líderes de outros países.

Churchill War Rooms Londres reconstrução

O plano original era levar o primeiro ministro para o interior do país, mas eles achavam que abandonar Londres seria um golpe enorme na moral dos ingleses. Então fizeram o Gabinete de guerra perto de Downing Street, onde fica o primeiro-ministro e lugar que virou metonímia para o governo da Inglaterra. Hiding in plain view, como os ingleses dizem.

Dentro do Gabinete, o calendário ainda mostra a data de 16 de agosto de 1945, o dia seguinte à derrota de Japão, o último dia em que o Gabinete foi ocupado. Ele só seria reaberto nos anos 80, já como museu.

Churchill War Rooms Londres avisos

Na sala dos mapas, você ainda vê os pinos que acompanhavam o movimentos das tropas pela terra e pelos oceanos. Essa sala era ocupada 24 horas por dia.

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As salas são cheias de telefones, mas eles são bem diferentes. Os pretos com fones verdes tinham uma tecnologia muito recente para a época, que fazia com que qualquer um tentando ouvir a ligação ouvisse apenas ruído branco. Ele demorava 20 minutos para ficar pronto para funcionar. Churchill falava com Roosevelt em um pequeno armário, que ele tinha dito para os funcionários que era seu banheiro pessoal.

Churchill War Rooms Londres quarto

No Gabinete também fica um pequeno museu dedicado à vida de Winston Churchill. É curioso que ele não era um político tão popular antes da guerra, e muitos outros políticos desconfiavam dele. Mas depois que o primeiro-ministro Neville Chamberlain abdicou, em 1940, Churchill foi visto como o homem certo para o trabalho. No entanto, ele não é nem de perto uma figura sem controvérsias, e o museu não toca nelas.

Gandhi chegou a dizer que ele era para Índia o que Hitler era para a Europa. Churchill, por sua vez, chamava os indianos de “um povo bestial com uma religião bestial”. Ele se recusava a ver pessoas de outras raças como merecedoras dos mesmos direitos que ele. Na Segunda Guerra, ele se declarou favorável ao que ele mesmo chamou de “bombardeios terroristas”, direcionados contra alvos civis na Alemanha. Ele era a favor de bombardear manifestantes pro-independência na Irlanda e de usar armas químicas nas colônias.

Mas ele é bem mais conhecido pela atuação na guerra, graças às hagiografias feitas por Hollywood. Seus discursos se tornaram famosos, e muitos de suas frases entraram no repertório popular. Três especialmente são muito conhecidos.

Seu primeiro discurso como primeiro-ministro foi aquele em que ele disse: Não tenho nada a oferecer senão sangue, fadiga, suor e lágrimas.” Depois houve o discurso conhecido como “We shall fight on the beaches”, em que ele disse “Nós continuaremos até o fim. Nós lutaremos na França, nós lutaremos nos mares e oceanos, nós lutaremos com confiança crescente e força crescente no ar, nós defenderemos as nossas ilhas a qualquer custo. Nós lutaremos nas praias, nós lutaremos nos terrenos de desembarque, nós lutaremos nos campos e nas ruas, nós lutaremos nas colinas, nós nunca vamos nos render.”

O chamado discurso “the finest hour” foi aquele em que ele falou: “Se nós falharmos, então o mundo inteiro, inclusive os Estados Unidos, inclusive tudo o que conhecemos e amamos vai afundar no abismo de uma nova Idade das Trevas, mais sinistra, e talvez mais prolongada, pelas luzes de uma ciência pervertida. Vamos portanto nos preparar para os nossos deveres, e saibamos que se o Império Britânico e a sua Commonwealth durarem por mil anos, homens ainda dirão: Essa foi a sua melhor hora”.

Ele também criou a expressão Cortina de Ferro para falar da divisão da Europa em duas áreas de influência, além de vários outros momentos de brilhante retórica. Mas ele não ficou por muito tempo no governo da Inglaterra no pós-guerra: ele perdeu as eleições de 1945, e passou a ser o líder da oposição. Em 1951, ele voltou a ser primeiro-ministro, mas seu governo foi marcado por crises internacionais, e ele teve uma série de derrames e sofreu pressões para renunciar. Mesmo após parte do seu corpo ter ficado paralisada, ele adiava a renúncia, que só aconteceu em 1955.

Churchill dizia que a história seria boa para ele, porque ele pretendia escrevê-la. Recentemente, quando a BBC promoveu uma votação dos ingleses mais importantes de todos os tempos, ele ficou em primeiro lugar, então talvez estivesse certo. No entanto, é sempre bom lembrar esse outro lado, sobre o qual ele não pretendia que nós escrevessemos.

Clique aqui para ler a primeira parte do post sobre Londres durante a segunda guerra, em que falamos dos vestígios da Blitz, os bombardeios alemães.

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