Como foi minha primeira FLIP

Eu sempre quis ir à Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Todo ano eu falava em ir, mas aí olhava as datas e via que o Festival coincidia com minhas provas finais da faculdade, no final de junho / início de julho. Esse ano finalmente consegui vir, e já quero voltar todos os anos.

Igreja de Santa Rita 4

A primeira providência que eu tomei foi de reservar uma acomodação, sabendo que elas costumam lotar nessa época do ano. Fiquei no Hostel Macabea, no quarto para oito pessoas, e um mês antes já não tinha muitos lugares vagos. Um dos motivos pelos quais o escolhi foi o de ter cozinha, já que Paraty já tem fama de ser cara, e nessa época fica pior. Pude fazer muitas refeições no albergue, e ajudou muito. Além disso, as donas do albergue era ótimas, super dispostas a ajudar os hóspedes com tudo, e me senti muito bem lá.

Depois, reservei a passagem. Como eu tinha milhas, fui até o Rio de avião e continuei de ônibus, pela viação Costa Verde. A passagem estava bem mais barata no site da própria Costa Verde do que em outros sites, que apareceram primeiro na busca, e na hora era só imprimir o bilhete na maquininha da rodoviária, tanto no Rio quanto em Paraty. A vista do ônibus para o costa do estado é muito bonita, e recomendo quem vá de ir do Rio para Paraty no lado do motorista e voltar no lado oposto.

Para comprar ingressos para a programação oficial, é necessário prestar atenção no site. Eles começam a ser vendidos com em torno de um mês de antecedência, e esse ano a inteira estava em 55 reais. Se você não conseguir comprá-los online, tem chance de conseguir comprar na hora, por causa das desistências. A bilheteria abre 15 minutos antes de cada palestra, mas dependendo a fila começa a se formar muito antes disso.

Dentro da Igreja na Flip

Esse foi um ano especial para a FLIP. Eles tiveram um orçamento de tempos de Temer, o menor desde 2010, e parecia até que a festa não ia acontecer. O padre Roberto Carlos Pereira deixou que as mesas redondas com os autores acontecessem dentro da igreja, decisão que foi coberta de polêmicas, mas que visava a ajudar a festa e a cidade de Paraty.

Eu não queria gastar dinheiro com muitas palestras, então vi a maioria no telão da praça principal, onde eles montam toda uma infra-estrutura para quem quer ver de graça.

Conceição Evaristo na Flip praça principal

A FLIP foi menor do que em anos anteriores, mas também foi mais intimista, menos comercial, e mais diversa. Pela primeira vez, teve mais autoras do que autores, e 30% autores negros. A luta pela igualdade deu o tom de várias mesas e também do depoimento mais emocionante, a fala de Dona Diva sobre o racismo, que viralizou.

Antes de ir, eu tinha visto a programação oficial e já sabia o que eu queria ver, e tinha uma noção ainda pequena de quão grande era a programação alternativa, a Off-FLIP. Mas o que mais me impressionou foi o clima da cidade, que ficava a cada dia mais cheia de eventos.

Programas Paraty
Programações, edições especiais e amostras grátis de livros da Flip

Eu cheguei em Paraty na quarta-feira em que os eventos começaram, com a apresentação de Lilia Moritz Schwarcz e Lázaro Ramos sobre o autor homenageado, Lima Barreto. A cidade ainda estava relativamente vazia, e ainda tinha uns gringos perdidos que tinham marcado a viagem sem saber o que estava acontecendo. Ela foi ficando a cada dia mais lotada, e no sábado mal dava para atravessar a rua sem esbarrar em uma dúzia de pessoas. Em todo quarteirão tinha vários artistas de rua se apresentando e vendendo arte.

Serenata flip Paraty

O que não é falar que tudo é perfeito. Um dia, ouvi vários gritos em uma esquina. Cheguei lá e vi um guarda tentando confiscar o artesanato de um cara, falando que ele não tinha licença para vender na rua. Uma advogada protestava alto que o guarda também não tinha os documentos para confiscar nada, e que ele tinha que consegui-los, não podia chegar com truculência. Centenas de pessoas cercaram o guarda filmando e gritando “devolve” até que ele desistiu e foi embora. Pouco tempo depois vi a mesma coisa: seis guardas levando a mochila de um gringo com tudo que ele tinha. Um advogado foi junto para acompanhar e um cara filmava, sem falar nada. O povo do meu albergue saiu na rua e começou a vaiar. Um guarda tirou um spray de pimenta e jogou nos olhos do cara que estava filmando, a poucos centímetros de distância. Depois passou na porta do albergue com o spray na mão, como se nos desafiasse a continuar gritando.

Vi protestos durante a FLIP sobre a forma como os artistas de rua são tratados pelos guardas municipais, e também sobre a falta de saneamento básico da maioria das casas da cidade, sobre a água que é cara e falta, e outras questões da infra-estrutura da cidade.

Água em Paraty

Espero que o que vem do turismo para a cidade sirva para melhorar a infra-estrutura, e torná-la melhor para os locais, para que possamos curtir essa festa incrível por muitos anos.

Clique aqui para ler todos os posts que já saíram sobre o Brasil.

4 comentários

Deixe uma resposta