Volta ao Mundo em Filmes: Senegal – A Negra de…

O filme A Negra de…, de Ousmane Sembène, é um clássico do cinema senegalês, e um dos primeiros filmes de um autor sub-saariano a receber atenção mundial.

Ele conta a história de Diouna (Mbissine Thérèse Diop), uma mulher que se muda do Senegal para Antibes, no sul da França, para continuar a trabalhar para um casal francês (Anne Marie Jelinek Robert Fontaine), referidos somente como Monsieur e Madame. Ela acha que vai conhecer a França, mas desde o início se vê presa no apartamento. No Senegal, ela cuidava das crianças, e quando ela chega na França ela descobre que agora deve fazer de tudo no apartamento, sem descanso e pela maior parte do tempo sem salário.

Vemos em flashbacks como ela começou a trabalhar para o casal, ainda no Senegal, o que foi tido como a sorte grande na comunidade pobre em que vivia. Com o primeiro salário, ela compra para eles uma máscara como agradecimento, que eles colocam como decoração na parede. Afinal é um presente “autêntico”, de uma “africana de verdade”. Ela fica grata de receber as roupas antigas da patroa, e por ter trabalho.

Para o casal, também, a vida era diferente no Senegal. Em Antibes ele é um funcionário modesto, enquanto na África eles podiam viver como grande senhores, em uma casa enorme com vários funcionários. No Senegal, eles nunca comiam os pratos típicos, agora eles pedem que Diouna os prepare para os convidados. Monsieur e Madame perderam alguns dos privilégios que a tinham na colônia, mas ainda acham que ela devia ficar grata por tudo que fizeram por ela, dando roupas velhas e levando-a para trabalhar na França. Se eles fossem brasileiros, provavelmente diriam que ela era quase da família.

Com isso, eles são cegos à crescente alienação e ao desespero de Diouna. Esse é um filme cheio de simbolismos, começando pela máscara, importante em vários momentos, e não é a toa que causou tanta sensação na época do lançamento. 

Deixe uma resposta