Volta ao Mundo em Filmes: Albânia – Virgem Jurada

O filme que eu vi para a Albânia é o Virgem Jurada, de Laura Bispuri. Ele foi inspirado em um romance que tem o mesmo nome, da albanesa Elvira Dones. Uma co-produção albanesa e italiana, ele começa com a partida de Mark da Albânia e sua chegada à Itália. Ele chega a casa de uma parente, Lila, que depois de alguma hesitação se apresenta como sua prima, e lá ele recebe um quarto para passar a noite.

O filme corta e nos vemos décadas antes, na Albânia, onde um camponês das montanhas carrega uma adolescente no colo. Ele a traz para a sua casa e conta que seus pais foram assassinados. A menina, Hana, passa a viver como parte da família, tendo a companhia da filha dele, Lila.

Em um momento no filme somos apresentadas às virgens juradas, mulheres que tomam um voto de celibato e a partir daí podem se vestir como homens, exercer trabalhos masculinos, beber, fumar, ter uma arma de fogo e ser o chefe de uma casa, vivendo com a mãe e irmãs. Essa prática também é parte do Kanun, o código que também exige as vinganças retratadas por Ismail Kadaré. Elas também foram o tema de uma série de fotografias feitas por Jill Peters.

A partir desse momento já fica bem claro que Hana se tornou Mark, mas ainda não sabemos o motivo pelo qual ela escolheu esse caminho. Talvez para escapar as restrições tradicionalmente impostas às mulheres na região, e elas são muitas. Em uma cena, vemos uma mulher sequestrada e casada à força. Em outra, vemos o pai de Lila falando com a filha, para a qual ele arranjou um casamento, que ele colocou uma bala em seu dote. Se o marido tiver uma reclamação, ele explica, pode usar a bala. Talvez, também, dar um filho para o casal que só tinha meninas, em uma sociedade em que isso era tão crucial, fosse o único modo como ela podia agradecê-los por ter cuidado dela.

Um filho nessa cultura é o único que pode herdar os bens dos pais ou que pode se vingar de uma ofensa. Uma viúva sem filhos deve voltar para a sua família de origem, permanecer na família do marido como uma criada ou se casar novamente. Ter uma filho ou uma filha que se torna uma virgem jurada significa poder ficar na própria casa. O juramento as liberta em alguns sentidos, mas as limita em outros: tornar-se uma virgem jurada significa abrir mão de desenvolver uma relação amorosa ou sexual.

Uma vez na Itália, Hana / Mark é confrontada justamente com tudo que ela negou para viver assim. Ela desenvolve uma relação de cumplicidade com Jonida, a filha adolescente de Lila, e começa a explorar lados da sua feminilidade e do seu corpo que ela teve que esconder por décadas. Quando ela faz perguntas sobre sexo, vemos que é a primeira vez que ela pode fazê-las.

Esse não é um filme sobre uma pessoa transgênero, pelo menos não como entenderíamos isso hoje em dia. Hana escolheu viver como um homem para ganhar direitos em uma cultura machista e violenta. Como resultado dessa obrigação, ela não se sente completamente confortável em pele alguma. E o que vemos é uma primeira tentativa de explorar isso.

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