Volta ao Mundo em Livros: Canadá – Alias Grace

Chegou a vez de um livro Canadense, e não resisti a ler um romance de uma das minhas escritoras preferidas, Margaret Atwood. E foi quando descobri que ela não só é a autora mais famosa do país, mas teve um papel enorme em divulgar a literatura nacional. Eu acho que vários livros dela se encaixariam aqui perfeitamente e poderiam contar um pouco sobre o Canadá, mesmo se eu tentasse evitar as distopias. Mas no final fiquei com Alias Grace, um romance histórico que é um dos meus preferidos dela.

Alias Grace é baseado em uma história real, a do assassinato de  Thomas Kinnear e Nancy Montgomery no Canadá em 1843. Duas pessoas foram condenadas pelo crime, James McDermott, que foi condenado à morte, e Grace Marks, que passou a vida na cadeia pelo crime, e que tinha apenas dezesseis anos quando ele aconteceu. Ela se tornou uma figura famosa já na época, em que os jornais a retratavam como uma pobre mocinha inocente ou como uma sedutora demoníaca e calculista que tinha convencido McDermott a cometer o crime – como uma santa ou uma puta, como frequentemente se faz com mulheres.

Atwood usa a figura de um alienista, um psicanalista avant la lettre que visita Grace na cadeia para ouvir a sua história, para contar a história. Grace tinha contado várias versões diferentes do que tinha acontecido, e sempre tinha clamado não se lembrar do crime em si. O alienista clama que ele vai conseguir dizer se essa amnésia é real ou um artifício. Grace começa a contar a história de sua vida, desde a infância miserável na Irlanda, a emigração para o Canadá, onde ela perde a mãe no barco, e como ela começou a trabalhar como criada em casas de família aos doze anos, suportando toda forma de abuso.

Enquanto Grace fala, ela tece colchas com padrões intrincados, que também dão nome aos capítulos do livro. Para mim, as colchas podem dar uma mostra da criatividade e das habilidades das mulheres da época, sufocadas porque ela só podiam se ocupar do doméstico. Mas acima, de tudo, a colcha funciona como uma metáfora para a história da Grace, e talvez para a História em si. Quando ela pensa na sua vida, ela pensa em tudo de forma desordenada, mas ela conta a história para o médico como uma narrativa ordenada, cronológica. Grace tece tramas enquanto tece tramas. Mas ele só reconhece os padrões que ele conhece – ele fica chocado de ouvir o tanto de vezes em que ela foi assediada pelos patrões, algo que ela acha óbvio. É como se o romance perguntasse se as histórias são comunicáveis, especialmente a daqueles que foram sempre excluídos – mulheres, imigrantes, pobres. Se a gente pode realmente construir a história pelos fragmentos que a gente encontra.

Por isso, acho que esse romance representa tão bem o Canadá, e fico com vontade de ler todos os romances da Atwood.

Deixe uma resposta