Volta ao Mundo em Filmes: Camboja – A Imagem que Falta

Em A Imagem que Falta, filme que escolhi para representar o Camboja no projeto, Rithy Panh fala mais uma vez do genocídio do Khmer Vermelho. Mas dessa vez, ele faz um projeto mais pessoal, que trata da própria infância.

O filme é feito com figurinhas de argila, que tentam suprir as ausências, a imagem que falta dos anos cruciais de 1975-1979, quando o que estava sendo filmado era propaganda de Pol Pot. Além disso, tentam suprir uma ausência mais pessoal, da infância do próprio diretor. O filme já foi descrito como um documentário, mas não é bem isso. Há sem dúvida um desejo de documentar o que passou, de não esquecer, mas em um tom mais pessoal, próximo das memórias.

Ao contar a história de sua infância nos campos do Camboja, ele não quer, como ele diz, estabelecer um culto à memória, mas compreender o que passou. Nos campos de reeducação, onde eles devem fazer trabalhos forçados brutais e sofrer com doenças e fome, eles seriam supostamente purificados para a nova sociedade. Ao invés disso, a maior parte de sua família morreu nos campos.

No início do filme, as figuras de argila são mulheres carregando frutas, crianças brincando com cachorros. Depois se tornam os soldados que chegam na capital com armas para levá-los para os campos. Depois, se tornam figuras com os ossos à mostra, os rostos emaciados.

O diretor alterna figurinhas e filmes de arquivo, os momentos mais sombrios com lembranças felizes, como a de ir ao cinema, antes que eles fossem destruídos. Não só os cinemas, mas quase todos os filmes produzidos no Camboja nos anos 60 e 70 também foram destruídos.

A narração em francês foi escolhida por Panh como homenagem ao pai, que amava poesia francesa em um lugar onde ser um intelectual era uma sentença de morte. Anos depois, no campo, ele preferiu morrer de fome a continuar vivendo comendo ração de animais.

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