O Museu Rodin e a Coleção Camille Claudel

Em 1909, o poeta Rilke disse ao amigo Rodin, no auge de sua fama como escultor, que ele deveria conhecer o Hotel de Biron. O prédio, ele disse em sua carta, era cercado por um enorme jardim murado, em que existiam até coelhos, e nem parecia ser no centro da cidade.

Rodin ficou tão impressionado com o prédio que acabou fazendo planos para montar aqui um museu com suas esculturas, que deveria abrir após sua morte. Os motivos que impressionaram Rilke e Rodin ainda estão aqui para os visitantes de hoje em dia, com um bônus: hoje o enorme jardim tem esculturas de Rodin e um restaurante. Como a primeira vez que eu fui no museu foi em um dia quente de primavera, aproveitei para sentar em uma espreguiçadeira e tomar um sorvete.

No museu você pode ver não só esculturas de Rodin, mas também de Camille Claudel e pinturas de Monet, Renoir e Van Gogh que faziam parte da sua coleção pessoal.

Ao entrar no museu, a primeira estátua que eu vi foi O Pensador, a mais famosa de Rodin. Tem uma versão grande, em bronze, e um modelo pequeno que a mostra no contexto para o qual ela foi pensada. Ela seria parte de um grupo imenso chamado Os portões do inferno, todo feito com histórias tiradas do Inferno de Dante. Rodin fez alguns modelos, mas nunca conseguiu terminar os portões na escala que planejava.

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Outra de suas esculturas mais famosas, O Beijo, também faz parte dos portões. Ela não foi pensada como um beijo anônimo, mas como uma representação do romance entre Francesca da Rimini e Paolo Malatesta, na Itália do século XIII. Francesca era casada com Giovanni Malatesta, irmão de Paolo, mas os dois se apaixonaram lendo sobre Lancelot e Guinevere, parte da lenda do Rei Artur. Eles foram assassinados por Giovanni, e Dante os colocou no Inferno pelo adultério.

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Várias figuras nos portões do Inferno são representações da história dos dois, como Paolo e Francesca e Fugit Amor. Outra ainda, A Eterna Primavera, acabou ficando alegre demais, e não foi incluída no Portão.

Do lado, estava Os Burgueses de Calais, uma das mais polêmicas. Durante a Guerra dos Cem Anos, o rei Eduardo III da Inglaterra sitiou a cidade de Calais e ordenou um massacre. Ele concordou em poupar a população se seis homens se oferecessem para serem executados no lugar de todos.  Seis dos homens mais poderosos da cidade se ofereceram, mas a rainha Philippa de Hainault pediu clemência por eles, então eles foram liberados pelo rei.

A cidade queria há muito tempo homenagear essas seis figuras, mas eles ficaram muito decepcionados com a escultura de Rodin. Eles esperavam a escultura de seis heróis perfeitos, e receberam de seis homens descalços e amedrontados. Rodin achava que era isso que os tornava heróicos, o fato de que eles eram homens comuns, e mesmo assim estavam dispostos a morrer. Por muito tempo ela foi polêmica, mas agora é uma das esculturas mais amadas de Rodin. Afinal, a sessão da tarde me ensinou que quando você tem medo é a única hora em que você é corajoso de verdade.

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O museu também tem a maior coleção do mundo das esculturas de Camille Claudel. Ela foi uma escultora criativa e inovadora, no entanto na maior parte das referências que se vê por aí, ela aparece só como “a amante e pupila de Rodin”. Claro que Rodin influenciou muito a arte de Camille, mas o que pouca gente reconhece é que ela também influenciou a dele.

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A Valsa, Camille Claudel

A história de Camille é bem triste. Depois de um começo de vida promissor, em que seu talento foi reconhecido por um grande mestre, ela passou por inúmeras dificuldades. Depois que seu pai morreu, ela parou de receber apoio financeiro da mãe e do irmão, que não apoiavam sua carreira. Ela muitas vezes dependia de Rodin para conseguir esculpir, já que as matérias primas eram tão caras, e uma mulher fazendo esculturas de nus era pouco provável de receber patrocínio oficial. Homens podiam saber sobre o corpo humano e desejo, mas ela não. Muito da vida dela nesse período é controverso. Tem gente que fala que Rodin fez tudo o que ele podia para ajudá-la, outros falam que ele tinha ciúmes do talento dela e fez o que pode para sabotar a sua carreira, outros dizem que quem fez isso foi seu irmão, o poeta Paul Claudel, que teria dito que ele era quem era o gênio da família.

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Em 1905, ela destruiu muitas das próprias estátuas e começou a mostrar sinais de paranóia. Por anos, ela viveu no seu estúdio, e depois seu irmão a colocou em uma instituição. Poucos anos depois, um médico mandou uma carta para a família falando que não havia motivos pelo qual ela devesse viver em um hospital, e que ela devia voltar para casa. Apesar disso, ela viveu lá por 30 anos, até sua morte. Seu irmão Paul a visitou apenas sete vezes em todo esse tempo, e também destruiu muitas das duas esculturas que eram consideradas eróticas demais.

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A Idade da Maturidade, uma estátua em que muitos viram uma representação de sua relação com Rodin

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O fato de que ela foi interpretada no cinema por duas das minhas atrizes preferidas também me fez ter muito interesse por ela. Em 1988, ela foi interpretada pela Isabelle Adjani no filme Camille Claudel, em que se conta a história dela a partir do encontra com Rodin. Em 2013, a Juliette Binoche a interpretou em Camille Claudel 1915, que fala dela no início do período em que ficou internada.

Clique na imagem para ler mais sobre minha viagem para a França.

6 comentários

  1. Luisa

    Também adoro a Camille Claudel, e pelos mesmos filmes. Legal contar a história dela!

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