Por que me decidi a fazer algo diferente no meu primeiro mochilão

No final de 2012, eu estava planejando o meu primeiro mochilão para a Europa. Eu já tinha viajado para fora só duas vezes, para Paris com família e mala grande e para Florença para fazer um curso de italiano com uma paradinha de cinco dias em Roma. Dessa vez, eu queria muito ir a Amsterdam e Londres e já tinha decidido voltar a Paris porque tinha uma prima morando lá. Então meu roteiro ficou assim.

Amsterdam – 10 dias

Maastricht – 2 dias

Paris – 10 dias

St. Malo e Mont St. Michel – 3 dias

Londres – 2 semanas

Foi um roteiro bem diferente do clássico mochilão de tentar visitar a Europa toda de uma vez, com 1 país diferente a cada dois dias, e foi muito melhor para o que eu queria.  Quando falei com algumas pessoas sobre esse roteiro, muita gente falou que ia morrer de tédio em Amsterdam, que não tinha o que fazer lá depois de três dias, que eu já conhecia Paris e devia colocar menos tempo lá, que dava para conhecer o Reino Unido todo em duas semanas, que eu era boba e podia conhecer metade da Europa.

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Amsterdam com neve

Uma olhada no menu e vocês podem ver que depois eu conheci muitos outros lugares na Europa, mas na época eu não sabia que teria essas oportunidades depois. Pelo que eu sabia, essa poderia muito bem ter sido minha única viagem grande na vida. Mas nas viagens curtas que eu tinha feito antes, o que eu mais tinha gostado era de descobrir lugares minúsculos e pouco turísticos, de fazer people watching. Eu tinha preguiça desse modelo de turismo de bater-cartão, em que você tira uma selfie em frente a Mona Lisa, uma na Torre Eiffel  e uma no Arco do Triunfo e pronto, fechou Paris, pode passar para a próxima cidade.

Vejo tanta gente que fica em fóruns na internet perguntando “quanto tempo na cidade x para ver tudo?” e alguém respondendo um roteiro pré-fabricado de precisa de 4 dias em Paris, 5 em Londres, 2 em Veneza, 2 em Florença para ver com calma, 4 em Roma. Eu fiquei duas semanas em Florença e não vi tudo o que eu queria, nem com calma nem sem. Depois das duas semanas em Londres passei mais um mês, alguns anos depois, e voltaria sem pensar duas vezes. Em Praga, passei dois meses ao invés dos dois dias que recomendam. Esse tempo só é o bastante para ir em todos os pontos turísticos mais óbvios de uma cidade, nem um a mais nem um a menos.

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Île-Saint-Louis em Paris

Ter mais tempo nas cidades me deixou aproveitá-las sem culpa. Três horas de fila para ver o quarto da chuva no Barbican? Sem problemas. Morta de cansaço? Hoje vou dormir um pouco mais. Conheci alguém legal que quer fazer algo que não estava nos meus planos? Por que não? Gostei desse café, quero ficar aqui por algumas horas? Perfeito.

Eu não estava com medo de morrer de tédio em lugar nenhum, porque algo que percebi sobre as grandes cidades da Europa é que não tem uma que não tenha meia dúzia de day-trips interessantes. Se eu cansasse da cidade, adicionaria mais day-trips e pronto.

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Bath, que eu visitei a partir de Londres

Por outro lado, também decidi que não tinha obrigação de ver nada. Pontos turísticos ligados à monarquia, como a troca de guardas, não me interessam. Os onipresentes museus de cera não me interessam. Então não fui ver. Ahhh, mas aí você não conheceu Londres de verdade, né? Como dizem os ingleses, I couldn’t be fucked.

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Camden Lock em Londres

Não to querendo entrar naquelas discussões de eu-sou-melhor-mochileira-que-você, cada um tem seu estilo e suas preferências. Quero postar isso só para falar que existem jeitos diferentes de fazer mochilão, seja devagar, rápido, com mala, com mochila, nos lugares mais famosos, nos lugares mais alternativos. O legal é justamente descobrir o seu estilo, e não seguir aquele roteiro pronto da internet para fazer o que todo mundo faz.

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