Cultura de cafés em Viena: um patrimônio reconhecido pela UNESCO

Andando por Viena, não dá para não notar a quantidade de cafés por todo lado. Eles tem um valor cultural incrível na cidade e mesmo um papel em sua história.

O ponto máximo da cultura dos cafés foi no século XIX, quando pessoas como Gustav Klimt, Arthur Schnitzler, Sigmund Freud e Lev Trotski eram vistos frequentemente nos cafés de Viena. Por ser a época do Império Austro-Húngaro, o hábito do café se espalhou para lugares como Trieste, Praga, Budapeste, Sarajevo, Lvov ou Cracóvia, hoje localizados em seis países diferentes.

O Stefan Zweig dizia que era por causa dos cafés que Viena se tornou uma cidade cosmopolita, já que eles eram um espaço democrático, aberto a qualquer um que pudesse pagar um cafézinho. Você poderia sentar lá por horas e conversar, jogar cartas, ler os jornais, debater os acontecimentos do mundo.

Talvez por isso a UNESCO tenha recentemente reconhecido os cafés de Viena como parte do patrimônio imaterial da cidade. Segundo eles, os cafés são “um lugar onde tempo e espaço são consumidos, mas apenas o café aparece na conta”.

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O cerco turco à Viena, de Tyssill no Museu de Viena. Crédito: wikicommons

Diz a lenda que quando os turcos foram forçados a levantar o segundo cerco de Viena, em 1683, eles deixaram para trás várias sacas de café. Os austríacos queriam queimá-las, achando que devia ser ração de camelo. Mas o rei polonês Jan III Sobieski, que tinha vindo ao auxílio de Viena, entregou as sacas para um oficial chamado Jerzy Franciszek Kulczycki, que fez várias tentativas de adicionar água quente e açúcar aos grãos até descobrir como fazer um café perfeito. Logo depois ele abriu o primeiro dos cafés de Viena.

Na verdade, o primeiro café de Viena foi aberto cerca de um ano antes do de Kulczycki, por um armênio chamado Johannes Theodat (originalmente  Owanes Astouatzatur). Mas o fato é que o café se espalhou bem rápido por Viena.

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Tente entrar em um e pedir um Kleiner Scharzer (um espresso), ou um Mélange (café com leite e espuma de leite, como um cappuccino), Eispänner (espresso com chantilly), Turkische (café não coado, à moda turca).

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Crédito: Local life

Café Central

O Café Central é talvez o mais célebre e o mais grandioso, com seu interior de colunas e arcos. Durante uma época, ele ficou conhecido como a escola de xadrez, por causa do número de gente que vinha aqui jogar. Uma anedota muita famosa do início do século XX foi quando Victor Adler disse que a primeira guerra acabaria por provocar uma revolução na Rússia e seu interlocutor, o conde Berchtold, ministro das relações exteriores, respondeu: “E quem vai liderar essa revolução? Talvez o sr. Bronstein, sentado ali no Café Central?”

O Sr. Bronstein depois usaria vários pseudônimos, passando para a história com um deles, o de Lev Trotski. Outro dos habitués do café, Vladimir Ulianov, seria mais conhecido como Vladimir Lenin.

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Café Sacher

O Café do Hotel Sacher é famoso pela torta do mesmo nome, de chocolate com uma camada de geléia de damasco. Geralmente, as pessoas em Viena pedem suas fatias met schlagen, com chantilly. Você encontra várias versões na Europa Central (eu comi até sorvete de Sacher em Zagreb), mas no Café Sacher você pode provar a original, com selo em cima e tudo. Foi uma das melhores tortas de chocolate que já comi!

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Café Museum

O Café Museum tem esse nome pela proximidade com o Kunsthistorisches, e era o preferido de Klimt e Egon Schiele, talvez pelo mesmo motivo. Hoje ele é muito conhecido pelas leituras que escritores sempre promovem lá. Não consegui descobrir se elas são só em alemão, se forem, é um motivo a mais para eu criar vergonha e aprender.

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Café Hawelka

O Café Hawelka foi aberto em 1934 por Leopold Hawelka, que recebeu os clientes na porta até a sua morte, em 2011. Hoje o lugar é administrado pelo seu filho. Esse café também foi muito popular com escritores, principalmente nos anos 60 e 70.

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