Vestígios do Bairro Judeu de Sevilha

Durante séculos, a Espanha foi multicultural. Grande parte do país estava sob o califado Omíada, onde os povos do livro – judeus, cristãos e muçulmanos – eram respeitados. Depois da chamada Reconquista, a situação dos judeus e muçulmanos piorou muito. A perseguição forçou conversões em massa, e depois provocou as expulsões de populações inteiras e massacres. Esse é um dos motivos pelo qual a carne de porco tem uma importância tão grande na cultura espanhola – ela era oferecida como teste para ver se a pessoa era secretamente de uma dessas religiões.

Em Sevilla, a população judia morava no bairro que não surpreendentemente ficou conhecido como a Judería. Algumas décadas depois que Sevilha foi tomada pelos católicos, a Judería foi queimada, e muitos judeus se converteram ou buscaram refúgio em Granada. Em 1483, quando os judeus foram expulsos, a maioria dos seus edifícios foi derrubada ou transformada. Por isso temos curiosas igrejas cujas torres costumavam ser minaretes, ou que tem formato de sinagogas. Muitos já foram todos os três, o que me faz suspeitar que em breve eles vão se converter ao fanatismo religioso do século XXI e virar Apple Stores.

Bairro Judeu Sevilha sinagoga-mesquita-igreja

A igreja mais famosa dessas é a Santa Maria la Blanca, curiosamente também o nome de uma Sinagoga convertida em Toledo. Hoje pouco resta dessa época, mas você pode ver no lado da igreja o que costumava ser a entrada principal.

A Iglesia de San Tomé também costumava ser uma sinagoga, e pedaços de sua construção ainda estão expostos no museu Sefardi em Toledo.

Bairro Judeu Sevilha Santa Maria la Blanca

A Plaza de Santa Cruz era o local de outra sinagoga transformada em igreja, mas ela foi demolida durante a invasão de Napoleão à Espanha. Tudo que resta dela é o chão, que hoje é o chão da praça.

A praça das cruzes é o lugar onde judeus foram perseguidos e massacrados na noite de 5 de junho de 1391.

Bairro Judeu Sevilha praça das cruzes

Andando pela Judería, você vai encontrar vários nomes que se relacionam com a cultura judaica da época. A Calle Susona é chamada pelos locais de Calle de la Morte, e tem a ver com uma lenda sobre a mulher belíssima chamada Susona, a filha adolescente de um ancião judeu. Ele odiava os cristãos por sua perseguição, mas sua filha, obviamente, apaixonou-se por um cristão.

Ao descobrir que seu pai tinha um plano para emboscar alguns cristãos, ela contou ao seu amante, que sobreviveu. Seu pai foi preso e morto. Cheia e de vergonha  culpa, Susona se enforcou. Ela pediu que seu crânio fosse exposto ao público como aviso a outros do mal que suas ações causaram. Agora no lugar fica uma imagem do seu crânio.

Dois trechos do muro que cercava a Judería ainda existem, na rua Fabiola e na rua Levies. Além deles, você pode encontrar o que restou do antigo cemitério judaico em um lugar nada convencional. Há um estacionamento na Plaza de los Refinadores. Desça até o nível -1 e procure a vaga número 9. O fundo dela é de vidro e você pode ver um túmulo. Tive que me espremer atrás de um carro para ver direito, e ficou até o reflexo dele na foto.

Se você procura por mais informações sobre a história do bairro, pode visitar o Museu judaico. A coleção é pequena mas faz um bom trabalho em manter vivas tradições e lendas. Se você quer apenas passear, também é um ótimo lugar com ruas labirínticas que te ajudam a fugir do sol de Sevilha. Se procura um show de flamenco, alguns dos lugares mais famosos da cidade, como a Casa de la Guitarra e a Casa de la Memoria, são dentro do bairro.

Leia aqui meu outro post sobre Sevilha, em que eu conto sobre minhas visitas ao Alcázar, à Catedral, à Plaza de España e ao Metropol Parasol. Ou então clique para ler meus outros posts sobre a Andalusia, com minhas visitas à Alhambra e ao resto da cidade de Granada, à Córdoba e à Ronda.

Clique na imagem para ler mais sobre a Espanha.

7 comentários

  1. Susana

    Cara, sério? Você se espremeu atrás de um carra para ver a vaga número 9 do estacionamento? Como você descobre essas coisas?

    1. Julia Boechat

      Oi, Susana, tudo bom? Faço muita pesquisa antes de ir e no lugar mesmo. Essa informação eu descobri no museu judaico de Sevilha.

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